Ah, minha cesta de Natal do Gigante Amaral…
Já é Natal.
Dezembro chegou.
Para mim, o “Mês da Tristeza”.
Por Jesus e pelas pessoas que faltam cada vez mais na mesa de casa de cada membro da família.
E hoje, aqui, nada de futebol, peço licença.
Chega do mega-Flamengo, de Jorge Jesus, de Sampaoli, do Santos FC do coração, do Corinthians e Palmeiras fraquinhos e do Cruzeiro que pode cair pela primeira vez.
E era Cruzeiro a moeda de minha época de menino nos anos 50, quando tia Antônia, minha heroína tia-mãe, fazia um anual e hercúleo esforço para comprar, em 12 prestações, todo final de ano, uma cesta de Natal “Gigante Amaral”.
Eram cestas numeradas de um a cinco.
A número um, a mais cara, era a grandona e ela comprava uma.
Quando chegava, meu irmão, eu e três primos nos engalfinhávamos no interior dela retirando, em meio a muita palha, “preciosidades” como saquinhos de nozes, avelãs, amêndoas, latinhas de sardinha, de feijoada e de salsicha, vidros de palmito e azeitona, além de um litro de vinho de Andradas e três garrafinhas de guaraná Caçulinha da Antarctica.
Eram diamantes, pepitas de ouro ou esmeraldas na visão de crianças deslumbradas e carentes.
E brigávamos para ver com quem ficava o boneco de plástico “Gigante Amaral”.
O boneco da loja “Gigante Amaral, tão disputado em minha casa nas décadas de 1950 e de 1960
E assim foi lá por 1954, 1955, 1956, 1957, 1958, 1959, 1960, 1961, 1962…
Todo Natal tinha a cesta número um e a gente não via a hora da chegada daquele baú de felicidade, bem grandão.
Mas, professora primária em Muzambinho, Monte Belo e Guaxupé, e cuidando da vó Beatriz, de minha mãe Carmen, viúva, e de tantas crianças, minha tia foi se apertando também por força do crescimento dos sobrinhos e, consequentemente, das despesas.
Primeiro ela cortou a assinatura da revista O Cruzeiro, depois o bujão de gás foi trocado pela lenha e passou também a viver de “letras no banco”.
Ou seja, de empréstimos no Banco de Crédito Real, além de mandar “marcar na caderneta” no açougue do Roque, na venda do Zú e do Tunico e no Bazar Castro de Dona Netinha.
E logo chegou a vez de ser sacrificada nossa cesta de Natal “Gigante Amaral”.
Ao invés da número um, ela passou a comprar a número dois.
Era grande também e a gente nem notou.
Mas quando veio a número três no ano seguinte, ficamos tristes.
E mais ainda na chegada da número quatro e finalmente da número cinco, minúscula.
Só que o par de meias jamais falhou como presente de Natal para cada um de nós, mas com a cesta do “Gigante Amaral” virando saudade.
E tia Antônia, coitada, pediu desculpas pela falta de dinheiro, imaginem.
Ela tinha acabado de vender o fundo da horta para o Silvestrinho e para a mãe do Chiquinho do Zé Uria para cirurgia mamária em São Paulo, para a retirada de um câncer.
Uma tragédia!
Tudo em dezembro.
Mas tia Antônia ainda viveu muitos anos até 4 de junho de 2015, sempre preocupada se os meninos “estavam bem colocados ou não”.
Uma santa.
Deus te pague, tia, aí no céu.
E Feliz Natal para todo mundo, gigantes brasileiros!
Antônia Carlos Fernandes, tia de Milton Neves, ao lado do sobrinho-neto Fábio Lucas e da sobrinha-bisneta Giulia
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