Parece que foi Ontem
Quem nunca acordou um belo dia, aos cinquenta e tantos anos ou na idade em que está no momento, parou um pouquinho para pensar na vida e se transportou mentalmente para a juventude? Daí vem aquela sensação de que o tempo voou, passou tão rápido que nem o vimos, aliás, não vemos o tempo, ele passa mesmo, acontece é que não percebemos essa passagem por estarmos preocupados com tantas outras coisas, para as quais damos uma importância que nem sempre elas merecem.
Hoje para mim foi um desses dias, ou melhor, está sendo, desde cedo estou com aquela sensação de que foi ontem que pulei o muro do colégio para matar a aula de Matemática para andar de Xangai, para quem não sabe esse era o nome do trem que saía de Juiz de Fora em direção a Matias Barbosa, diariamente, lá pelos anos oitenta/noventa, quando eu era um adolescente revoltado que não conseguia aprender a tal da equação do segundo grau e um tal de não sei o quê de Bhaskara, que até hoje não sei o que é, e acho que nunca vou saber. Só para informação: na oitava série consegui tomar pau direto em Matemática depois de tentar isso desde a quinta série, quando pegava recuperação e à base de “incentivos” de minha mãe conseguia a aprovação, mesmo assim passava raspando.
Mas parece que foi ontem, sim, foi hoje que eu pulei o muro do colégio em que estudava, coordenado por um Coronel e dirigido por um civil metido a sargentão, e fui pego com a boca na botija, ou melhor, com os pés na rua, por este senhor, que singelamente me mandou voltar por onde eu tinha saído, impossível a missão, pois o muro pelo lado de dentro era baixo, mas pelo lado de fora era alto. Devo aqui recomendar que as crianças não tentem fazer isso, dá suspensão e uma série de perturbação que não valem a pena. Também recomendo que aprendam esse negócio de Bhaskara e a tal da equação do segundo grau, e se tiver outra equação aprendam também, será importante um dia, no ENEM e se você resolver fazer engenharia.
Tantas coisas vividas, o primeiro beijo, a primeira namorada, a primeira comunhão, a primeira vez, todas as primeiras vezes, serão muitas pela vida, primeira vez em tudo que você fizer. Tem aquelas primeiras vezes que também são as últimas, vocês saberão do que falo no decorrer da vida e quem já passou por elas saberão do que estou falando aqui. Hoje estou saudoso, não sei por que, talvez esteja mirando o futuro e só por isso, ainda tenho sonhos a realizar, alguns já estou realizando e sonharei outros sonhos que não sonhei, esses estão surgindo devagar, deve ser por isso que estou pensando e escrevendo sobre o passado.
O tempo passou e eu nem vi, estava disperso fazendo coisas, casando-me, trabalhando, pagando contas, procurando algo, encontrando, perdendo, fazendo, desfazendo, refazendo, desistindo, resistindo, persistindo, querendo, buscando, falando, gritando, chorando, sim, chorei muitas vezes, por diversas coisas, mas também sorri, o sorriso faz a vida melhor, com certeza, dá leveza e tranquilidade mesmo nos piores momentos, recomendo que sorriam até sem motivo nenhum, isso muda todo o seu comportamento.
A vida me trouxe até aqui, tudo o que eu fiz, ou fizeram comigo, me construiu como pessoa, parece que foi ontem que fui enganado, que ontem um cara não me pagou o que me devia e ficou por isso mesmo, quem ontem eu pulei do pé de manga após acertar a cabeça numa caixa enorme de marimbondos e minha mãe, junto com minha irmã, derramaram uma garrafa de álcool na minha cabeça e também a estapeavam no intuito de matar os insetos, sei lá, mas eu devia ter uns cinco anos. Parece que foi ontem que eu saí correndo em meio ao desfile de Sete de Setembro, fugindo de minha mãe, após ser confundido com uma mascote de um pelotão que desfilava e os outros gritavam “olha a fujona!”, sim eu tinha muito cabelo e fui confundido com uma menina, isso foi lá em Volta Redonda, onde morei.
Esse tempo que voou, e eu não vi passar, tudo o que fiz nesse período foi me construindo como pessoa, o que estudei, os livros que li, as pessoas com quem aprendi alguma coisa, as pessoas a quem ensinei algo, sim ensinei também algumas coisas nessa vida. Quanto tempo! E nem deu tempo de apreciar sua passagem, meu envelhecimento. Hoje sobra a saudade da comida de minha avó, que fazia um arroz delicioso, chamávamos de “arroz da vó”, minha boca encheu d’água agora, ninguém consegue fazer igual ao que ela fazia.
Então, agora que eu me lembrei desse passado, falo do seu futuro. Se você também não está prestando atenção no tempo, diminua a velocidade, não precisa pressa para nada, porque o que tiver que ser será, acredite. Aproveite seus momentos, veja o tempo passar, tire um tempo para assistir ao nascer do sol e depois assista também o pôr do sol, não precisa ser no mesmo dia, melhor até fazer isso em dias diferentes, olhe as estrelas no céu, tome chuva, coma doce, tire uma fruta do pé e coma ali mesmo, não tem coisa mais gostosa. Aproveite cada minuto de sua vida para depois, quando estiver na meia idade não ter que se dar conta que o tempo voou e você não viu nada, não o acompanhou nesse voo louco e ficar com a sensação de que ficou para trás nisso tudo.
Viver vale a pena, cada segundo da vida é importante, cada acontecimento, por menor que seja, deve ser aproveitado, perdemos tempo pensando no futuro quando temos o agora para viver e plantar o que vamos colher lá na frente, muitos de nós não plantamos nada, nem aproveitamos o agora, que é onde a vida está acontecendo, deixe de ser bobo ou boba e faça seu agora valer a pena, esse momento, esse segundo de sua vida em que você está presente, faça dele o melhor de todos, e assim pelos próximos segundos, o futuro vai chegar e ele acontece agora, nesse exato momento, entre uma palavra e outra, ele não está muito longe de nós, mas temos essa mania de colocar o futuro longe. Pense nisso e viva melhor sua vida.