Redução de açúcar nos alimentos é pontual e precisa de complementos, dizem especialistas; veja metas
Uma redução gradativa na quantidade de açúcar foi acordada entre o Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e associações produtoras ligadas à indústria dos alimentos. A proposta é reduzir até 33,8% do açúcar em refrigerantes, até 32,4% para bolos, e até 10,5% para os achocolatados.
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Apesar dos percentuais expressivos divulgados pelo governo federal, a redução atinge de forma distinta cada marca e produtos bastante conhecidos do consumidor não necessariamente precisarão reduzir a concentração do ingrediente (veja mais abaixo).
Segundo especialistas ouvidos pelo G1, a medida é um avanço, mas é pontual. “O Brasil é o quarto país que mais consome açúcar no mundo. Foi uma tentativa do governo de controlar, assim como ele tentou com o sal também. A redução equivale a 1,5% da ingestão total de açúcar para as pessoas, então, se a gente pensar ainda é pouco”, afirma o endocrinologista Renato Zilli, do hospital Sírio Libanês, as metas são “um começo”.
O acordo busca contribuir no combate a doenças associadas ao consumo do açúcar e a obesidade. Os dados mais recentes, de setembro deste ano, apontam que 22% da população é obesa. O brasileiro, segundo comenta o ministério, consome 50% a mais do que a recomendação da Organização Mundial da Saúde – tem uma média de ingestão de 80 gramas de açúcar por dia.
A meta é chegar a uma redução de 144 mil toneladas de açúcar nos próximos 4 anos em bolos, misturas para bolos, produtos lácteos, achocolatados, refrigerantes, e sucos, entre outros produtos
As associações se comprometem a realizar estudos para avaliar a possibilidade de uma nova programação para a redução gradual do açúcar nos quatro anos seguintes a 2022. Elas também devem avaliar a inclusão de novas categorias para o projeto com base em evidências científicas.
O acordo diz, também, que não haverá transferência de recursos por meio do termo de compromisso. Cada órgão e empresa deverá arcar com as próprias despesas.
A estratégia é suficiente?
Cada produto disponível no mercado por categoria tem uma quantidade diferente de açúcar. O ministério divulgou a porcentagem máxima que poderá ser reduzida. No caso dos refrigerantes, cerca de 30%. A Coca-Cola, um dos principais produtos da categoria, tem 11g/100ml. Ou seja: até 2020 não precisará rever o índice de açúcar.
“Isso (o acordo) não vai estimular o consumo correto e mais saudável. Tem países como o México que sobretaxam o refrigerante. Com esse tipo de medida, como a dessa semana, você reduz uma quantidade muito pequena da quantidade de açúcar. É uma medida, é muito pouco, mas é alguma coisa”, explicou Zilli.
O Reino Unido, campeão da taxa de obesidade na Europa Ocidental, também aumentou a taxação sobre bebidas açucaradas. O preço da Coca-Cola subiu 40%.
“Além da redução do açúcar dos alimentos, seria importante reduzir o preço dos alimentos mais in natura. Temos que ter um aumento da oferta para as pessoas dos produtos realmente saudáveis”, disse o endocrinologista Renato Zilli.
Para a nutricionista Gabriela Cilla, outro ponto que ainda precisa ser discutido é a educação nutricional desde cedo.
“É a ação do governo é um pouco desesperada. Acho que temos que tomar iniciativa. O ideal seria que todo mundo soubesse quantos gramas de açúcar comem, soubesse ler um rótulo. Isso é educação nutricional. Por isso, a decisão do governo não é suficiente, mas já é alguma coisa”.
Segundo ela, a proposta de mudar e esclarecer os rótulos dos alimentos é uma medida complementar que aumenta a eficiência da medida anunciada pelo Ministério da Saúde.
“O problema não é só a quantidade. Eu posso comer uma bolacha recheada. O problema é quantas bolachas recheadas que você consome. As pessoas não sabem a quantidade de açúcar que elas comem realmente”.