“Margaridas” vão a Brasília nos dias 13 e 14 de agosto
A necessidade de resistência das mulheres diante da atual perda de direitos marcaram falas na reunião desta quinta-feira (11) – Foto: Daniel Protzner
Trabalhadoras do campo, da floresta e das águas, vindas de todos os cantos do Brasil e também de países vizinhos, se reúnem em Brasília, nos dias 13 e 14 de agosto, para a Marcha das Margaridas. A mobilização em Minas Gerais foi lançada nesta quinta-feira (11/7/19), durante audiência da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).
Realizada pela primeira vez em 2000, a marcha chega à sexta edição, com previsão de reunir 100 mil mulheres. Embora o tema de 2019 seja “Margaridas na luta por um Brasil com soberania popular, democracia, justiça, igualdade e livre de violência”, ficou evidente na audiência que a luta será também contra a retirada de direitos, sobretudo em função da reforma da previdência.
Solicitada pelas deputadas petistas Marília Campos, Leninha e Beatriz Cerqueira, a reunião foi aberta com uma apresentação do Coletivo Alvorada. E finalizada com a aprovação de uma carta que cita a conjuntura “de ataque aos direitos das mulheres” e a necessidade de permanecer na luta “até que todas sejam livres”. De agora até o dia da marcha, várias atividades estão previstas pelos organizadores, relacionadas à pauta de reivindicações.
A deputada Andréia de Jesus (Psol) invocou a memória de Margarida Maria Alves, que dá nome à marcha, e de Marielle Franco. A primeira, presidenta de sindicato de trabalhadores rurais na Paraíba, e a segunda, vereadora do Psol no Rio de Janeiro, foram assassinadas em função da luta por justiça social. “Não vamos dar nem um passo atrás. Somos todas sementes”, afirmou a deputada.
Fortalecidas – O simbolismo do movimento foi destacado também pela deputada Leninha. “Essa luta deve ser referência para a sociedade. São mulheres de lugares diferentes, de bandeiras diferentes, mas que se unem, no momento certo, para lutar por direitos”, enfatizou. Para ela, todas saem fortalecidas dessa união. Essa representatividade foi visível na audiência, com mulheres de diferentes movimentos populares e sindicais.
A Marcha das Margaridas nasceu como uma ação afirmativa destinada a dar visibilidade às mulheres, sobretudo às do campo. Alaíde Lúcia Bagetto Moraes, coordenadora estadual de Mulheres Trabalhadoras Rurais da Federação dos Trabalhadores na Agricultura em Minas Gerais (Fetaemg), relatou a transformação do movimento, inicialmente desacreditado, em responsável pela efetivação de políticas públicas no País, entre as quais a titulação da terra em nome do homem e da mulher.
Reforma da previdência atinge o campo
A aprovação da reforma da previdência em 1º turno na Câmara dos Deputados foi comentada na audiência. O impacto das mudanças no meio rural foi destacado por várias participantes e também pela deputada Marília Campos, que citou o corte de 50% no valor das pensões. “Oitenta por cento dessas pensões são de um salário-mínimo. Isso é corte de privilégio?”, pontuou.
A deputada leu o nome dos 14 deputados federais mineiros, do total de 53, que votaram contra a reforma.
Alaíde Moraes, da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Minas Gerais (Fetaemg), detalhou que o texto da reforma passa a exigir como comprovação da atividade no campo a venda dos produtos. “Teremos que ter CNPJ”, afirmou. Hoje, segundo ela, a comprovação pode ser feita por notas de compras de insumos, documentos da terra e declaração dos sindicatos e órgãos de saúde, entre outros. Por isso, a mudança tem gerado muita angústia no campo.
Para o deputado Doutor Jean Freire (PT), a aprovação da reforma foi uma derrota para o Brasil. “As pessoas vão entender isso quando precisarem dos benefícios. Foi feita uma campanha enorme, com dinheiro público, para iludi-las”, afirmou. Ele salientou o caráter machista da reforma da previdência e disse que muitas das políticas públicas do Brasil são fruto da luta das mulheres.
A ex-deputada Jô Moraes também destacou a importância das mulheres do campo para o desenvolvimento do País, enfatizando que a agenda da Marcha das Margaridas é nacional. “Temos 15 milhões de mulheres na área rural, e mais de 20% dos empreendimentos rurais são de mulheres. Elas não são meras ajudantes”, frisou.
Resistência – Mesmo diante de um cenário que consideram desfavorável – com questões históricas como a baixa representatividade política e o feminicídio, aliadas a situações atuais como o desmonte de conselhos e a perda de conquistas – as participantes da audiência pregaram a resistência. “Somos metade da população e parimos a outra metade”, incentivou Alaíde Moraes.
Lucimar de Lourdes Gonçalves Martins, secretária de Mulheres da Central Única dos Trabalhadores (CUT), defendeu que o movimento chegue às mulheres de todos os recônditos da zona rural, para que elas também se tornem donas de suas vidas. Já Dehonara Silveira, militante da Marcha Mundial das Mulheres, destacou o potencial mobilizador das Margaridas e sua capacidade de levar o debate às periferias.
Exemplo de resistência veio também de Arlete Alves de Almeida, coordenadora do Projeto Centro da Mulher do Movimento do Graal. Segundo ela, foram anos de luta em Buritizeiro (Norte) para alertar contra o feminicídio, até que o Atlas da Violência de 2015 listou o município em primeiro lugar no Estado nesse tipo de violência. “O Graal há 100 anos tem a mesma pauta. Não entendemos porque se violam tanto os direitos das mulheres”, enfatizou.
Durante a audiência, Mirilene Muniz Barreto, da direção estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), deu a notícia da vitória dos trabalhadores da Fazenda Ariadinópolis, em Campo do Meio (Sul), que lutam contra a reintegração de posse. Segundo ela, por três votos a zero, o Tribunal de Justiça arquivou o processo.
Fonte: almg.gov.br