Seca muda a vida de moradores rurais de 128 cidades de MG: ‘Época mais triste’
“O período da seca é a época mais triste do ano, tanto para a natureza, quanto para o ser humano”. O pescador Clarindo Pereira dos Santos, de 54 anos, mora em Buritizeiro. A cidade do Norte de Minas e mais 127 municípios decretaram seca por meio da Defesa Civil do Estado. A falta de água é uma realidade na comunidade em que ele reside e em várias áreas rurais. Ações são desenvolvidas para levar até essas pessoas o líquido vital para a vida.
As regiões dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Norte e Nordeste de Minas são as mais afetadas com a falta de chuva, conforme explica o superintendente de gestão de desastres da Defesa Civil de Minas Gerais, major Eduardo Lopes.
“O desastre da seca está associado ao prejuízo da indisponibilidade de água nesta escassez hídrica ligada à climatologia da região”, diz. O major comenta que as áreas rurais são as mais afetadas e apresenta os motivos. “A seca afeta muito essas regiões pois existe falta de estrutura em termos de captação de água. Os reservatórios que utilizam são prejudicados pela evaporação da água por conta da baixa umidade. Isso requer muita atenção”, diz.
O cenário nas 127 cidades em situação de emergência é o pior possível, uma vez que para o município ter o decreto de seca homologado pelo órgão estadual, é preciso comprovar os danos humanos. “Pessoas afetadas por estar com dificuldade de ter acesso à água, prejuízo gerado na agricultura, pois a falta de água acaba expondo as pessoas a potencializar a vulnerabilidade”, elenca o major que é o superintendente de gestão de desastres.
A falta de água tem impactado no trabalho do senhor Clarindo. Quando O TEMPO conversou com ele, o pescador tinha acabado de chegar de uma pesca que durou uma semana. Ele relatou o cenário que encontrou no rio São Francisco com os colegas de trabalho.
“O rio está muito assoreado. É difícil trabalhar pois é muita areia e pouca água, o que dificulta o trabalho de todos nós pescadores. Durante a seca tem semana que conseguimos pescar apenas o necessário para sobreviver. Não é fácil. O pescado diminui uns 50%. É dificultoso”, afirma.
Os meses de agosto e setembro são os mais complicados na análise do pescador. “A plantação não vinga e acaba prejudicando tanto nós que moramos na zona rural quanto aqueles da urbana”, conta.
Os incêndios são outros problemas enfrentados durante este período do ano. Clarindo conta que o “coração chega a cortar”. “Se não bastasse a seca com o nosso São Francisco tão assoreado, o povo coloca fogo nos pastos. As chamas matam animais e plantas, por isso, digo que é o período mais triste”, destaca.
Ajuda
A Defesa Civil de Minas usa algumas estratégias para levar água até os afetados pela seca. “A ajuda humanitária acontece com a entrega de água potável para as famílias e cesta básica para os moradores em fragilidade alimentar. Estamos com o programa Água Doce que consiste no tratamento de água salobra em comunidades no semiárido, pois nestas regiões há ausência de água potável e queremos fazer a dessalinização”, detalha o major.
O projeto do Água Doce consiste na instalação de 69 estações no semi-árido mineiro e duas já foram entregues em Mato Verde. “Quatro estão em construção e as obras seguem em bom ritmo. Ao longo do ano vamos prosseguir e entregar todas”, promete.
Uso consciente
Itambacuri enfrentou em meados de 2015 a 2017 problemas de abastecimento durante o período da seca. Desde então, a artesã Gláuvia Pacheco de Araújo, de 41 anos, faz uma campanha entre os vizinhos para uso de água com cautela. “Aqui em casa nós já trabalhamos para evitar muito gasto pois temos medo da água faltar. É ela que move tudo”, afirma.
A artesã lamenta quem insiste em desperdiçar água mesmo sabendo da escassez de chuvas. “No meu bairro buscamos levar a consciência a todos os moradores e falamos sempre da necessidade de economizar água. Levamos este tema até mesmo nos grupos da igreja. Faltar água nunca é bom”.
