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Mioma uterino afasta do trabalho 86 mulheres por dia; entenda doença

Redação5 de junho de 202311min0
Sick woman with hands on stomach suffering from intense pain
Entre janeiro e junho de 2022, o INSS recebeu 18.202 pedidos, sendo a principal causa de afastamentos no sistema do instituto

O leiomioma uterino, ou simplesmente mioma, é a principal causa de afastamentos do trabalho no Brasil. Dados preliminares do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) mostram que, entre janeiro e julho de 2022 (211 dias), foram 18.202 pedidos de afastamento em decorrência da doença. Em Minas, durante todo o ano de 2022, foram 414 cirurgias desse tipo realizadas por meio do Sistema Único de Saúde (SUS).

A frequência desses pedidos, segundo especialistas, pode estar relacionada com a incidência da doença na população feminina. De acordo com a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), estima-se que 80% das mulheres em idade fértil tenham miomas em algum momento. A indicação cirúrgica (motivo dos afastamentos computados pelo INSS), no entanto, não é para todos os casos, pois, na maior parte deles, a mulher não chega nem a precisar de tratamento.

Recuperação demorada

A confeiteira Elisângela Frade, 44 anos, é uma dessas mulheres que precisou passar por cirurgia. No caso dela, foi necessário retirar o órgão por causa da gravidade do mioma, que foi descoberto após a paciente procurar o médico devido ao ciclo menstrual mais demorado que o normal. “Eu ficava menstruada até 30 dias, tinha muita cólica e anemia, tive que tomar injeção de ferro. Eu tomava a injeção, melhorava, no outro mês eu perdia tudo de novo”, lembra. “O remédio que eu tive que tomar para diminuir o mioma não diminuiu, e ele continuou a crescer. Até o ponto de precisar da cirurgia”, comenta.

O tempo de recuperação foi muito demorado, segundo Elisângela. Ela chegou a ficar três meses sem exercer sua profissão, por conta das dores causadas pelos pontos. “Eu tinha muitas dores, tomava medicamentos fortes, fiquei um mês de repouso e só me senti melhor depois de três meses, eu não conseguia nem dirigir porque doía a barriga quando forçava o pé”, conta. “Era um mioma muito grande, não tinha como sair sem ser cortando minha barriga”, explica.

A confeiteira conta ainda que os ovários foram preservados e, por esse motivo, não vai sentir os efeitos da menopausa nem precisar fazer reposição hormonal. “A gente sente mal estar, calafrio, calor no rosto, tem a tendência a entrar na menopausa, mas como o ovário ficou, isso melhorou com o passar do tempo”, conta. Além disso, com duas filhas, de 23 e 17 anos, a retirada do órgão não foi um problema no quesito infertilidade.

Doença comum no universo feminino

O leiomioma ou mioma uterino é um tumor benigno muito comum e , na maioria das vezes, não provoca sintomas. Ele afeta cerca de 80% das mulheres em idade fértil. Segundo a Febrasgo, de origem ainda desconhecida, os miomas podem estar relacionados com alterações genéticas.

A ginecologista e especialista em Reprodução Assistida, Cláudia Navarro, explica que a indicação para cirurgia depende da forma como ele se apresenta. “Ele só vai ter indicação cirúrgica se for um mioma muito grande, que está causando dor ou sangramento aumentado, ou se for um mioma que esteja presente na cavidade do útero, o que a gente chama de mioma submucoso, e que precisa ser retirado”, diz.

Quando indicadas, as intervenções cirúrgicas mais comuns são:

  • laparotomia ou cirurgia convencional – forma que pode não preservar o útero (como foi o caso da Elisângela)
  • histeroscopia cirúrgica (técnica minimamente invasiva, feita através da vagina)
  • videolaparoscopia (minimamente invasiva, feita por meio de incisões no abdômen)
  • robótica (variação da laparoscopia com uso de equipamentos avançados).

Segundo a médica, geralmente as cirurgias são feitas com intenção de preservar o útero, pois, em muitos casos, a mulher quer ter filhos. “Muitas vezes você consegue retirar os miomas sem retirar o útero. Pode ser que, na hora da cirurgia, o médico veja que está tendo um sangramento muito grande e não será possível manter o útero. Nesse caso, pode ser necessária a retirada do órgão. Mas são casos extremos e decisões tomadas para conservar a vida daquela paciente”, explica.

