Cresce 5,4% o número de mortes em crimes violentos em Minas Gerais
A cada dia, pelo menos sete pessoas morrem vítimas da criminalidade em Minas Gerais. Os dados da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais (Sejusp) apontam que foram 235 casos de homicídios consumados somente no mês de janeiro, período do último balanço feito pelo órgão. A média deste ano é superior a dos anos de 2022 e 2021, com pelo menos seis casos por dia. Em 2021, foram 2.366 vítimas do crime de homicídio, já no ano passado, a Secretaria registrou 2.494 casos, o que indica um crescimento de 5,4%.
“Isso, na verdade, é uma retomada da violência, que é uma característica da nossa sociedade. Agora, com a flexibilização das medidas impostas pela pandemia, é esperado que este número aumente. Esse, infelizmente, é um marco da nossa população, somos um dos países mais violentos do mundo”, avalia o especialista em segurança pública Jorge Tassi. Para ele, os números, que alertam para uma realidade preocupante para as autoridades de segurança, podem ser ainda piores, já que existe uma subnotificação no registro destes crimes. “Isso é uma coisa clara e os casos de pessoas desaparecidas são exemplos. Muitos deles não tem um desfecho, não sabemos e é possível que nunca saibamos se aquela pessoa morreu”, justifica.
O levantamento da Sejusp considera os casos registrados em boletins de ocorrências feitos pelas polícias Militar e Civil, pelo Corpo de Bombeiros, além dos sistemas Prisional e Socioeducativo de todo o Estado. Os números, segundo a Secretaria, estão associados à quantidade de vítimas e não de ocorrências. A Sejusp explica que em casos com duas ou mais vítimas, todas estão incluídas no levantamento.
Para a pesquisadora Ludmila Ribeiro, do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a motivação desses crimes pode estar relacionada aos impactos econômicos, provocados pela pandemia da Covid-19, mas outros fatores, como o tráfico de drogas, possuem um protagonismo maior nestas ocorrências.
“O que a gente tem percebido é que o aumento é de crimes violentos e não de crimes patrimoniais. Por isso eu acredito que o que temos acompanhado agora é que as disputas, que antes estavam restritas ao ambiente doméstico, agora voltaram para as dinâmicas das ruas, sobretudo nos mercados ilegais”, explica.
Os dados da Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais reforçam a tese da pesquisadora sobre o aumento da violência no ambiente doméstico durante o período de pandemia. De acordo com o levantamento, o número de feminicídio, que consiste no assassinato de mulher em função do gênero, aumentou 11,84% de 2020, primeiro ano da pandemia da Covid-19, para 2022. Ao todo, foram 152 casos de feminicídio consumado no primeiro ano da crise sanitária e 170 no ano passado.
O especialista em segurança pública Jorge Tassi aponta que essa escalada dos casos exige das autoridades de segurança e governamentais ações de curto, médio e de longo prazo para o enfrentamento da violência. “De forma mais imediata, é importante orientar as pessoas sobre o que elas devem fazer para evitar ser vítimas, mostrar para elas como esses crimes funcionam. Junto a isso é importante também ajudar a atuação do policiamento. Agora, pensando em médio prazo, é preciso reforçar a atuação contra o tráfico de drogas. O que a gente tem visto é a polícia apreendendo drogas e não o traficante, e o que a gente vê hoje é que esses autores saíram das favelas e estão junto da classe média”, orienta.
Essa também é a avaliação da pesquisadora Ludmila Ribeiro, do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A especialista também reforça a necessidade de ações mais efetivas na prevenção destes delitos. “É importante agir contra esses mercados ilegais, mas de forma antecipada. Evitar que eles tenham acesso às armas, por exemplo. Agora, pensando em longo prazo, temos que investir na educação para oferecer ao ser humano alternativas para que ele não se envolva com a criminalidade”, completa.
Crimes violentos diminuem em Minas
Apesar do aumento no número de casos de homicídios entre 2021 e 2022, a Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública de Minas Gerais afirma que houve a redução de 2,58% nos casos de crimes violentos neste mesmo período. Conforme a Secretaria, são classificados como crimes violentos 13 tipos de delitos. São eles: homicídio consumado e tentado, feminicídio, violência doméstica, estupro consumado e tentado, estupro de vulnerável consumado e tentado, extorsão mediante sequestro consumado, sequestro com cárcere privado tentado, extorsão tentado, roubo consumado e tentado.
De acordo com o levantamento, o crime de sequestro e cárcere privado tentado é o que apresentou a maior redução, com queda de 22,22%. Ele é seguido pelo estupro de vulnerável tentado, com redução de 20,97%, e o de extorsão tentado, com 14,51%. A Sejusp destaca ainda que, em 2022, houve 900 registros a menos de roubo consumado e 127 a menor de roubo tentado em comparação a 2021. “O roubo consumado é o elemento que mais pesa na composição do indicador, de forma que a variação dele, permanentemente em queda, reverbera em uma sensação de maior segurança para todos”, disse a Secretaria em nota.
Fonte: O Tempo