Mentir sobre saída do emprego, salário turbinado, vagas que não existem: veja informações falsas mais comuns no mercado de trabalho
Empresas e candidatos podem mentir no mercado de trabalho. Por um lado, as companhias podem inventar vagas para sondar como está o mercado de trabalho e as qualificações dos candidatos. Por outro lado, os profissionais fazem de tudo para fisgar a vaga e sair do desemprego, nem que para isso precisem turbinar o salário anterior ou inventar qualificações.
De acordo com Lucas Oggiam, gerente executivo da Page Personnel, consultoria global de recrutamento para cargos de nível técnico e suporte à gestão, não é só nas campanhas eleitorais que as informações falsas são estratégias de concorrência. O mercado de trabalho também registra esse comportamento, com características estratégicas similares. Candidatos, empresas e políticos podem mentir por razões idênticas: omitir deslizes de conduta, ocultar desconhecimento sobre temas específicos, melhorar a imagem perante públicos diferentes, aumentar as reais qualificações ou os níveis de experiência.
“Mas, na política e na carreira, quando a informação falsa é descoberta, o efeito colateral pode destruir ou ajudar a derrubar tudo o que foi erguido sob bases duvidosas”, alerta.
Lucas Oggiam compilou 5 informações falsas comuns no recrutamento de profissionais em mais de 10 especializações de mercado, como engenharia, varejo e finanças:
Vagas falsas: anúncios para colher dados ou ‘mapear’ o mercado
Segundo Oggiam, em momentos de desemprego em alta, essa prática tem sido comum. Algumas empresas criam anúncios de vagas na internet que não existem. O intuito é apenas mapear o mercado, entender como está a demanda, quanto os profissionais estão pedindo de salários e benefícios. “Muitas vezes isso é feito de forma relativamente inocente, mas não é uma prática aceitável. Um anúncio de emprego deve, em primeiro lugar, oferecer uma oportunidade”, diz.
Segundo ele, essa prática de sondar o mercado deve ser feita com o auxílio de uma consultoria especializada, ou de plataformas online com banco de currículos. Há também um risco maior com vagas falsas quando alguns aproveitadores têm a intenção de obter informações pessoais dos candidatos projetando eventuais golpes ou vender esse banco de dados para empresas.
Ele recomenda, ao receber vagas por e-mail ou WhatsApp, checar a procedência da empresa, se há divulgação em outros portais e até entrar em contato com a companhia para verificar a autenticidade das informações.
Salário turbinado: negociando para um teto maior
Alguns candidatos turbinam o salário das experiências anteriores – isso é bastante comum em vagas de regime pessoa jurídica (PJ) – onde se torna mais difícil a comprovação dos rendimentos, segundo o gerente executivo da Page Personnel.
“Não há nenhum problema em buscar melhorar a expectativa de ganhos, isso é universalmente praticado. O problema é quando o candidato, na ânsia de melhorar sua condição, pode ser confrontado pelo RH, o que certamente vai gerar algum grau de desconforto”, diz Oggiam.
A saída, segundo ele, é abrir o jogo sobre o salário real e explicar o porquê deseja e precisa ganhar mais. “É simples e mais profissional.”
Saídas fantasiosas: mentiras sobre as razões de ter saído do emprego
Para Oggiam, é compreensível que um candidato não queira expor problemas e desencontros de experiências anteriores no novo trabalho. Mas o problema é quando essa omissão de informação impacta diretamente em alguma exigência técnica ou comportamental para a nova posição.
“Assim como na questão salarial, vale muito mais ser franco e explicar os reais motivos de ter largado um trabalho ou ter sido despedido e argumentar o quanto isso o fez crescer e melhorar, pensando na nova oportunidade. É uma questão de foro íntimo, mas a omissão pode custar um preço caro, incluindo quebra de confiança ou mal-estar, a partir do momento que alguém saiba ou descubra a outra versão da história”, diz o recrutador.
Qualificação além do real: inventando ‘senioridade’
Segundo o recrutador, pode-se pensar que é normal promover as próprias habilidades, elevando um pouco o nível real diante de uma nova chance de trabalho.
“Promover é uma coisa, mentir ou ultrapassar o razoável é outra. Em pouco tempo os gestores vão perceber que a pessoa não tinha a experiência exigida pela vaga, e isso certamente vai gerar desgaste. A empresa investe dinheiro na captação de talentos. É óbvio que profissionais de todos os níveis hierárquicos vão se projetar diante de uma nova chance, mas isso não pode de forma alguma alterar o nível de conhecimento ou a experiência adquirida. A conta sairá cara”, explica.
Oggiam afirma que é válido incorporar ao currículo viagens, cursos online, palestras, experiências de contato com influenciadores e profissionais consagrados do mercado. Mas descrever qualidades que nunca foram testadas ou “se vender” com uma experiência jamais vivida são práticas que vão gerar problemas.
Certificados e projetos duvidosos: quando comprovações não batem
Lucas Oggiam alerta: inventar certificados, omitir informações sobre a carga horária real de cursos, extensões ou experiências no exterior são mais comuns do que se imagina. Além da distorção em termos de experiência, há a presunção de que um certificado falso ou a suposta participação em um projeto que não condiz com a verdade vão ajudar na escolha da empresa na hora da contratação.
“A mentira ou distorção pode até ajudar nas palavras-chave do currículo, mas não vai sobreviver às entrevistas presenciais”, diz.
Ele cita o caso de uma profissional que teve problemas com a reputação por apresentar certificados que não eram compatíveis com o conhecimento proposto e participações em projetos que não tinham a finalidade autopromovida.
“Ou seja, não vale a pena deslizar nesse quesito. É muito mais interessante o candidato descrever seus conhecimentos informais no currículo e explicá-los na entrevista presencial do que fantasiar com as certificações”, finaliza.
Fonte: G1.com.br