10,1% dos homens afirmam dirigir após beber; entre mulheres, taxa é de 2,2%
Cerca de 10% dos homens afirmam dirigir após o consumo de bebidas alcoólicas, enquanto entre as mulheres a taxa é de pouco mais de 2%, revela a edição deste ano da pesquisa Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), do Ministério da Saúde.
O estudo reúne as respostas de 21.690 adultos das 26 capitais e do Distrito Federal, entrevistados sobre consumo de álcool, tabagismo, obesidade, alimentação, atividade física, percepção da própria saúde e realização de exames.
No conjunto das 27 localidades, 5,9% dos indivíduos afirmaram conduzir veículo motorizado após ingerir bebida alcoólica. Em algumas cidades, porém, as taxas foram maiores. Em Palmas, por exemplo, a combinação álcool e direção foi mencionada por 16% dos participantes, chegando a 24,5% entre os homens e a 8,5% entre as mulheres.
Para o presidente da Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego), Antonio Meira Júnior, as diferenças regionais podem estar relacionadas aos padrões de fiscalização em cada local –a cada hora, cerca de oito motoristas são autuados no Brasil por terem ingerido bebida alcoólica ou substâncias psicoativas antes de dirigir.
Já a variação entre condutores e condutoras envolve educação e senso de proteção. “Os estudos têm demonstrado que as mulheres são mais prudentes no trânsito”, diz.
As maiores frequências entre homens foram observadas em Palmas, Teresina (23,2%) e Boa Vista (20%), e as menores ocorreram em Recife (3,6%), Natal (4,2%) e Porto Alegre (4,4%). Entre mulheres, as maiores frequências foram registradas em Palmas, Cuiabá (7,2%) e Boa Vista (5%), e as menores em Recife (0,2%), Maceió (0,3%) e Natal (0,8%).
O médico também explica por que a pesquisa considera qualquer quantidade de álcool na análise sobre direção, diferentemente das questões sobre consumo abusivo, que especificam o número de doses.
Como cada indivíduo tem peso, altura e hábitos próprios, a bebida tem impactos variados e não há como estabelecer uma quantidade padrão que não cause prejuízos ao volante. Cada um fica alterado com concentrações diferentes. “O único padrão seguro é o zero”, defende.
Para dimensionar o problema, Meira destaca que o risco de envolvimento em um acidente fatal para condutores que ingerem uma ou duas doses -cada dose equivale a uma lata de cerveja, uma taça de vinho ou meio copo de uísque- chega a ser 4,6 vezes maior do que para motoristas sóbrios.
O consumo de álcool reduz a capacidade de percepção da velocidade e dos obstáculos. “O álcool diminui a visão periférica, é como se a pessoa não tivesse os retrovisores no carro”, acrescenta.
Outro impacto da bebida é a diminuição da autocrítica. “O condutor faz o que não deve ao volante. Há a euforia, a empolgação e ele acaba abusando da velocidade e do limite, negligenciando os riscos”, afirma o médico.
“Tem gente que chega ao ponto de falar: ‘Quando eu bebo, eu dirijo melhor’. É o contrário. Você perde a autocrítica”, ressalta.
Uma dica de Meira para evitar essas situações é: se houver dúvida sobre beber, não dirija. A decisão de não consumir álcool deve ser tomada antes de sair da garagem de casa porque, chegando ao bar, à festa ou à reunião com os amigos, haverá a empolgação, o incentivo de terceiros e ninguém sóbrio para levar seu carro de volta.
“As tragédias no trânsito envolvendo álcool não são acidentais. Elas poderiam ter sido evitadas”, finaliza Meira.
(Folhapress)