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Informações falsas e invenção já envolvem as vacinas contra a COVID-19

Redação21 de dezembro de 202020min0
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Projeto Comprova, de checagem de fake news, averigua 1 boato por dia, sobre imunizantes e alerta, entre outras questões, que eles não provocam dano genético

vacina contra a COVID-19 é item essencial na lista de desejos dos brasileiros neste fim de ano, certo? Não para 22% da população, segundo levantamento divulgado na semana passada pelo instituto de pesquisas Datafolha. Outro estudo, desta vez do Instituto Paraná Pesquisas, indicou que 52% dos brasileiros não querem que a vacina seja obrigatória. Considerando-se a população de 209,5 milhões de habitantes, são mais de 46 milhões de pessoas, com base no resultado do Datafolha, sem a intenção de se imunizarem contra a doença, que já infectou 6,2 milhões e matou 185,6 mil no país

Um dos fatores que ajuda a entender a resistência dessa enorme quantidade de brasileiros à imunização, preferindo se exporem ao risco de contrair uma enfermidade e continuar disseminando o coronavírus, são as falsas informações sobre os efeitos colaterais da vacina. Elas se proliferam pelas redes sociais e são estimuladas também por celebridades em vários campos da vida nacional, inclusive na política.

O próprio presidente Jair Bolsonaro tem sido um dos grades divulgadores de teorias da conspiração, além de apresentar dados sem comprovação ou fonte confiável, desincentivando a vacinação, enquanto vários países, a exemplo dos Estados Unidos e do Reino Unido, já inciaram campanhas de imunização contra a COVID-19. Exemplo disso é o uso da vacina dos laboratórios Pfizer/BioNTech, – que Bolsonaro questionou na semana passada do ponto de vista de pretensos efeitos colaterais –, ao passo que o imunizante já foi aprovado na Suíça, Estados Unidos, Reino Unido, México, Canadá, Arábia Saudita e Bahrein.

Para averiguar informações enganosas, inventadas e deliberadamente falsas sobre políticas públicas e a pandemia da COVID-19, foi criado o Projeto Comprova, iniciativa sem fins lucrativos e formada por 28 jornalistas de diferentes veículos de comunicação do Brasil. O programa tem checado, em média, um boato por dia sobre vacinas contra a doença respiratória.

Algumas desses fake news já foram desmascaradas. O Comprova concluiu ser falsa a informação de que a China não usará as próprias vacinas. Não há, também, comprovação de que a vacina da Pfizer provocou paralisia em voluntários. Diferentemente do que tem sido propagado, as vacinas desenvolvidas até o momento não provocam dano genético. Outro alerta é que a vacina que teria apresentado problemas no Peru não está sendo testada no Brasil, entre outros vários boatos checados e desmentidos.

Em entrevista ao EM, Sérgio Lüdtke, editor do Comprova, explica que um dos critérios do grupo para escolher qual pretensa notícia será checada é o da viralização da informação. Porém, o trabalho é complexo e cheio de armadilhas. Além de ser extremamente difícil fazer com que o resultado da verificação chegue a todas as pessoas alcançadas pelo boato, muitas vezes, deve-se ter o cuidado para que o trabalho de checagem não seja responsável por disseminar informações falsas.

‘Mentira conveniente’

“Não podemos exagerar demais na nossa audiência de verificação, e é por isso que escolhemos a viralização como nosso corte para decidir se vamos verificar ou não alguma coisa. Toda verificação pega o boato pela mão. Não consigo fazer uma verificação sem descrever o boato”, explica Lüdtke. Nesse processo de pegar o boato pela mão, quem faz a checagem pode estar dando um tiro no pé e levando desinformação para a cabeça de pessoas que, por convicções políticas, religiosas e culturais já estão inclinadas a acreditar em uma mentira que lhes seja conveniente.

“Para as pessoas que tendem a acreditar ou acreditam no boato, publicar a verificação e levar esse boato junto pode fazer com que ele ganhe vida. Dar combustível a algo que não teria alcance tão grande com o meu trabalho de verificação”, diz o jornalista. Isso não correria se os leitores tivessem mais cuidado ao consumir qualquer tipo de conteúdo, como destaca Sérgio Lüdtke.

“Se as pessoas fazem uma leitura mais rasa da verificação e leem também o boato, é possível que muita gente, mesmo lendo a verificação, prefira acreditar no boato. Se ela ler toda a verificação, acessar todos os links, tenho certeza que mudará de opinião. Mas não é assim que as coisas acontecem”, lamenta.

A população brasileira é a que mais acredita em fake news no mundo. Essa conclusão consta num levantamento realizado pela rede para mobilização social Avaaz.org. Outra pesquisa, realizada pela empresa de cibersegurança Kaspersky, demonstra que 62% dos brasileiros não sabem identificar ou não têm certeza se conseguem diferenciar se uma informação na internet é falsa ou verdadeira. Esse mesmo estudo revelou que 16% dos latino-americanos desconhecem completamente o termo fake news.

