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Fuja do álcool gel caseiro: mistura pode ser perigosa

Redação18 de março de 202010min0
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Especialistas contraindicam fabricação própria do produto. Além de não funcionar, fórmulas podem potencializar infecções e erupções. O ideal é usar água e sabão contra o coronavírus

A população está apostando alto para se ver livre do novo coronavírus. E, com a falta do álcool em gel e máscaras nos supermercados e farmácias, começaram a surgir receitas caseiras – e perigosos. Ontem, a atriz Maitê Proença postou em seu Instagram um vídeo em que ensina a fazer um suposto um álcool em gel caseiro. O Estado de Minas ouviu dois especialistas para tirar dúvidas sobre o tema. E eles são enfáticos: receita caseira para reproduzir álcool em gel não funciona e ainda pode ser perigosa. O vírus é desconhecido e o uso inadequado do álcool pode deixar de ser uma arma de proteção contra ele e causar efeito contrário, como a potencialização infecções, alergias e erupções cutâneas.

“Esse não é o da rua, do camelô, que não se sabe como foi feito. Esse será feito por você, usado vasilhas limpas e os melhores ingredientes que você tiver à mão. E, por favor, leia bem as observações que seguem a receita.”, escreveu Maitê. Os ingredientes usados são: uma porção gel transparente de cabelo e quatro a seis porções de álcool. Em apenas duas horas, o vídeo tinha 25,1 mil visualizações. E aí? Dá certo?

O professor titular da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Gerson Pianetti, é enfático na resposta: não funciona e não é recomendado repetir a fórmula indicada pela atriz. “O álcool em gel se tornou a estrela da temporada, mas acontece o seguinte: o vírus tem uma capa de gordura. E, para matá-lo, é necessário ‘furar’ essa capa de gordura. Quando você lava as mãos com o sabonete líquido, com o sabonete embarra e até com shampoo, o vírus é eliminado. O mesmo funciona com o álcool em gel”, disse o professor. O especialista explica que o álcool em gel é manipulado em um espaço isento da contaminação de qualquer micro-organismo e que nenhuma receita caseira deve ser reproduzida. “É completamente irresponsável publicar esse tipo de vídeo. Imagine o quanto esse material de cozinha dela pode estar contaminado”, disse.

O professor Márcio de Matos Coelho, que também trabalha na Faculdade de Farmácia da UFMG, explica que agências regulatórias não trazem orientações nem recomendam que a população faça o produto em casa. “As substâncias gelificantes geralmente só são encontradas em distribuidoras de produtos químicos e não no mercado tradicional. O preparo do álcool gel deve ser feito de forma correta para que a atividade antimicrobiana aconteça”, disse.

Já o médico dermatologista membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia Lucas Miranda afirma que o grande problema na manufatura caseira desses produtos se apoia em duas questões: “Primeiro, pode causar algum dano à pele, como dermatites irritativas. E, segundo, pode não propiciar defesa adequada aos microrganismos. A concentração de álcool, a estabilidade química, o tempo de evaporação do ativo são variáveis que impactam diretamente na eficácia do produto. Estamos em uma época crítica e seria arriscado demais usar substâncias não comprovadas para evitar propagação da epidemia”, disse. Ainda de acordo com ele, a mistura apresentada pela atriz além de ser potencialmente ineficaz, pode causar incidentes como irritação da pele e mucosas e queimaduras de diversos graus.

Também viralizou nas redes sociais uma receita usada com gelatina transparente. O farmacêutico Gerson afirma: “A gelatina é apenas uma das maiores fontes de contaminação de micro-organismos” E receitas usando vinagre de álcool e vinagre de maçã? Gargarejos com chá de erva cidreira? Limão com vinagre e bicarbonato para lavar as mãos? Nada disso é recomendado pelos especialistas. “Não temos nenhuma comprovação científica. Trata-se de vírus novo, não se sabe se pode causar algum problema”, disse Gilson. Especialistas ainda atentam que o álcool em gel caseiro em vez de ser uma arma de proteção contra o coronavírus e pode causar efeito contrário, potencializando infecções, alergias e erupções cutâneas. “O efeito, em vez de positivo, pode ser totalmente reverso, causando irritações, inflamações, queimaduras, dentre outros. Às vezes, pode acontecer de não apresentar nenhum efeito colateral, mas não culminará em uma proteção efetiva contra o coronavírus”, acrescentou o dermatologista.

Dicas

Muito ainda se perguntam sobre o uso do álcool líquido. Segundo o dermatologista, ele não deve ser aplicado nas mãos, mas usados na higienização dos ambientes, como também a água sanitária, desinfetantes em geral, limpadores multiuso com cloro, detergente e sabão. “O álcool em gel reduz o número de micro-organismos em nossas mãos. Contudo, a água e o sabão, além de atuarem nesse processo, são essenciais para retirar a sujeira visível. A recomendação é a seguinte: há sujeira visível nas mãos? A conduta é sempre lavar com água e sabão. Não há sujeira visível nas mãos? A melhor opção é água e sabão. Caso não esteja disponível, use álcool em gel”, afirma o dermatologista Lucas.

Mas, e se não tiver álcool para desinfetar um corrimão, por exemplo? Água sanitária, desinfetantes em geral, limpadores multiuso com cloro, detergente e sabão são ótimas pedidas para a realização da limpeza de ambientes. “O Ministério da Saúde recomenda, no caso da água sanitária, a solução de uma parte de água sanitária para 9 partes de água) para desinfetar superfícies”, acrescentou o dermatologista.

Confira o rótulo

A maneira mais eficaz de combater o coronavírus todos já sabem: lavar as mãos com água e sabão. Entretanto, o uso do álcool para se proteger é muito comum. Afinal, você sabe como usar o produto para evitar a contaminação por coronavírus?   Ao comprar a mercadoria contendo álcool, é importante ficar atento à quantidade de álcool na composição. Segundo o professor da Faculdade de Farmácia da UFMG, Márcio de Matos Coelho, o item com a porcentagem entre 60% e 70% é o mais indicado no combate ao coronavírus. Uma quantidade menor pode não ser efetiva e maior pode causar irritações na pele. “É importante que uma parte da mistura seja composta de água para que a seja facilitada a entrada do álcool nos micro-organismos e a desnaturação de suas proteínas e para que a volatilização (evaporação) seja menos rápida, permitindo maior contato”, afirma o professor.

Há duas maneiras de calcular a quantidade de álcool no produto: °GL e %INPM. O primeiro é uma abreviação de Gay Lussac e aponta a quantidade, em graus, de álcool por volume. Já o segundo é a forma reduzida para Instituto Nacional de Pesos e Medidas e mostra a porcentagem desse componente por gramas. “A diferença é pequena entre as duas formas de indicação da proporção. Por exemplo: álcool 90 °GL corresponde a aproximadamente álcool 87,8 %INPM”, afirma o farmacêutico. Além disso,é comum os rótulos mostrarem a quantidade de álcool no produto nas duas versões.

Fonte: EM

Redação


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