Amizade: como cultivar bons amigos na vida adulta
O REI, aka Roberto Carlos, já cantou um dia que queria “ter 1 milhão de amigos” e, na infância, até pode parecer mais fácil ter vários deles, mas na vida adulta isso pode mudar.
É mais difícil ter amigos depois de adulto. Mas será que ser amigo significa ficar grudado o tempo todo? Ou ficar chateado quando o outro decide ter novos parceiros para rachar a breja?
Se, na infância, os gostos são quase iguais, aproximando uns dos outros, na adolescência isso vai ficando diferente quando se incorporam outras atividades. Aquela boy band que se ama, a outra que se odeia e, assim, vai se deixando de gostar de algumas pessoas que ficam pelo caminho.
Com a pandemia de covid-19, parece que tudo piorou, já que o distanciamento foi vital para fazer que o coronavírus se espalhasse menos. E aí, muitas amizades ficaram enfraquecidas.
Há quem diga que acabou se distanciando de vez de muitas pessoas, seja por pontos de vista diferentes em relação à própria doença, seja porque a relação esfriou mesmo.
As redes sociais, ainda que ajudem na aproximação virtual, são outras barreiras para manter viva a amizade na vida real. Por que sair de casa, se dá para rir pela web? Mas, sim, é preciso. E quem diz é uma psicóloga.
Responsabilidade afetiva
Antes de falar sobre a importância de ter amizade na vida adulta, existe um detalhe: a responsabilidade afetiva. A psicóloga Juliana Marinho diz que o conceito ganhou espaço nos últimos anos. Afinal, a gente quer gente fina, elegante e sincera ao redor, disposta a estabelecer uma relação transparente, para que todo mundo tenha as expectativas em dia, sem se magoar.
Isso significa que ser responsável afetivamente acontece só quando se elogia alguém ou ao dar feedbacks positivos? Vai muito além disso, é quando se pode falar na real o que não seria dito tão facilmente por aí, mesmo que seja algo inesperado ou que não se concorde tanto assim.
Só que isso é diferente de quem fala tudo na cara, doa a quem doer. Com responsabilidade afetiva, o respeito é o rei do diálogo. “É ser aberto, honesto e sincero de uma forma respeitosa. Responsabilidade afetiva não é sinônimo de reciprocidade”, explica a psicóloga clínica Juliana Marinho.
Amizade tóxica que chama
Assim como tem aqueles amigos que a gente ama, também existem os outros que acabam fazendo mais mal do que bem. Alerta de chernofriend: é amizade tóxica que chama. Mas de que forma esse tipo de relação acontece? A psicóloga diz que é quando:
- não se respeita o espaço do outro;
- as diferenças não são compreendidas;
- a pessoa quer ficar grudada o tempo todo, precisando de presença constante;
- o amigo quer controlar tudo;
- ou quando é o famoso amigo da onça, que na frente é uma pessoa, mas por trás parece até inimigo.
Na amizade ou em qualquer outro tipo de relação, é fundamental respeitar espaços e dar limites porque as pessoas precisam manter a própria individualidade. Sem ela, não há saúde mental que aguente. “Em amizades com pessoas muito semelhantes, ainda assim cada uma tem sua trajetória de vida, valores e interesses”, avalia Marinho. Aquela coisa, né? Para se ter bons amigos, a gente precisa ser um bom amigo também!
Expectativa para que te quero
E será que é normal agradar todo mundo o tempo todo? Para a psicóloga, isso pode ser mais negativo do que positivo, já que se perde aquilo que se tem de único. “Permitir-se refletir sobre quais são os limites dentro de uma relação é algo que possibilita lidar melhor com as expectativas, porque eventualmente as pessoas vão esperar algo da gente que, necessariamente, não vamos conseguir desempenhar”, diz a especialista.
Quando um amigo pede para você fazer uma forcinha para ir àquele show do cantor que ele ama, mas que você não curte tanto assim, é possível retomar a questão da responsabilidade afetiva e conversar sem medo sobre o que se sente.
Se a outra pessoa fica de boa com isso, então a amizade tem tudo para dar certo. “Em uma amizade saudável, é normal quebrar expectativas do outro e, ainda assim, essa outra pessoa entender, por mais que se fruste”, explica a psicóloga.
Por que faz bem manter uma amizade na vida adulta
Agora que a gente viu o caminho das pedras que é manter uma amizade na vida adulta, a psicóloga apontou o porquê disso valer a pena. Confira a seguir.
1. Ter uma rede de apoio
A amizade pode dar aquela força que você precisa para se sentir amparado e protegido, inclusive para enfrentar os desafios da vida, desenvolvendo habilidades e formas de lidar com as situações.
2. Entender mais o outro
Ter contato com pessoas, de uma forma mais próxima e que envolve um tipo de afeto, faz sair da caixa e abrir o olhar para outras questões sociais. Desenvolve empatia e senso de alteridade (quando se fura a bolha onde se está e vive-se outras realidades).
3. Manter a saúde mental em dia
Por exemplo, quando uma pessoa deprimida consegue recuperar vínculos ou criar novos, a tendência é que se sinta cada vez melhor. Isso significa que todo paciente com depressão ficou assim por falta de relacionamentos? Marinho diz que uma coisa não tem a ver com a outra, mas sentir que há pessoas se importando pode melhorar quadros psicológicos específicos.
4. Ampliar o repertório comportamental
Ter amizades ajuda na hora de fazer novas atividades e a criar hábitos que podem proporcionar benefícios para a vida como um todo. Afinal, como já disse o Emicida: “Quem tem um amigo tem tudo”. E, na vida adulta, isso não é diferente.
Fonte: UAUNESS