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Menos de um quinto das escovas de dente segue padrões necessários, indica estudo

Redação14 de abril de 20237min0
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Faculdade de Saúde Pública da USP avaliou 345 exemplares comprados em comércios de 26 cidades

Nada de cerdas em zigue-zague, intercaladas com borrachas ou distribuídas em arranjos desiguais. Uma escova de dentes adequada é simples: requer ao menos 18 tufos, cada um com 80 cerdas arredondadas e polidas. Ainda assim, de 345 exemplares adquiridos em 26 cidades paulistas, apenas 60 (17,4%) apresentaram essas características, revela uma pesquisa realizada na Faculdade de Saúde Pública da USP.

O estudo, conduzido por Sônia Regina Cardim de Cerqueira Pestana e orientado por Paulo Capel Narvai, aponta que apenas uma das sete escovas manuais para bebês era adequada. Entre os modelos infantis, 14 das 105 unidades avaliadas seguia os parâmetros e, entre aquelas destinadas a adultos, 45 eram adequadas, contra 188 inadequadas.

A análise foi realizada em dois níveis: a olho nu e com microscópio. Na primeira parte, foram examinados o formato do cabo e da cabeça de cada exemplar, e mais de 70% da amostra foi considerada nos padrões ideais.

Já na segunda parte, as cerdas foram observadas em microscópio – e foi aí que apareceram os problemas. A maioria dos produtos apresentava um número de cerdas inferior ao necessário e dimensões diferentes das preconizadas: comprimento entre 9 mm e 10 mm e diâmetro de 0,18 mm para adultos e 0,13 mm para crianças.

Além disso, poucas cerdas tinham as pontas polidas e arredondadas. Em sua maioria, as extremidades eram retas e dilaceradas.

“Milímetros de diferença no formato do cabo ou na cabeça não interferem na adequação. Eles podem afetar a ergonomia, mas não tornam o instrumento inadequado para uso. O que é determinante para tornar o produto adequado são as cerdas, seu tipo de ponta e a quantidade”, ressalta a pesquisadora, que atua no Cecol (Centro Colaborador do Ministério da Saúde em Vigilância da Saúde Bucal) e é professora de odontologia da Universidade de São Caetano do Sul.

Pestana conta que a investigação teve início em 2017, quando ela ingressou no doutorado sob orientação de Narvai. Ele tinha um desejo antigo de estudar as escovas de dente, instrumento que apesar do uso generalizado é tema de poucas pesquisas, e ela gostou da proposta.

A primeira fase consistiu em um levantamento bibliográfico, que confirmou a existência de um número limitado de estudos. Depois, veio a análise das normas referentes a instrumentos de saúde bucal. “Ao estudar as normas, percebemos como são frágeis e isso aumentou nossa vontade de pesquisar as escovas”, diz.

Em seguida, foram sorteadas 24 cidades paulistas, seis de cada porte. Além dessas, Pestana acrescentou o menor município paulista, Borá, com população estimada em 839 pessoas, e a capital, com 12 milhões de habitantes, totalizando 26 localidades.
Ela viajou a cada um dos municípios e visitou farmácias, supermercados e lojas de conveniência para adquirir os diferentes modelos. Excluídas as escovas repetidas, chegou à amostra com 345 unidades.

Pestana definiu as categorias de análise a partir do padrão mínimo apontado por Charles Bass, americano pioneiro no estudo das escovas de dente, e deu início ao levantamento que indicou as inadequações.

“Temos hoje no mercado escovas de 500 até 7.000 cerdas. Então posso ter uma escova com 700 cerdas que vai durar muito pouco ou uma de 6.000 com diâmetro da cerda muito inferior ao padrão”, afirma. “E isso não tem relação com preço ou marca.”

Ela também levou em consideração as normas vigentes à época e, na versão revisada do estudo, incluiu a nova resolução, de março de 2022.

“A norma não apresenta as características necessárias de forma mais contundente e afirma que 80% das cerdas aplicadas na escova devem apresentar acabamento mínimo aceitável. Não dá para aceitar que 20% não sejam arredondadas, é uma margem muito grande”, critica.

Segundo a professora, as diferenças nas cerdas não alteram a remoção da placa bacteriana: todas as escovas têm essa capacidade. Contudo, cerdas inadequadas podem provocar microfissuras na gengiva, ocasionando dor após a escovação, e levar ao desgaste no esmalte do dente, o que após um período prolongado pode ocasionar hipersensibilidade. “Consideramos a norma frágil e isso é grave porque o consumidor não sabe o que está comprando.”

De acordo com a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), as escovas são produtos isentos de registro e sua comercialização no país é condicionada à comunicação prévia por meio de notificação e ao atendimento dos requisitos técnicos descritos na resolução.

O órgão afirma que a agenda regulatória 2021-2023 não prevê alterações na resolução atual, mas a área técnica responsável avaliará a possibilidade de incluir uma revisão da norma na agenda 2024-2026.

A agência diz ainda que os resultados do estudo conduzido na USP serão avaliados e destaca que quaisquer problemas com produtos cosméticos, incluindo as escovas dentais, pode ser notificado. “Tais informações são importantes para o trabalho de monitoramento”, ressalta. As notificações podem ser feitas na página da Anvisa.

(Stephanie Piovezan / Folhapress)

Redação


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