Os decretos de seca tem validade de 180 dias e se encerrarão quando o período chuvoso estiver para começar, até lá, a Defesa Civil trabalha com a população sobre a necessidade de economizar água. “A seca tende a se agravar e a economia de água é importante. Este é um trabalho que precisa ser contínuo”, conclui o major.
Vejas as cidades que decretaram situação de seca:
- Águas Vermelhas
- Almenara
- Araçuaí
- Aricanduva
- Arinos
- Augusto de Lima
- Bandeira
- Berilo
- Berizal
- Bocaiúva
- Bonito de Minas
- Botumirim
- Brasília de Minas
- Buenópolis
- Buritizeiro
- Campo Azul
- Capelinha
- Capitão Enéas
- Caraí
- Carbonita
- Catuti
- Chapada do Norte
- Chapada Gaúcha
- Claro dos Poções
- Cônego Marinho
- Coração de Jesus
- Coronel Murta
- Crisólita
- Cristália
- Curral de Dentro
- Divisa Alegre
- Divisópolis
- Engenheiro Navarro
- Espinosa
- Felisburgo
- Formoso
- Francisco Badaró
- Francisco Dumont
- Francisco Sá
- Fruta de Leite
- Gameleiras
- Glaucilândia
- Gouveia
- Grão Mogol
- Guaraciama
- Ibiaí
- Ibiracatu
- Icaraí de Minas
- Indaiabira
- Itacambira
- Itacarambi
- Itambacuri
- Itaobim
- Itinga
- Jacinto
- Jaíba
- Janaúba
- Januária
- Japonvar
- Jequitaí
- Jequitinhonha
- Joaíma
- Joaquim Felício
- Jordânia
- José Gonçalves de Minas
- Josenópolis
- Juramento
- Juvenília
- Lagoa dos Patos
- Leme do Prado
- Lontra
- Luislândia
- Mamonas
- Manga
- Matias Cardoso
- Mato Verde
- Minas Novas
- Mirabela
- Miravânia
- Montalvânia
- Monte Azul
- Montes Claros
- Montezuma
- Ninheira
- Nova Porteirinha
- Novo Cruzeiro
- Novo Oriente de Minas
- Novorizonte
- Olhos-D’Água
- Padre Carvalho
- Pai Pedro
- Patis
- Pavão
- Pedra Azul
- Pedras de Maria da Cruz
- Pintópolis
- Pirapora
- Ponto Chique
- Ponto dos Volantes
- Porteirinha
- Riachinho
- Riacho dos Machados
- Rio Pardo de Minas
- Rubelita
- Rubim
- Salinas
- Santa Cruz de Salinas
- Santa Fé de Minas
- Santo Antônio do Jacinto
- Santo Antônio do Retiro
- São Francisco
- São João da Lagoa
- São João das Missões
- São João do Pacuí
- São João do Paraíso
- São Romão
- Serranópolis de Minas
- Setubinha
- Taiobeiras
- Teófilo Otoni
- Ubaí
- Umburatiba
- Urucuia
- Várzea da Palma
- Varzelândia
- Verdelândia
- Veredinha
- Virgem da Lapa
Sem crise hídrica
Nos municípios atendidos pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) nenhum município está desabastecido. “A Copasa esclarece que não há crise hídrica no Estado”.
A única cidade com rodízio de água é na localidade de Bom Jesus dos Cardosos, que pertence ao município de Urucrânia. A medida é necessária por conta da disponibilidade água na região ser escassa. “Para resolver o problema definitivamente, já está em andamento um projeto para realização de obras que irão eliminar as intermitências do abastecimento na localidade”, diz trecho da nota.
A Copasa ressaltou a realização de campanhas de conscientização sobre o uso racional da água junto a população. As ações somente não acontece no período eleitoral devido às restrições impostas pela legislação vigente.
Fonte: O Tempo