Segundo Sérgio Lüdtke, as pessoas caem no conto das informações enganosas porque a narrativa do boato é mais interessante e não precisa se ater a fatos e dados. Está limitada, simplesmente, à imaginação e criatividade de quem o produz. “Quem produz o boato usa um tipo de narrativa muito atrativa. Só tem como limite a sua criatividade. A falsidade é mais sexy que a verdade. A publicação da verificação está sempre limitada pelos fatos, pela palavra de um especialista ou por uma base de dados que a gente consulta. Nossas narrativas são complexas e nem sempre são atrativas. E esse é um problema: como competir com alguém que não tem a mínima responsabilidade e pode publicar coisas sensacionais e verossímeis?”.

Sofisticação

As fake news podem ser divididas em sete categorias, segundo o estudo Information Disorder – Desordem de Informação, em tradução livre – (https://bit.ly/2J4X8T0) publicado em 2017 pela jornalista americana Claire Wardle e pelo iraniano Hossein Derakhshan.

Desde a publicação do estudo, em 2017, algumas pessoas têm aprendido, ainda que lentamente, a identificar a desinformação. O problema é que os conteúdos falsos também progrediram para além dessas sete categorias, como explica Sérgio Lüdtke. Ele apresenta um exemplo de falsidade que foge dos tipos até então estudados e mostra o estrago que ela pode causar.

“Nesta semana circulou um boato da interrupção dos testes de uma vacina chinesa no Peru, por ter causado problemas em quatro pessoas. A publicação não mencionava qual era o laboratório. Se você olhar a publicação pode pensar que eles esqueceram ou ignoraram, sem intenção alguma. Se você for ver os comentários, todo mundo entendeu que seria a CoronaVac. O sujeito joga essa informação e isso tem um acesso impressionante e as pessoas compram aquilo como sendo a CoronaVac. E elas próprias já distribuem esse conteúdo afirmando que era a CoronaVac, que o João Doria (governador de São Paulo) estaria fazendo isso. Mas, na verdade, era um outro laboratório, uma outra vacina que não está sendo testada no Brasil. Existem 13 vacinas sendo desenvolvidas na China. No Peru, houve um problema, que não se sabe ainda se está relacionado com a vacinação, mas não tinha nada a ver com CoronaVac”, explica o editor do Comprova.

A publicação citada por Sérgio teve dezenas de milhares de compartilhamentos nas redes sociais. E mesmo sem ter exatamente uma informação falsa, apresentou grande potencial de dano. “A publicação nem sempre precisa mentir e ainda assim consegue causar um efeito de semear algum tipo de desinformação. Simplesmente usando a boa-fé ou a torcida das pessoas que recebem aquilo. Tem uma sutileza na produção desse tipo de boato. Nesse caso, um grupo de pessoas que já estava levantando algum tipo de dúvida sobre a vacina que o Butantan (Instituto Butantan, ligado ao governo paulista, parceiro do laboratório chinês Sinovac Biotech na produção da CoronaVac) está desenvolvendo e que compraram aquilo. Muitas vezes na boa-fé e levaram adiante dizendo: ‘Olha! Era isso que eu tava falando!’ A isso se somam todas as teorias conspiratórias que acabam envolvendo a vacina e se cria esse tipo de ambiente com pouquíssima informação”.

As fake news foram divididas em sete categorias, segundo o estudo Information Disorder – Desordem de Informação, em tradução livre – (https://bit.ly/2J4X8T0) publicado em 2017 pela jornalista americana Claire Wardle e pelo iraniano Hossein Derakhshan. São elas:

  1. Manipulação do Conteúdo – quando a informação ou imagem genuína é manipulada para enganar
  2. Conteúdo Fabricado – conteúdo novo que é 100% falso, criado para ludibriar, prejudicar
  3. Falsa Conexão – quando manchetes ilustrações ou legendas não confirmam o conteúdo
  4. Falso Contexto – quando o conteúdo genuíno é compartilhado com informação contextual falsa
  5. Conteúdo Enganoso – uso enganoso de informações para enquadrar uma questão ou um indivíduo
  6. Sátira ou Paródia – nenhuma intenção de prejudicar, mas tem potencial para enganar
  7. Conteúdo Impostor – quando fontes genuínas são imitadas

Saúde desmentiu 84 boatos, entre cura e contraprova

Não é verdade que a vacina contra a gripe aumenta a chance de contaminação pelo coronavírus. Também não é verdade que máscaras doadas pela China ao Brasil foram propositalmente infectadas. Assim como também não procede a informação de que médicos tailandeses conseguem curar a COVID-19 em 48 horas. Beber água a cada 15 minutos, chá de bicarbonato com limão, café, erva-doce, gargarejo com vinagre, alho fervido e água tônica não eliminam a doença do organismo. Tomar uísque com mel, infelizmente, também não.

