Estradas esburacadas em MG fazem gasto subir 37%
“A verdade é que Minas está igual a um queijo suíço. Piorou demais em relação a buraco e queda de barreira. É mais combustível, mais tempo e mais desgaste”, descreve o caminhoneiro Vagner Quirino enquanto negocia sua passagem às margens da BR–262. “Se eu não passar aqui, o desvio é de cento e tantos quilômetros”, desabafa o motorista, que seguia de Belo Horizonte para Vitória.
Sobre o aumento de tempo e de gastos, Vagner tem razão. Pesquisa da Confederação Nacional do Transporte (CNT) indica que as más condições das rodovias mineiras provocam um aumento médio de 37,2% nos custo operacional, incluindo manutenção e combustível. Para o Brasil, o aumento médio é de 30,9%. Em relação à analogia das estradas com um queijo esburacado, o condutor também está certo. A mesma pesquisa revela que 69,9% das rodovias estão em condições regulares, ruins ou péssimas.
A CNT verificou 15.279 km em todo o Estado e constatou piora: de 2019 para 2021, o total de pontos críticos identificados subiu de 21 para 95. Após as fortes chuvas da virada do ano, a tendência é piorar. “Minas Gerais não tem estradas, tem caminhos”, destaca o presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logística de Minas Gerais (Setcemg), Gladstone Lobato.
Segundo ele, as condições das rodovias que cortam o Estado sempre foram problemáticas, e as chuvas só vieram a agravar ainda mais a situação. O reflexo imediato é um aumento de custos. Dono da Transavante, Lobato calcula que, em alguns casos, o custo com manutenção chega a dobrar. “O custo de manutenção vai lá em cima. Mas também sofremos com o aumento do tempo das viagens. De Belo Horizonte para Ipatinga, no Vale do Aço, a gente gastava seis horas e meia. Com os desvios, a viagem chegou a demorar de 10 horas a 11 horas”, explica.
Os efeitos são sentidos não só no bolso do transportador, mas também no dos clientes e dos consumidores. “Se a gente demorava um dia para fazer uma entrega, nessa situação pode demorar até dois dias. É mais gasto com combustível, desgaste de pneu, suspensão. Só que nem todos os clientes entendem. A gente senta para negociar, mas não dá para repassar 100% do aumento. Acredito que a gente tenha conseguido repassar uns 70% dos custos para o frete”, calcula Lobato.
O empresário Ulisses Martins ressalta a precariedade das BRs 262 e 381, duas das rodovias mais importantes para o escoamento da produção não só de Minas, mas também do Brasil. “Com os desvios da BR–262, o tempo de viagem de BH ao Espírito Santo, que era de 12 horas, agora chega a 16 horas ou até 18 horas. Uma entrega que era para acontecer em 24 horas acaba demorando 36 horas ou até 48 horas. E isso afeta a produção de quem está esperando, o que gera prejuízos. Sem falar no risco de acidentes, que fica muito maior”, analisa Martins.
Para dar conta de cumprir os prazos, o empresário teve outro aumento de custo: antecipou a compra de um veículo. “A gente ia comprar só em julho. Mas nossa frota ficou reduzida, pois um caminhão está demorando mais para fazer o trecho”, justifica.
Coordenador de contas regionais da Fundação João Pinheiro, Raimundo Souza é um dos responsáveis pelo cálculo do PIB de Minas. Segundo ele, não é possível mensurar quantitativamente o impacto das chuvas nas condições das rodovias e os reflexos sobre a produção de riquezas no Estado. No entanto, se a discussão for qualitativa, Souza pode afirmar que os efeitos sobre a cadeia de transporte serão significativos. “O Valor Adicionado Bruto (VAB) do setor de transportes e armazenagem em Minas Gerais é R$ 26 bilhões, o que dá 4,5% do PIB estadual (com base em dados de 2019)”, explica.
Na avaliação de Souza, as estruturas de investimento em manutenção precisam ser reforçadas nos âmbitos municipal, estadual e federal. “Normalmente, quando se faz prevenção, o gasto é menor do que aquele para corrigir a destruição”, avalia.
Atenção aos números
37,2%: aumento médio do custo operacional provocado pelas más condições das rodovias em Minas Gerais
69,9%: das estradas que cortam Minas Gerais estão em condições regulares, ruins ou péssimas, segundo levantamento da CNT
Fonte: O Tempo