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Obras irregulares crescem 35% em Minas e acendem alerta para chuvas

Redação9 de novembro de 202311min0
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Belo Horizonte é a líder de denúncias no estado em 2023

Os primeiros nove meses de 2023 acendem um alerta para as obras irregulares em Minas Gerais. No período, segundo dados do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais (Crea-MG), foram denunciadas no Estado 3.994 infrações em obras, o equivalente a 14 reclamações por dia. Os números são 35,7% maiores do que o mesmo período do ano passado, quando foram 2.942 denúncias. Já preocupantes em outros períodos do ano, os dados, conforme o Crea-MG, exigem ainda mais atenção no período chuvoso. As precipitações podem causar deslizamentos de morros e encostas, locais onde estão muitas dessas construções irregulares. O quadro – alerta o órgão – tem potencial para aumentar o número de tragédias em obras no Estado.

Para o gerente de Fiscalização do Crea-MG, Nicolau Neder, a alta nas denúncias de obras irregulares pode estar associada ao fato de a sociedade estar mais consciente em relação aos perigos que a prática oferece. O especialista também alega que os números de obras irregulares podem ser subnotificados. Por isso, ele ressalta a importância das denúncias por parte da população.

“Nosso Estado é enorme. Temos 853 municípios para fiscalizar. Nós levamos a fiscalização em todos eles. É muito importante que a sociedade participe cada vez mais, para podermos direcionar adequadamente as ações, levando a segurança”, convoca.

Um dos grandes problemas apontados por Neder são as obras realizadas sem acompanhamento de um engenheiro ou profissional de agronomia capacitado. O especialista esclarece que a presença de um responsável devidamente habilitado para conduzir e acompanhar uma construção é obrigatória. “É ele quem vai fazer a análise correta da atividade que vai ser realizada para que o serviço seja feito de forma segura, tanto para as pessoas que estão trabalhando quanto para as pessoas que vão fazer uso daquela instalação”, explica. Uma obra sem o acompanhamento, prossegue Nicolau, pode apresentar falhas no projeto e na execução.

Em Belo Horizonte, foram feitas 831 denúncias de obras irregulares de janeiro a setembro de 2023, uma média de três por dia, junto ao Crea-MG. No mesmo período do ano passado, foram 826, o equivalente a uma alta de 0,6%. Já a Prefeitura de Belo Horizonte realizou 3.314 vistorias de janeiro a outubro deste ano, com emissão de 2.909 autuações, 326 autos de embargos, 132 autos de fiscalização, 733 autos de infração e 1.718 autos de notificação.

Os moradores da rua Antônio de Araújo Penido, no bairro Diamante, região do Barreiro, em Belo Horizonte, relatam terem realizado uma série de denúncias junto à PBH em função de uma obra supostamente irregular. Uma moradora do local, que que preferiu não se identificar, relata a insegurança que vive desde que a construção foi iniciada ao lado do prédio onde vive.

“Primeiro, a pessoa responsável construiu uma casa, depois subiu um prédio de quatro andares. Vimos que era uma obra irregular, fizemos inúmeras denúncias, mas a obra foi concluída. Ano passado, ele iniciou outra obra, bem ao lado, e uma vizinha viu que também era uma obra irregular e, após algumas denúncias, a obra foi embargada”, relatou.

Segundo a moradora, apesar do embargo, nada mudou e a obra continua. Ela conta ainda que, no começo, havia uma entrada para carros e pedestres, mas, com as inúmeras denúncias que ela alega ter feito, as entradas foram tapadas com tijolos.  “Ele fechou tudo e começou a construir pela lateral. Eu já fiz tanta denúncia, que a prefeitura já falou que eu não preciso mais escrever. Meu marido já foi na prefeitura, um vizinho também foi, mas os fiscais falam que vão lá, mas ninguém os recebe. O que acontece é que, quando os funcionários da obra os veem param de fazer barulho e ficam escondidos. Quando (os fiscais) vão embora, voltam a trabalhar”, disse.

