Pesquisa mapeia espécies de insetos na área de proteção ambiental do Rio Machado
Foto: Instituto Federal do Sul de Minas
São analisados os mais de mil quilômetros quadrados de área. A APA é cortada pelo Rio Machado, que tem a extensão de mais de 211 quilômetros de leito. O rio banha 11 municípios do Sul de Minas, mas os trabalhos estão concentrados em Machado (MG), Poço Fundo (MG) e Fama (MG).
“Já tem muita coisa coletada. Temos, por exemplo, uma espécie de vespa, de marimbondo, que aparentemente não tem ocorrência no estado. E temos uma borboleta, que já enviamos material para parceiros da Unicamp, que provavelmente corre risco de extinção. A perspectiva é que ainda consiga muita coisa”, explica o pesquisador do IF Marcos Magalhães.
Segundo Marcos, além as espécies de marimbondos e borboletas, são mapeados tipos de aracnídeos e libélulas.
“Tem um grupo de libélulas que só ocorre em áreas de floresta bastante conservada. Se a floresta é impactada, tem desmatamento, esses bichos tendem a desaparecer. Nós encontramos pelo menos duas espécies deste grupo lá, o que é um bom indicativo pra APA”.
Pesquisadores do IF mapeiam espécies de insetos em cidades do Sul de Minas. — Foto: Instituto Federal do Sul de Minas
Estudos raros
O trabalho que define a fauna do sistema local nunca foi feito, desde a criação da APA em 1999. O pesquisador Marcos Magalhães, que responde pela coordenação do estudo, tem uma experiência de mais de 15 anos de campo, com presença em parques estaduais e nacionais.
Ao lado dele, trabalha todo o núcleo de zoologia do Instituto Federal de Inconfidentes, com 10 alunos. Também foram feitas parcerias com a Universidade de Campinas (Unicamp), a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (Inpa) e a Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Pesquisados do IF Sul de Minas fazem expedições ao longo da APA do Rio Machado — Foto: Instituto Federal do Sul de Minas
O trabalho de coleta em campo é feito em dois dias por mês. O restante da pesquisa consiste na análise do material coletado.
Do ponto de vista dos pesquisadores, apesar de vários estudos relacionados à fauna e flora brasileiras, as pesquisas sobre invertebrados nas áreas de proteção são raros. “O pessoal costuma dar ênfase aos vertebrados nos levantamentos científicos. Mas os invertebrados são relevantes nos ecossistemas aquáticos e terrestres para se entender a diversidade biológica do local”.
Início do projeto
A ideia começou com o professor Luiz Flávio Reis Fernandes, que hoje é diretor geral do campus de Inconfidentes. Natural de Machado, Luiz já atuou na área de meio ambiente e notou a carência de estudos ambientais na região da APA do Rio Machado.
“Por volta de 2007, mapeamos toda a calha do rio, fomos até a nascente, coletamos amostra de água. A partir disso, começamos a desenvolver trabalhos práticos, inclusive de recuperação de nascentes”, conta.
Em 2010, Luiz assumiu um cargo no Instituto Federal. Desde então, queria voltar a desenvolver os trabalhos na região da APA. “No ano passado, a gente propôs deles desenvolverem um trabalho na pesquisa na área deles na bacia do Rio Machado. Nós sabemos o potencial daquela área. Calhou com esse trabalho que casa muito com a questão do desenvolvimento sustentável regional, um dos objetivos do IF”.
O professor Marcos Magalhães e o diretor do campus Luiz Flávio começaram o projeto — Foto: Instituto Federal do Sul de Minas
Preservação da fauna e história
O professor Marcos defende este tipo de estudo para criação de inventários sobre a fauna brasileira. “Sem este tipo de levantamento, a gente não sabe traçar estratégias. Esses estudos são vitais para que a gente tenha a conversação dessa área. Isso também acaba interferindo na conservação das áreas agrícolas”, explica.
Para o pesquisador, as culturas tradicionais do Sul de Minas, como o café e a batata, também depende deste tipo de análise do meio ambiente. “Sem esse serviço, a gente precisa de mais extensivos agrícolas, a gente tem um custo maior de produção, e de uso de substâncias químicas que têm efeito colateral na nossa saúde”.
“Também é um meio de mostrar à sociedade que as unidades de conservação têm um valor imensurável, mas se nós não formos lá, a imagem que fiz é de um monte de mato, que pode ser usado para agricultura, que não tem função nenhuma”.
A previsão é que os trabalhos sejam concluídos no mês de agosto.
Fonte: G1 Sul de Minas – EPTV