Mulher, fique ligada: é baixa a procura por mamografia preventiva em Minas
Apenas 24% das mulheres atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Minas Gerais e que fazem parte do público-alvo das ações de combate ao câncer de mama realizaram a mamografia de rastreamento em 2021. O percentual do Estado está muito distante dos 70% recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
A meta era que 906.329 mulheres de 50 a 69 anos, atendidas exclusivamente pela rede pública estadual, fizessem o exame preventivo no ano passado. Mas, segundo dados da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), o número de testes para essa faixa etária não ultrapassou 221.687 (entenda o cálculo abaixo).
A baixa procura pela mamografia preventiva não é exclusividade de Minas Gerais. Dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) mostram que o número de procedimentos realizados pelo SUS no país despencou durante a pandemia: a queda entre 2019 e 2020 chegou ao percentual de 42%. Em 2021, aumentou a procura de mulheres interessadas em fazer o exame, mas ainda está distante do patamar pré-pandemia.
Outubro Rosa. Nas próximas semanas, a campanha Outubro Rosa, promovida por instituições públicas e privadas, reforça as ações de prevenção do câncer que mais mata mulheres no país. “Nós temos os exames disponíveis, mas muitas vezes a mulher não os procura. As pessoas vivem num senso de urgência muito grande, querem resolver os problemas imediatos e acabam esquecendo a própria saúde”, lamenta o mastologista Gabriel de Almeida.
O médico esclarece que, ao deixar de lado a prevenção, a mulher assume o risco de descobrir um tumor depois que ele já está em estágio avançado. A consequência é a redução das chances de cura.
Entenda o cálculo
Para chegar ao percentual de 24%, a reportagem considerou apenas pacientes que dependem exclusivamente do SUS. Segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), 76% da população em Minas não tem plano de saúde. Assim, a estimativa é que, do total de 1.192.537 mulheres de 50 a 69 anos no Estado, 906.329 dependam do SUS.
Exame é indicado mesmo sem sintoma
A mamografia de rastreamento está entre os exames de rotina recomendados pelo Ministério da Saúde para mulheres entre 50 e 69 anos. Ela é indicada para quem não apresenta sintomas e, segundo o órgão, deve ser feita a cada dois anos. Para solicitar o exame, é preciso procurar a Unidade Básica de Saúde do bairro.
Segundo a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais, caso a mulher apresente sintoma, em qualquer idade, a equipe de Atenção Primária à Saúde a encaminha “para os serviços de referência em consulta com mastologista e demais procedimentos, para continuar a investigação”. (CS)
Cura
Se diagnosticado e tratado precocemente, o câncer de mama tem até 90% de chance de cura, segundo a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc).
Pandemia
A Secretaria de Estado de Saúde diz que a redução das mamografias se deu pela pandemia. Foram adotados critérios de atendimento e houve muitos cancelamentos de exames. Segundo a secretaria, os serviços de Atenção Primária à Saúde (APS) são responsáveis por captar as mulheres assintomáticas na faixa etária de 50 a 69 anos.
Busca ativa com saúde da família
O mastologista Gabriel de Almeida avalia que o melhor caminho para melhorar a cobertura de mamografias preventivas no Sistema Único de Saúde (SUS) seria usar a estrutura das equipes de saúde da família. Assim, é possível chegar a um maior número de pacientes que precisam fazer o exame.
“Nós não temos esse rastreamento. Poderíamos trabalhar na busca ativa das mulheres, já que temos um sistema de saúde tão organizado e que poderia fazer isso”, considera médico Gabriel de Almeida.
Acolhimento. Um projeto de lei que aguarda sanção presidencial pode agilizar o diagnóstico e tratamento de pacientes do Sistema Único de Saúde. Aprovado pela Câmara dos Deputados, o Programa Nacional de Navegação visa individualizar o atendimento às mulheres e acelerar os exames. (CS)
Fonte: O Tempo