Maiores causas de morte no Brasil e no mundo em comparação com a COVID-19
Ainda que estejamos apenas na primeira metade de 2020, a COVID-19, doença causada pelo novo coronavírus, caminha para se tornar uma das principais causas de morte em todo o mundo.
A pandemia já matou mais de 280 mil pessoas em todo o mundo desde o dia 9 de janeiro, quando o primeiro óbito foi registrado na cidade de Wuhan, na China.
Especialistas alertam, no entanto, que o número pode estar muito abaixo do real, por causa da subnotificação causada pela falta de testes em muitos países, e pela dificuldade de obter dados padronizados e atualizados sobre mortes.
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“Os cenário que vemos agora aponta para a possibilidade de que a COVID-19 fique entre as principais causas de morte de 2020, mas só saberemos disso com certeza daqui a alguns anos, quando tivermos os dados”, disse à BBC News Brasil o epidemiologista Theo Vos, pesquisador do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde da Universidade de Washington, nos Estados Unidos.
Mesmo assim, os dados oficiais disponíveis dão uma ideia da dimensão da COVID-19 diante de outras causas de morte, como doenças cardiovasculares e cânceres, que continuam sendo as mais mortíferas.
Como é possível ver no gráfico, com o avanço ou a regressão da epidemia em cada país, o número de novas mortes registradas flutua a cada semana.
Mesmo assim, no pico entre meados de março e abril, ele superou a média de mortes semanais causadas em 2017 por diabetes, acidentes de trânsito e doenças do aparelho digestivo em todo o mundo, deixando também para trás problemas como tuberculose, HIV e malária.
Mortes regionais
Os dados de 2017 são os mais recentes disponíveis no estudo Global Burden of Disease (Fardo Global das Doenças, em tradução livre), feito pelo IHME, um dos mais completos produzidos sobre o tema.
O estudo contabiliza as mortes por 282 tipos de doenças e ferimentos em 195 países e territórios.
Em um cálculo simplificado, vê-se que, na América Latina, a diabetes matou semanalmente cerca de 3.515 pessoas em 2017. As infecções pulmonares, como a pneumonia e a bronquite, mataram 3.836 por semana naquele ano, em média.
Mas, na semana dos dias 4 a 10 de maio de 2020, a COVID-19 matou 6.987 pessoas na região.
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No Brasil, o mesmo período de 4 a 10 de maio viu o número de novas mortes registradas por COVID-19 (4.072) ultrapassar em muito a média semanal de mortes por homicídios em 2017 (1.227), ano em que o país bateu um recorde histórico de mortes violentas.
Subnotificação e ‘efeito transbordamento’
Qualquer comparação, no entanto, é prejudicada pela subnotificação dos casos de covid-19, um problema que acontece em todos os países, em maior ou menor grau.
No Brasil, projeções feitas por grupos de pesquisa em universidades diferentes dizem que o número de casos reais de covid-19 pode ser de 12 a 16 vezes maior do que o número oficial.
Em muitos países, os registros oficiais de mortos contam apenas aqueles que falecem em hospitais ou que tiveram resultado de exame positivo para o vírus. Mortes sem diagnóstico preciso e as que ocorreram em casa ou em casas de repouso para idosos, por exemplo, nem sempre entram nas estatísticas imediatamente.
Além disso, especialistas em análise de dados alertam para o “efeito transbordamento” que a COVID-19 pode ter sobre as causas de morte mais comuns, como câncer e doenças cardiovasculares.
“O que chamamos de efeito transbordamento é o fato de que a pandemia de covid-19 está tendo um impacto enorme em outras causas de morte. Por exemplo, na redução do financiamento para a pesquisa de tratamentos de malária, na nutrição e na pobreza, especialmente em países menos desenvolvidos”, disse à BBC News Brasil Hannah Ritchie, chefe de pesquisa do projeto Our World in Data, da Universidade de Oxford, no Reino Unido.
“Além disso, em muitos países há pessoas sem receber tratamento para o câncer ou para doenças cardiovasculares por causa das quarentenas e da sobrecarga dos sistemas de saúde”, afirma.
Segundo Theo Vos, do IHME, o efeito transbordamento da pandemia em outras causas de morte ainda é “modesto”, de acordo com os poucos dados disponíveis em tempo real.
“No longo prazo, acredito que o impacto da pandemia, interrompendo serviços de saúde e fazendo muitas pessoas entrarem na pobreza se refletirá muito na mortalidade.”
“Só que esse efeito indireto da covid-19 nas mortes não vai aparecer nos atestados de óbito. Por isso, só vamos conseguir medi-lo no futuro e ainda estamos tentando encontrar maneiras de quantificá-lo”, conclui.
Fonte: EM