Estas são algumas das 84 ‘notícias’ falsas sobre o coronavírus que tiveram que ser desmentidas pelo Ministério da Saúde (www.saude.gov.br/fakenews) em seu site oficial desde o início da pandemia. Voltada para informações falsas sobre o coronavírus, outra pesquisa da Avaaz, realizada em abril deste ano, (bit.ly/30I3sEV) mostra que 94% dos brasileiros entrevistados viram pelo menos uma informação falsa sobre a doença. Percentual de 73% acreditaram em, ao menos, um conteúdo ‘desinformativo’ sobre a pandemia. Em números absolutos, significa que 110 milhões de brasileiros caíram em pelo menos uma mentira sobre a COVID-19.

O primeiro caso confirmado de COVID-19 no Brasil ocorreu em 26 de fevereiro. Entretanto, em janeiro já circulava em grupos de WhatsApp uma corrente afirmando que o diretor do Hospital das Clinicas (sabe-se lá de qual cidade) afirmava que uma nova ‘gripe fatal’ poderia ser curada com chá de erva-doce, pois o preparado caseiro teria ‘a mesma substância do medicamento Tamiflu’. Esse antigo boato já circulava desde 2009, época do surto de gripe suína, e foi ‘requentado’ após surgirem os primeiros casos de coronavírus na China.

A história da erva-doce foi a primeira ‘notícia’ falsa que teve que ser desmentida pelo Ministério da Saúde. Uma das mais recentes, também rechaçada pela pasta, é a de que o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, teria publicado em suas redes sociais a seguinte mensagem: “Atestado de óbitos (sic) não poderão mais notificar ‘suspeita de COVID-19’. Terão que fazer a contra-prova (sic) e constar apenas com o devido resultado positivo, a farra vai acabar”.

O primeiro indício da mentira é que Pazuello não possui perfis em redes sociais. O segundo é a sequência de erros de português no texto, características típicas das fake news. Outros são as expressões e palavras de ordem que dão a falsa impressão de que o usuário sempre está desmascarando alguma farsa, como a recorrente frase “a farra vai acabar”.

A respeito das notificações de óbitos, o Ministério da Saúde advertiu: “Informamos que são incluídos nos números oficiais os casos em que o resultado do teste foi positivo. Os casos de pacientes que vieram a óbito e o resultado do teste ainda não foi concluído constam como óbitos em investigação nos dados divulgados pela pasta”.

O principal vilão

A popularização das redes sociais concedeu aos usuários um poder até pouco tempo concentrado apenas nas mãos dos grandes veículos de comunicação: o de produzir e divulgar conteúdo. Entretanto, essa possibilidade também fez nascer em muitas pessoas o sentimento de que existe um complô mundial das empresas de mídia para esconder algumas informações da sociedade. A tradução para essa falsa ideia são as frases características que acompanham a maioria das fake news nas redes sociais: “Repassem antes que seja tarde” ou “Isso a mídia tradicional não mostra”.

Uma das principais razões para a mídia tradicional não noticiar certos fatos ou conteúdos em algumas ocasiões é simples: às vezes o tal ‘fato’ não aconteceu. Informações falsas publicadas em redes como Facebook ou Twitter permitem que o usuário possa buscar com maior facilidade o responsável pela postagem. Entretanto, as famosas correntes que circulam pelo WhatsApp não são rastreáveis e tornam o aplicativo de mensagens o grande vilão da desinformação.

Segundo o filósofo e professor Pablo Ortellado, a alteração de funcionalidades do WhatsApp é um fator de risco. Isso porque o aplicativo começou como uma ferramenta de mensagens privadas e, com o tempo, foi adquirindo características de divulgação de conteúdo em massa, alcançando milhões de pessoas.

“Mensagens que viralizaram no WhatsApp terminaram tendo impacto enorme no público. Conseguimos medir isso por pesquisas de opinião, que correntes de WhatsApp chegam a dezenas de milhões de brasileiros”, disse Pablo em entrevista à rádio CBN.

Segundo ele, o sigilo de mensagens é necessário quando se trata de envios individuais, mas deveria ser relativizado nos casos de remessas massivas. “Essas correntes de WhatsApp têm a mesma proteção de sigilo aplicada a mensagens de um para um. Isso é uma combinação muito ruim. Permite que se lancem campanhas negacionistas sobre a COVID-19 ou atacando instituições democráticas de maneira oculta, porque não é possível encontrar o autor da mensagem”, afirmou.

Fiocruz no bombardeio
Pesquisa desenvolvida pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) mostra que 73,7% das informações e notícias falsas sobre o coronavírus circularam pelo WhatsApp. Outros 10,5% foram publicadas no Instagram e 15,8% no Facebook. A própria fundação que realizou o estudo muitas vezes tem seu nome envolvido no conteúdo mentiroso. Entre essas fake news propagadas pelo WhatsApp, 71,4% citam a Fiocruz como fonte.

Fonte: Estado de Minas

Redação


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