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Viver o momento ou planejar o futuro: como equilibrar a balança?

Redação28 de agosto de 20237min0
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Psicólogo observa que as pessoas devem tomar cuidado com decisões impulsivas e excessos quando buscarem por uma vida com mais qualidade

Há um ditado que diz que a vida começa aos 40. A crença é tão forte que já apareceu no cinema em pelo menos duas ocasiões: uma em 1935, baseada no livro “Life Begins at Fourty”, do psicólogo Walter B. Pitkin; e a outra em 2006, na comédia sueca de Colin Nutley. Estudos científicos, porém, contrariam essa ideia, apontando que é possível que a vida – ou que a felicidade, pelo menos – atinja seu ápice depois dos 50.

Um deles, realizado por economistas da Dartmouth College, nos Estados Unidos, e da Universidade de Warwick, na Inglaterra, aponta que as pessoas costumam ser mais felizes após completarem cinco décadas de vida. Conforme o estudo, os níveis de bem-estar poderiam ser representados em gráficos no formato U, o que demonstraria que esses índices estariam mais altos entre os 20 e 25, mas caíram entre os 30 e 40 anos, voltando a subir, somente, após os 50.

A vivência e a idade também provocam mais alterações. Conforme outra pesquisa, essa desenvolvida na Universidade de Stony Brook, nos EUA e publicada no periódico “Proceedings of the National  Academy of Sciences”, níveis de estresse e raiva – indicativos negativos de bem-estar – chegariam ao ápice aos 50 anos, mas passariam por um forte declínio a partir dessa idade. A felicidade e a satisfação, por outro lado, começavam a subir a partir dos 54 anos e chegavam ao maior nível nos 70.

Diante desses resultados, parece plausível seguir a máxima de que o trabalho vem em primeiro lugar e o prazer deve esperar um pouco. Há, inclusive, muita gente que espera pela aposentadoria para poder viver tudo aquilo que nunca viveu. Mas será que vale mesmo a pena se sacrificar antes de colher os louros? Psicólogos acreditam que não.

A resposta para esse, que é um grande dilema enfrentado por muita gente, não está também na crença contrária. Viver o momento ou planejar o futuro não são escolhas antagônicas, mas sim ideias que devem ser trabalhadas em equilíbrio. “É preciso encontrar uma harmonia entre desfrutar o agora ou esperar pelo amanhã, mas principalmente tendo cuidado com as escolhas impulsivas”, pontua o psicólogo clínico João Gabriel Grabe.

Para exemplificar a situação, ele cita o período de pagamento do salário. “A pessoa pode pensar em aproveitar tudo o que tem para aproveitar por não saber nada sobre o dia de amanhã, mas é importante ter cautela e cuidado para não cair em um consumo impulsivo, por exemplo. Tudo aquilo que vai para um excesso ou um extremo pode ser perigoso”, orienta.

Segundo João Gabriel é importante considerar o agora, incluindo momentos de diversão e lazer na rotina diária, mas também se preocupar com o futuro e com o estilo de vida que pretendem ter.

A orientação do psicólogo aparece em sintonia com aquilo que a jornalista e escritora Maria Tereza Gomes acredita. Autora do livro “Coisas Que Aprendi Com O Tempo” (Almedina Brasil), obra que reúne textos que exploram os dilemas do envelhecimento, do trabalho e da saúde depois dos 50, ela ressalta que é importante encontrar esse equilíbrio, mas avalia também que a decisão entre viver o agora ou planejar é algo pessoal.

“Cada pessoa tem uma tolerância ao risco e uma capacidade diferente de lidar com esse questionamento. Eu sou uma pessoa que gosta de planejar. Não me jogo na vida, tenho previdência privada desde os 30 anos e recomendo que todos tenham, porque eu tenho medo que o meu dinheiro acabe antes de mim. Essa é até uma questão que abordo em meus textos, porque não quero estar velhinha, com 80, 90 anos, e não ter dinheiro para o plano de saúde”, afirma.

Ela pondera, porém, que muitas pessoas possuem o perfil de viver o hoje, seguindo crença do “Carpe Diem” – em tradução do latim, curta o momento. “Acho que cada um deve encontrar seu estágio filosófico”, acredita.

Idade não é limitante

Agora com 58 anos, a escritora observa que já ultrapassou a expectativa de vida esperada dela quando nasceu, em 1964, que era de 55 anos. “A medicina permite que eu viva muito mais que isso, a educação, assim como a urbanização, também são impulsionadores da longevidade”, afirma.

Para Maria Tereza, a palavra-chave para a qualidade de vida durante a velhice é buscar autonomia – claro, isso levando em consideração cuidados com saúde e busca por informações que possam promover a saúde e o bem-estar. “Enquanto a gente puder ter autonomia para fazer nossas coisas, vamos viver bem, porque viver é isso. O que não podemos é nos trancar dentro de casa”, acredita.

“A vida só acaba quando a gente morre e como estamos morrendo cada vez mais tarde, a vida está aqui para ser vivida. Temos que continuar em atividade, preservando a autonomia, a qualidade da mente, estudando, conhecendo pessoas, tendo relacionamentos de qualidade. Eu realmente sou muito ativa, mas obviamente não quero continuar trabalhando por 12 horas durante toda a vida, em algum momento vou reduzir o ritmo, mas por enquanto faço muita coisa. Tenho uma empresa, escrevo, tenho um podcast. Tudo isso porque eu gosto de fazer e não me vejo indo para casa vestindo um pijama e esperando pela morte. Esperar pela morte não é comigo, eu quero é ficar longe dela. Quanto mais longe, melhor”.

Fonte: O Tempo

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