Mioma causa infertilidade

Além da infertilidade causada pela retirada do útero, a doença em si também pode dificultar uma gravidez, como no caso de miomas que são muito grandes ou estão na cavidade do útero. “A dificuldade para engravidar pode estar relacionada com uma diminuição da vascularização do endométrio e da cavidade uterina, onde o embrião vai se implantar”, explica. O embrião também pode ter dificuldade de se implantar quando há “miomas intramurais muito grandes, aqueles que crescem dentro da musculatura do útero, que é o mais comum, ou quando é um mioma submucoso”, diz.

“É importante destacar, no entanto, que grande parte das mulheres com infertilidade podem ter mioma e ele não ser a causa daquela infertilidade. É preciso que se pesquise outros fatores relacionados”, pondera a médica. Para as mulheres que não têm filhos e descobriram mioma recentemente, Cláudia sugere fazer acompanhamento com especialista anualmente, para avaliar o comportamento do mioma.

Diagnóstico e malignidade

De acordo com a especialista, os principais exames que vão identificar os miomas são os de imagem. “O mais comum é o ultrassom transvaginal. Em alguns casos, pode ser que sejam necessários exames de imagem um pouco mais complexos, como, por exemplo, uma ressonância magnética. Mas geralmente o ultrassom transvaginal já é suficiente para que se tenha o diagnóstico”, diz.

A especialista lembra ainda que a transformação de um mioma benigno em maligno acontece em uma porcentagem mínima. “Se você fizer seu controle ginecológico anual, com certeza vai ver se aquele mioma teria uma chance maior de malignizar”, afirma. Ela explica que o médico percebe isso nos miomas que apresentam muita vascularização e que crescem muito rápido. “Mas é extremamente raro”, pondera.

Afastamentos pelo INSS consideram o número do CID

Apesar de estar no topo da lista do INSS, se fosse considerada outra forma de classificação, o mioma uterino não seria a condição mais comum para afastamentos do trabalho. O presidente da Sociedade Mineira de Medicina do Trabalho (AMIMT), Filipe Pacheco, conta que questões osteomusculares, como as dores lombares, são as mais frequentes no quesito afastamento. O que acontece é que essas doenças são diluídas em números diferentes do Código Internacional de Doenças (CID), pois dependem do diagnóstico e do olhar do médico.

Para se ter uma ideia, no ranking de 2021 apresentado pelo órgão, aparece em 3º lugar a dor lombar baixa, com CID M54.5, e em 5º lugar, os transtornos de discos lombares e de outros discos intervertebrais com radiculopatia, com CID M51.1. “Se todos os médicos caracterizassem a dor lombar em um único CID, esse número seria maior”, diz o médico.

O médico também observa que é muito comum ter afastamento por lesões como fratura. Na mesma tabela do INSS, a fratura da extremidade distal do rádio, ou lesão no punho, CID S 52.2 é a segunda causa de afastamento em 2022, enquanto a fratura de outros dedos, CID S 62.6, figura em sexto lugar.

Papel das empresas

O especialista lembra que, apesar de existirem casos de afastamento que não podem ser evitados – como o leiomioma, toda empresa deve realizar campanhas de conscientização para cuidar da saúde dos funcionários. “A medicina no trabalho tem duas grandes vertentes, a prevenção de adoecimentos no ambiente de trabalho e a promoção geral da saúde”, diz Pacheco.

Ele lembra que existem casos que o próprio trabalho vai afetar a saúde. “Aí a gente tem uma atividade forte na questão de ergonomia, indo desde escritório até um canteiro de obras, fábricas”, exemplifica. No entanto, muitas questões osteomusculares são causadas pelo tempo e são degenerativas. Mas ainda assim é possível que a empresa atue pensando na saúde do funcionário. “Tem que estimular atividade física, melhores hábitos de alimentação”, diz. Além, claro, de realizar campanhas de conscientização sobre doenças como o câncer de mama e câncer de próstata.

Fonte: O Tempo

Redação


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