Rezadores mantém viva a Oração das almas em Muzambinho
Por se tratar de um ato secular, este movimento foi se dispersando ao longo dos anos. Em Muzambinho, dez homens mantem a tradição, e percorrem durante os 40 dias da quaresma as residências do Bairro do Morro Preto, situado na zona rural do município, João Batista de Lima, mais conhecido como “Pistoleiro”,católico fervoroso que aprendeu com o pai a passar esta tradição adiante. Seu Ananias tem 80 anos e há mais de 60 anos ele realiza o ritual da Encomendação das Almas.
“Aprendi com meu pai mantemos o ritual e assim passamos a rezar pelas almas. Muita gente tem receio, mas somos respeitados e espero preservar este costume até o fim da vida”, conta Ananias
Ninguém sabe ao certo onde e como surgiu esta manifestação. Entretanto, em Portugal, o rito é praticado desde a Alta Idade Média. No Brasil, começou a ser difundido pelos jesuítas, por volta do século XVI, sobrevivendo em algumas regiões interioranas do país principalmente em cidades mineiras.
O único instrumento é a matraca, que é muito usada em procissões católicas. A Reza das Almas consiste em uma procissão de devotos que saem tarde da noite, no período da Quaresma, e cantam do lado de fora da casas no escuro e pedem que a família reze pelas pessoas falecidas da família e moradores do bairro.
Os participantes entoam cantos de forma espontânea, pedem orações pelas almas dos pecadores no purgatório. Uma grande curiosidade deste ritual: as portas e janelas das casas devem ser mantidas fechadas, as luzes, apagadas e as pessoas devem rezar as orações solicitadas pelos encomendadores. Quem participa desta procissão também é proibido de olhar para trás, justamente para evitar encontrar com as almas que os seguem. Dentro das tradições, as orações acontecem sempre durante a noite de quartas e sextas-feiras, tendo início às 22h30, , com término previsto para a meia-noite.
Como os moradores são avisados com antecedência da visita noturna algumas famílias deixam lanches para o grupo, mas ninguém aparece para servir ou conversar com os rezadores. Fazem parte do grupo de Muzambinho, Calimério, Clementino,Balaio, Damiro, Candinho,Sebastião Ananias,Paulinho, José Salomão e Catumbi.
Texto: Valéria Vilela