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Minas tem primeiro caso confirmado de raiva humana em 2023

Redação18 de abril de 20239min0
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Criador de gado no Leste de Minas contraiu a doença após examinar bezerro

Um criador de gado de 60 anos de Mantena, no Leste de Minas, teve diagnóstico confirmado para raiva humana. Ele está internado em um hospital na Grande Vitória, no Espírito Santo, e o governo capixaba confirmou o caso.

Em nota enviada à reportagem nesta terça-feira (18), a Secretaria da Saúde do Espírito Santo (Sesa-ES) informa que foi notificada, na última quinta-feira (13), sobre um caso suspeito de raiva humana em um paciente residente em Minas Gerais e que foi hospitalizado já no estado capixaba. “Após análises realizadas pelo Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal (Idaf), o caso foi confirmado para raiva humana nesse sábado (15), e as atualizações estão sendo enviadas às autoridades sanitárias”, diz a nota.

O paciente foi transferido para uma unidade hospitalar da Grande Vitória, onde segue internado recebendo atendimento. A Sesa informa, ainda, que já se reuniu com o Idaf para traçar ações a serem executadas com o objetivo de prevenção e controle da doença.

O homem de 60 anos é morador de Mantena e foi atendido, inicialmente, no Hospital Estadual Dr. Alceu Melgaço Filho em Barra do São Francisco (ES), no dia 7 de abril. O paciente apresentava quadro de confusão mental e evoluiu para piora clínica que
culminou em transferência ao CTI (8 de abril) desse mesmo hospital, momento em que foi aventada a hipótese diagnóstica de raiva humana.

Amostras laboratoriais foram colhidas para a realização de exames. Familiares relataram ao médico que dias antes do início de sintomas, o homem manuseou um bezerro apresentando comportamento atípico e salivação excessiva. O homem achou que o animal estava engasgado e colocou o braço na boca do animal na tentativa de desengasgá-lo. Dias depois, o bezerro apresentou piora do quadro e foi tomada a decisão de sacrificá-lo e incinerá-lo. Tal decisão foi tomada no intuito de evitar possível disseminação de doença a outros animas.

O criador de gado não aventou a possibilidade de que poderia ser um quadro de raiva animal e deixou de procurar pelos serviços de saúde do município para profilaxia pós- exposição. “Passados alguns dias, o homem começou a apresentar manifestações
clínicas neurológicas e procurou o serviço de urgência do município de Mantena que, ao compreender a gravidade do quadro, o transferiu para hospital do ES, haja vista a proximidade geográfica”.

O paciente permanece internado em estado crítico. E, na madrugada do dia 16 de abril, considerando a gravidade do quadro, foi realizada a transferência para o Hospital Estadual Dr. Jayme dos Santos Neves, no município de Serra-ES.

Transmissão da raiva

A raiva é transmitida ao homem pela saliva de animais infectados, principalmente por meio da mordedura, podendo ser transmitida também pela arranhadura e/ou lambedura desses animais. “É uma doença viral que acomete principalmente os mamíferos. Esse é um vírus que tem uma afinidade pelo cérebro”, explica o infectologista.

O período de incubação é variável entre as espécies, desde dias até anos, com uma média de 45 dias no ser humano, podendo ser mais curto em crianças. Ele está relacionado à localização, extensão e profundidade da mordedura, arranhadura, lambedura ou tipo de contato com a saliva do animal infectado; da proximidade da porta de entrada com o cérebro e troncos nervosos; concentração de partículas virais inoculadas e cepa viral.

“É um vírus que sempre vai se direcionar para os nervos, infectando as células. Nos neurônios, ele encontra um mapa, como se fosse um caminho, para chegar ao cérebro. Os efeitos disso, geralmente, são graves”, explica o médico infectologista Adelino Ferreira.

Nos cães e gatos, a eliminação de vírus pela saliva ocorre de 2 a 5 dias antes do aparecimento dos sinais clínicos e persiste durante toda a evolução da doença (período de transmissibilidade). A morte do animal acontece, em média, entre 5 e 7 dias após a apresentação dos sintomas. Não se sabe ao certo qual o período de transmissibilidade do vírus em animais silvestres. Entretanto, sabe-se que os quirópteros (morcegos) podem albergar o vírus por longo período, sem sintomatologia aparente.

Sintomas

Para o médico infectologista Adelino Ferreira, as primeiras alterações são sensitivas, com alteração de sensibilidade, coceira, principalmente na região que foi infectada. “Depois isso começa a evoluir para as regiões centrais, com alteração da capacidade cognitiva, insônia, ansiedade. São alguns dos sintomas que fazem parte desse quadro inicial”, aponta.

Após o período de incubação, surgem os sinais e sintomas clínicos inespecíficos da raiva, que duram em média de 2 a 10 dias. Nesse período, o paciente apresenta:

  • mal-estar geral;
  • pequeno aumento de temperatura;
  • anorexia;
  • cefaleia;
  • náuseas;
  • dor de garganta;
  • entorpecimento;
  • irritabilidade;
  • inquietude;
  • sensação de angústia.
  • Podem ocorrer linfoadenopatia, hiperestesia e parestesia no trajeto de nervos periféricos, próximos ao local da mordedura, e alterações de comportamento.

A infecção da raiva progride, surgindo manifestações mais graves e complicadas, como:

  • ansiedade e hiperexcitabilidade crescentes;
  • febre;
  • delírios;
  • espasmos musculares involuntários, generalizados, e/ou convulsões.
  • Espasmos dos músculos da laringe, faringe e língua ocorrem quando o paciente vê ou tenta ingerir líquido, apresentando sialorreia intensa (“hidrofobia”).
  • Os espasmos musculares evoluem para um quadro de paralisia, levando a alterações cardiorrespiratórias, retenção urinária e obstipação intestinal. Observa-se, ainda, a presença de disfagia, aerofobia, hiperacusia e fotofobia.

Prevenção e Tratamento

A raiva é uma doença quase sempre fatal, para a qual a melhor medida de prevenção é a vacinação pré ou pós exposição. Quando a profilaxia antirrábica não ocorre e a doença se instala, pode-se utilizar um protocolo de tratamento da raiva humana, baseado na indução de coma profundo, uso de antivirais e outros medicamentos específicos.

“A prevenção passa, primeiro, pelo monitoramento dos casos. É uma questão de saúde pública. Ter notificação obrigatória em casos em humanos e em animais”, explica o especialista. Ferreira aponta ainda a necessidade das campanhas de vacinação. “É uma estratégia essencial de controle, seja em rebanho ou em animais de estimação”, completa. Para o médico infectologista, as pessoas que se envolverem em algum acidente com animal suspeito devem procurar uma unidade de saúde. “São necessárias algumas médicas, um tratamento da ferida e outros que são complementares”, orienta.

Fonte: O Tempo

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