Só 3,4% dos municípios ainda não têm mortes por Covid-19 em Minas
Quem chega a Fortuna de Minas, na região Central do Estado, logo percebe a tranquilidade e a simplicidade de quem vive na cidade. Mesmo com o comércio funcionando, o número de carros e de pessoas nas ruas é pequeno. Aglomerações não são vistas a todo momento, e, se tem alguém conversando na praça ou nas proximidades da igreja matriz, está sempre de máscara.
A cidade de pouco mais de 3.400 habitantes (conforme a prefeitura) e a 99 km de Belo Horizonte, é uma das 29 de Minas (do total de 853) que ainda não registraram mortes por consequência da Covid-19 – são 3,4% do total de municípios. Todas as localidades ainda livres de óbitos em Minas têm menos de 12 mil habitantes (segundo projeção do IBGE), e a maioria delas fica na região Central do Estado.
A doença já matou 36.495 pessoas em 96,6% (824) das cidades, segundo dados do boletim epidemiológico da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG). Em todo o país, são menos de 90 municípios na mesma situação.
Prevenção
O diferencial apontado pela administração municipal de Fortuna de Minas e pelos próprios moradores é a conscientização sobre os perigos da doença.
“Não existe mágica, existe o trabalho e o empenho da secretaria de Saúde. Se a população for consciente, o vírus vai circular menos na cidade. E ela se conscientizou muito e teve um papel importante para a gente chegar hoje sem nenhum óbito. Moradores e comerciantes respeitam os decretos e aqui, depois de 20h, não vemos ninguém na rua”, afirma o prefeito Cláudio Garcia Maciel (MDB).
Para o comerciante Sirlei Matos Rosa, 50, dono do Restaurante dos Amigos, saber que a cidade ainda não registrou mortes traz e segurança. “As pessoas daqui usam máscara e são conscientes. Normalmente, quem não respeita as medidas de segurança são aqueles que vêm de fora, os turistas que procuram os sítios. Mas, se chega alguém aqui sem máscara, a gente pede para colocar”, conta.
Entre as principais ações no município estão o uso obrigatório de máscara, a disponibilização de álcool em gel, o distanciamento social, o funcionamento do comércio de 5h às 22h – antes os bares funcionavam a noite toda – com delivery no máximo até as 23h. Também estão proibidas aglomerações e festas, inclusive em casas e sítios. A multa para quem descumprir as regras é de R$ 2.000 por infração – segundo a prefeitura, até agora foram duas multas e seis notificações.
“As festas em sítios, com aglomerações, são um grande problema e estão proibidas. O telefone dos agentes de fiscalização está na página da prefeitura e pedimos que as pessoas denunciem caso vejam alguma aglomeração ou festa”, explica o prefeito.
Segurança
Com apenas 80 casos confirmados de Covid-19, 95% (76) das pessoas curadas e nenhuma morte, a sensação de quem vive, tem família ou trabalha no município é de segurança. É o caso da professora Vanilda Souza Batista, 44, que trabalha da Escola Municipal Mário Diniz Pontes. Ela mora na vizinha Inhaúma, mas está sempre em Fortuna de Minas porque os pais, idosos – mãe, 79, e o pai, 80 –, residem na cidade.
“A gente se sente mais seguro porque existem muito locais onde as pessoas não têm essa consciência, realizam festas e circulam normalmente. Aqui, os moradores andam de máscara, e não tem aquele acúmulo de gente nos comércios e supermercados. Sem contar que a polícia é mais atuante. Acho que é por isso que temos essa felicidade de não ter nenhuma morte causada pelo Covid”, diz.
Já a comerciante Rosiane Carvalho, 37, dona da Drogaria Fortuna, que vive com o marido e as filhas, de 10 e 2 anos, há cinco anos na cidade, se diz abençoada. “Sinto-me muito abençoada de estar em uma cidade que está tranquila em relação ao mundo e ao Brasil no número de casos e sem nenhuma morte. No início da pandemia, fizeram uma barreira sanitária, e acho que isso intimidou muito as pessoas de fora a vir para a cidade e ajudou a atrasar a chegada do vírus”, afirma.
Isolamento domiciliar
Na opinião dela, outra medida que pode ter contribuído para o baixo índice de infecções foi a alta adesão ao isolamento domiciliar. “Quando aconteceram os primeiros casos de coronavírus, o ex-prefeito, que é médico, conseguiu tratar as pessoas e fez o isolamento dos infectados direitinho. Isso evitou que o vírus se propagasse”, diz.
De acordo com a secretária municipal de Saúde, Ediege Oliveira de Moraes, todas as 76 pessoas que já se curaram da Covid tiveram casos leves da doença, foram monitoradas pela equipe de saúde e cumpriram corretamente o isolamento domiciliar. “Atualmente, temos um caso grave, cujo paciente está hospitalizado em Sete Lagoas, que é a cidade-referência”, explica.
Vacinação
A Secretaria Municipal de Saúde de Fortuna de Minas imunizou quase 25% da população da cidade com a primeira dose da vacina contra a Covid-19. De acordo com o Vacinômetro do município, com as 1.349 doses recebidas até o momento, 851 pessoas (24,72%) foram imunizadas com a primeira dose, e 401 moradores tomaram a segunda dose.
Para a secretária de Saúde, Ediege de Moraes, mesmo com as doses chegando a conta-gotas, a vacinação tem ajudado a diminuir a contaminação na cidade.
“Temos uma população idosa muito grande no município, mas já conseguimos vacina para toda a população quilombola, acima de 18 anos, cadastrada no Programa de Saúde da Família (PSF). E todos os idosos acima de 60 anos já tomaram a primeira dose, sendo que grande parte desse público também já recebeu a segunda aplicação”, diz a secretária. Ela frisa que, para completar o esquema vacinal, depende da chegada de novas doses.
Cuidados
Em Fortuna de Minas, até quem já tomou a vacina garante não relaxar na prevenção contra o vírus. É caso do caminhoneiro aposentado Ranulfo Pereira Filho, 69. Imunizado com as duas doses de Coronavac, ele mora com a mulher e dois netos há dez anos na cidade.
“Graças a Deus já tomei a vacina. Me sinto mais tranquilo, mas me cuido direitinho. Uso máscara e não é porque já tomei a vacina que vou me descuidar. Mesmo vacinado, a gente precisa ter cuidado”, diz.
O aposentado diz que quase não sai de casa e não recebe nenhuma visita.
“Quando eu venho na rua, vou à casa lotérica, faço uma fezinha, vejo o movimento na praça e volto para casa. Não deixo ninguém estranho entrar lá em casa. Visita, nem pensar. Até meu filho que mora em Sete Lagoas, onde a contaminação por Covid é maior, não tem vindo”, relata.
Fonte: O Tempo