Agora, com a proximidade do período chuvoso, a preocupação é que o imóvel irregular traga problemas aos imóveis vizinhos. “Tinha lá um aviso de obra embargada, mas retiraram. Não há placa de quem é o responsável pela construção. Se fosse aprovado pela prefeitura e se houvesse um consultor responsável, ok, mas e se atrapalhar o meu prédio? Se prejudicar de alguma forma? A questão que eu acho inadmissível é nos colocar em risco e não termos a quem recorrer”, alega. Procurada, a Prefeitura de Belo Horizonte disse que agendou uma vistoria fiscal para o local. Conforme a PBH, se for constatado o descumprimento da medida de embargo, o proprietário da obra será multado em R$17.892,98.

A preocupação dos moradores de ocorrer algum acidente faz sentido, conforme explica o gerente do Crea-MG. “A obra pode ser subdimensionada, o que pode ocasionar trincas, pode desabar”, alerta. O especialista também explica que uma obra irregular pode ter, além da estrutura, instalações hidráulicas e elétricas também em condições inadequadas. “A instalação elétrica, feita de qualquer jeito, pode ocasionar riscos de mau funcionamento e pode ser que seja a razão de um incêndio. A instalação hidráulica, feita sem atenção, pode apresentar vazamentos precoces, não ter rede de esgoto e de captação de água com a rede municipal adequada. Pode causar danos ao acabamento, causar depreciação do bem, e, em casos mais severos, pode causar danos a estrutura, corrosão precoce das ferragens”, detalha.

Obras em áreas de risco

As construções em encostas e morros, as chamadas áreas de risco, também são motivo de preocupação, de acordo com Nicolau Neder. Nesses locais, avalia o especialista, o solo torna uma obra complexa e, em vários casos, inviável. “Para uma construção ser segura, é preciso que a estrutura esteja bem amparada. É necessário o estudo prévio do solo, a sondagem geotécnica. É o trabalho que vai identificar todo solo e subsolo que estão ali presentes”, esclarece.

O representante do Crea-MG aponta que, além das condições geológicas dessas localidades, há ainda um agravante econômico e social, que impede a execução segura dos trabalhos. “As pessoas com dificuldades, em vulnerabilidade social, não têm condições de contratar um profissional habilitado e estão sujeitas a riscos enormes”, lamenta. Em tempos de chuva, conforme Nicolau, a atenção com as obras deve ser redobrada. “Normalmente, se fazem primeiro os serviços de escavação, terraplanagem, contenção de encostas. Com o período chuvoso, esses serviços ficam mais complexos”, pontua Nicolau, que defende que o problema deve ser enfrentado em conjunto com o poder público.

Fiscalização e denúncias

Conforme Nicolau Neder, o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais (Crea-MG) é o responsável por fiscalizar a regularidade das obras, avaliando, por exemplo, se há um profissional habilitado acompanhando os trabalhos e se as empresas que estão atuando nos trabalhos são registradas no Crea-MG. Ao verificar alguma situação de irregularidade, o órgão faz a autuação junto ao responsável pelo empreendimento.

“É o Crea-MG que lavra o laudo de infração, para que aquela situação irregular. Caso a obra que estaria em execução, embora autuada pelo conselho, apresente risco, o Crea-MG encaminha para quem é de direito. O Crea-MG pode encaminhar para a Defesa Civil, ou para o Corpo de Bombeiros”, explica Nicolau, que esclarece também que só a prefeitura de cada cidade tem poder para embargar uma obra.

Quanto ao responsável por acompanhar uma obra, explica o gerente de Fiscalização do Crea-MG, as medidas do conselho já podem ser mais duras. “Ele está sujeito a punições éticas. Será instaurado um processo na Câmara do conselho. As infrações podem culminar em advertência reservada (registrada só internamente), advertência pública (registrada no site do Crea-MG) e até na cassação do registro desse profissional”, adverte. Na PBH, a denúncia pode ser feita pelo número 156, pelo aplicativo PBH APP, ou pelo portal de serviços da PBH. O Crea-MG também recebe denúncias, de forma anônima, por meio do aplicativo Conecta Crea. O app pode ser baixado gratuitamente em aparelhos Android e iOS.

Fonte: O Tempo

Redação


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