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Mais de 60% das crianças desaparecidas em MG entre 2020 e 2022 não foram achadas

Redação25 de maio de 20239min0
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Ao todo, 507 pessoas com menos de 12 anos sumiram no Estado nestes três anos, mas apenas 198 delas acabaram encontradas

As famílias de 309 crianças desaparecidas em Minas Gerais entre 2020 e 2022 continuam sem qualquer resposta sobre o paradeiro dos pequenos. O dado, que indica que 61% das crianças desaparecidas no Estado não foram localizadas, faz parte de um relatório diagnóstico divulgado pela Polícia Civil nesta quinta-feira (25 de maio), Dia Internacional das Crianças Desaparecidas.

Segundo o documento da instituição policial, no intervalo de três anos foram registrados cerca de 507 desaparecimentos de crianças (de 0 a 12 anos), mas apenas 198 delas foram localizadas, o que corresponde a cerca de 39%. As outras 309 vítimas de desaparecimento seguem sendo procuradas pelos familiares.

Esperança do reencontro

Em fevereiro de 1976, a mineira Cecília São José Faria, então com 1 ano e 9 meses, desapareceu em um acampamento na cidade de Guarapari, no Espírito Santo. A mãe da menina morreu em 2021 e o pai dela sofre de Alzheimer, mas sua irmã, Débora São José de Faria Pereira, de 52 anos, é a prova viva do velho ditado que diz que a esperança é a última que morre.

“Eu tenho muita esperança de ainda encontrá-la. Infelizmente, minha mãe faleceu, a gente fazia de tudo para a encontrar antes disso acontecer. Assim minha mãe poderia conviver com ela  e saber o fim dessa história. Hoje (quinta) quando você me ligou, foi um choque, pois cada vez que me ligam, eu fico nessa mistura de sentimentos: a esperança de que vai reacender o caso, e talvez ela apareça, e, também, a tristeza de ainda não termos nos reencontrado”, detalha.

Sobre as pouco mais de 300 crianças desaparecidas nos últimos três anos, Débora pede que, assim como ela, as famílias não percam a esperança. “Está muito próximo ainda. Estamos no século XXI, temos tanta tecnologia para nos ajudar. Então, o que posso dizer é para eles não desistirem, tem que correr atrás, pois, enquanto a gente não vê a pessoa, viva ou morta, fica aquele negócio, não é? O tempo inteiro você tem esperança. Já são quase 50 anos, e a gente ainda não perdeu a esperança”, completou.

Fenômeno complexo

A delegada Bianca Landau, da Divisão de Referência da Pessoa Desaparecida (DRPD), explicou, em coletiva de imprensa, que o desaparecimento é um fenômeno complexo, e que varia bastante de acordo com o gênero e a faixa etária.

“As crianças são o grupo que menos desaparece (2,48% do total). O maior número de registros é de homens acima de 18 anos (64,7%). Porém, ao ter o desaparecimento de uma criança, adolescente ou idoso, a gente precisa ligar o alerta, pois são pessoas em desenvolvimento ou vulneráveis. Por isso, pedimos sempre que as pessoas compareçam à delegacia para registrar o desaparecimento e possamos investigar”, pontuou a delegada.

Motivos diferentes

Ainda conforme a policial, o sumiço de crianças costuma ter motivações diferentes das dos adolescentes, mas, normalmente, envolvem os conflitos familiares, que vão desde violência à uma convivência ruim e outros desentendimentos comuns.

Para se ter ideia, em 71,26% dos acionamentos da Polícia Civil por crianças que somem trata-se da primeira ausência (a primeira vez que a criança sai de casa sozinha). O conflito familiar só aparece como segundo maior motivo, com 21,85%. Já entre os adolescentes (de 13 aos 18 anos), o conflito familiar corresponde a 34,14% dos casos e a primeira ausência a 55%.

“Ao longo das investigações, temos visto crianças que são aliciadas em bate-papos na Internet. Por isso, pedimos que os pais acompanhem as páginas que os filhos acessam. Isso é uma coisa que tem ocorrido, crianças que saem de casa para encontrar com alguém que combinou na internet”, alerta Bianca.

Ainda segundo a policial, no caso de adolescentes os principais motivos são, entre as meninas, os conflitos familiares. “Querem namorar e os pais não autorizam, por exemplo. Já entre os meninos, muitas vezes é em função do uso de drogas e da criminalidade”, acrescenta.

Subnotificação

Apesar dos dados estatísticos da instituição apresentarem um diagnóstico do desaparecimento de pessoas no Estado, a Polícia Civil alerta que, apesar da “robustez” dos números, pode haver uma subnotificação tanto do desaparecimento quanto do encontro de pessoas.

“Muitas pessoas retornam ao lar, voluntariamente, e as famílias não vão à delegacia informar o encontro. Então, ela continua como desaparecida, mesmo tendo retornado ao lar. Além disso, temos outros fenômeno, que são os casos de sumiços que não são notificados. As famílias não informam nas delegacias e fazem uma investigação por contra própria”, destacou a delegada Bianca Landau.

Registro do desaparecimento e investigação

Conforme a delegada da Divisão de Referência da Pessoa Desaparecida de Minas Gerais, Bianca Landau, o registro do boletim de ocorrência deve ser feito logo após qualquer suspeita de desaparecimento. “Não é preciso esperar um prazo para registrar, é importante avisar a polícia logo quando tem a suspeita”, orienta.

Landau destaca que durante o registro do documento, a polícia solicita uma foto da pessoa desaparecida, que deverá ser divulgada, a fim de colaborar com a investigação. “Esses cartazes, com os retratos e os nomes das vítimas são importantes para auxiliar nos trabalhos. As pessoas que veem esses cartazes e que acham que viram essas pessoas em algum lugar podem repassar essas informações”, destaca.

O tempo, segundo a delegada,  é o principal desafio para os investigadores. Apesar das informações se tornarem mais escassas com o passar dos anos, os casos não são abandonados. “A gente continua investigando até a pessoa ou restos mortais dela serem localizadados”, garante Landau.

Material genético

Nesse processo, a fim de dar uma resposta para as famílias, os investigadores coletam material genético de pessoas próximas ao desaparecido. O procedimento é feito com a finalidade de possibilitar a identificação dos desaparecidos por meio de exames e bancos de perfis genéticos. “A gente precisa considerar que isso é importante porque um cadáver desconhecido é um desaparecido em potencial”, destaca a delegada.

São válidas amostras do pai ou da mãe, de filhos, de irmãos ou de alguém com quem a pessoa desaparecida teve filhos. Em Minas, o processo é conduzido pela Polícia Civil. A coleta do material genético faz parte da Política Nacional de Busca de Pessoas Desaparecidas, criada com a Lei 13.812, em 2019.

Saiba como ajudar

Se você tem informações sobre pessoas desaparecidas ou precisa registrar o desaparecimento de alguém, procure a polícia ou ligue para o número 0800 28 28 197.

Fonte: O Tempo

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