Diagnóstico precoce aumenta chance de cura do câncer de próstata
Entre as várias desculpas utilizadas para “fugir” de uma consulta médica ou não procurar por um especialista quando algo acontece com a saúde está a frase: “só vai aparecer alguma doença se eu procurar”. Embora ela seja usada para escapar do médico, pode ganhar um significado completamente diferente quando o assunto é o câncer de próstata. Isso porque é justamente a procura pela doença que aumenta – e muito – as chances de cura.
É isso o que explica o médico Henrique Lemos, do Grupo SADA. Especialista em medicina do trabalho, medicina da dor e cuidados paliativos, ele destaca que a taxa de sobrevivência é de 98% quando o diagnóstico é feito de forma precoce. “Esse é um tipo de câncer que não apresenta sintomas na maioria das vezes, por isso é importante o rastreamento através do exame PSA e também o do toque retal, feito pelo urologista”, afirma ele, que também é pós-graduado em psiquiatria.
Em casos que apresentam sintomas, esses sinais costumam envolver sensações de desconforto na região da próstata, dor ao urinar e dor lombar – sintomas que podem estar relacionados também a outras doenças. “Quando presentes em diagnósticos de câncer de próstata, esses sinais aparecem já na fase avançada, em um momento em que, talvez, perdemos a chance que tínhamos de cura”, explica.
Urologista do Hospital Mário Penna, o médico Renato Corradi também chama atenção para a importância do rastreamento, evidenciando o alto índice de ocorrência do câncer de próstata. “Algumas estatísticas dizem que ele vai atingir 1 em cada 6 homens. É um dos tipos de cânceres mais prevalentes. Por não trazer sempre sintomas e ser uma doença silenciosa, o que vai ajudar o médico a descobri-la em um estágio inicial é mesmo o rastreamento”, afirma.
No Brasil, a incidência do câncer de próstata também é alta. Segundo o Ministério da Saúde, a doença é o segundo tipo de câncer mais comum na população masculina em todas as regiões do país. Ele é, também, a segunda causa de óbito de câncer entre os homens. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima que no triênio 2023-2025 serão registrados mais de 71 mil casos da doença por ano.
Diante desse cenário, o acompanhamento e o rastreamento tornam-se ainda mais necessários, principalmente porque o diagnóstico precoce continua sendo a melhor forma de prevenir o avanço da doença e garantir, em uma porcentagem que ultrapassa os 90%, a sua cura.
O médico Renato Corradi orienta que homens a partir dos 50 anos já devem começar a fazer o rastreamento para doença. A faixa etária diminui para 45 para aqueles que são considerados grupos de risco. “Homens com histórico familiar, ou seja, que têm pais ou irmãos que desenvolveram câncer de próstata, precisam começar a fazer os exames mais cedo. Algumas pesquisas internacionais já mostraram que pacientes nessa situação possuem cinco vezes mais chance de desenvolver a doença”, ressalta.
Em casos de câncer de próstata, os tratamentos podem variar. “É uma doença que pode se apresentar de maneiras bem leves e não ser necessário nem fazer a cirurgia, mas em casos mais agressivos, o tratamento também será mais intenso”, pontua o urologista. Em alguns casos, a cirurgia de retirada do tumor também pode ser necessária e se converter na cura da doença, principalmente quando o câncer ainda está localizado.
Cuidar da saúde ainda é o melhor remédio
Embora não existam formas de prevenção específicas para o câncer de próstata, alguns cuidados podem ajudar a evitar não só a doença, mas também outras enfermidades. “Alguns estudos vão dizer que hábitos mais saudáveis favorecem o não desenvolvimento. O tabagismo, a obesidade e uma alimentação rica em carboidratos são fatores de risco. Evitar esses hábitos nocivos também é uma forma de prevenir o surgimento de outros tipos de câncer”, explica Renato. Ele ressalta ainda a importância de que os homens pratiquem exercícios físicos.
De acordo com o médico, também é válido que os homens procurem atendimento médico desde a adolescência, já que o acompanhamento pode fazer toda a diferença para uma vida mais saudável. “O urologista tem se tornado uma espécie de médico do homem. E a consulta acaba sendo uma oportunidade para que o paciente fale com alguém especializado sobre outros problemas que ele tem como a disfunção erétil, a dificuldade urinária, que costumam acontecer com a idade. Com o envelhecimento da população, a prevalência vai ser ainda maior. Indo ao urologista, essas questões podem ser identificadas e tratadas”, pontua. “No caso de adolescentes, podem ser conversadas as questões sexuais, como evitar doenças sexualmente transmissíveis. Eles podem ter dúvidas em relação ao uso de camisinha e conversar sobre coisas que às vezes não se sentem confortáveis em falar com os pais”, acrescenta.
Henrique Lemos também reforça o coro, chamando a atenção também para os cuidados de higiene, principalmente dos órgãos genitais. “Embora o câncer de pênis seja relativamente raro, atingindo 1% da população, a nível nacional temos números elevados, inclusive de pessoas que passaram por cirurgias de amputação ou morte. Por isso, a higiene adequada do órgão masculino é importante, já que ela é o principal fator de proteção”, explica. Vacinação contra o HPV e sexo seguro também são outras formas importantes de cuidado.
Fonte: O Tempo