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Temperaturas acima da média e imprudência fazem incêndios em áreas de vegetação dispararem 77% em MG

Redação18 de junho de 20248min0
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Somente nos primeiros cinco meses de 2024, houve aumento de 77% de ocorrências, passando de 3.233 para 5.746

Minas Gerais registra, por dia, uma média de 38 incêndios em vegetação neste ano. Somente em maio, foram mais de 3 mil ocorrências atendidas em todo o Estado pelo Corpo de Bombeiros — o maior número para o período desde 2020. O tempo seco aliado à imprudência de pessoas que ateiam fogo e às mudanças climáticas são fatores que ajudam a explicar tantos chamados, segundo a corporação. Somente nos primeiros cinco meses de 2024, houve aumento de 77% de ocorrências, passando de 3.233 para 5.766. Em junho, já são mais de 1,2 mil registros.

“Nos meses de abril e maio deste ano tivemos temperaturas 5ºC acima do que em anos anteriores. A temperatura média subiu, tanto que quase tivemos festa junina sem frio. O aumento da temperatura foi acentuado, principalmente, nos centros urbanos. Os números nos mostram isso”, afirma o tenente Henrique Barcellos, porta-voz do Corpo de Bombeiros.

Ao analisar as ocorrências de incêndio de vegetação no último mês, Barcellos aponta que das 3.399 registradas em Minas, 70% foram em área urbana. “Ou seja, locais onde temos a presença direta do homem que, de maneira imprudente, ateia fogo em lotes, por exemplo, para fazer limpeza, e faz o mesmo em beira de estrada. O período seco e as altas temperaturas fazem com que as chamas se espalhem para edificações”, pontua o porta-voz dos bombeiros.

Foi isso o que aconteceu em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, em 2 de junho. Após um incêndio se iniciar em uma área de vegetação, as chamas atingiram um galpão de móveis. Felizmente, não houve feridos, porém, por causa da fumaça e do forte cheiro de plástico queimado, moradores tiveram que deixar as casas para não inalarem fumaça.

“Agradecemos por todas as mensagens. O incêndio ocorreu no interior da loja onde se encontra a parte de produção de mesas e sofás. A loja e os produtos não foram afetados”, informou o estabelecimento pelas redes sociais.

A ocorrência registrada em Contagem é o típico caso, segundo o tenente Barcellos, do “quão errado e criminoso é limpar lote com o uso de fogo”. “Aqui está a raiz do problema. A capina tem que ser feita sem o manejo de chamas”.

Atuar no combate aos incêndios em vegetação é desafiador para a corporação, ainda mais quando as chamas avançam para edificações. Durante a atuação dos bombeiros na ocorrência envolvendo a loja de móveis de Contagem, por exemplo, um militar precisou ser atendido por ter inalado fumaça. “Quando se combina dois cenários: incêndio em vegetação e em área urbana, o risco para o bombeiro aumenta, pois a forma de atuação é diferente e, consequentemente, requer técnicas distintas”, afirma Barcellos.

É crime

Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a integridade física ou o patrimônio de outro, é crime previsto no artigo 250 do Código Penal. A pena é reclusão, de três a seis anos, e multa. Contudo, ela pode ter aumento de um terço nos seguintes casos:

I – se o crime é cometido com intuito de obter vantagem pecuniária em proveito próprio ou alheio;
II – se o incêndio é:
a) em casa habitada ou destinada a habitação;
b) em edifício público ou destinado a uso público ou a obra de assistência social ou de cultura;
c) em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de transporte coletivo;
d) em estação ferroviária ou aeródromo;
e) em estaleiro, fábrica ou oficina;
f) em depósito de explosivo, combustível ou inflamável;
g) em poço petrolífero ou galeria de mineração;
h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta.

Se for caso de incêndio culposo, a pena é de detenção, de seis meses a 2 anos.

“Por estarmos falando de uma prática criminosa, é fundamental que as pessoas denunciem aqueles que ateiam fogo”. O apelo do tenente Barcellos se dá diante da possibilidade dos casos seguirem em escalada, visto a época do ano.

“As condições são favoráveis para mais chamados: aumento da temperatura, umidade relativa do ar baixa, estiagem e ventos. O nosso trabalho aumenta muito. Numa época de muitos chamados, como foi o caso do mês de maio, nós esgotamos os nossos recursos em atuação de resposta. O que queremos é esgotar os recursos na proteção do risco, ou seja, com trabalhos preventivos — campanhas de conscientização”, complementa o porta-voz dos bombeiros.

Mais fiscalização

Uma possibilidade para tentar reverter o cenário de incêndios em área de vegetação é o aumento da fiscalização. É o que analisa a ambientalista Jeanine Oliveira. “Todo ano é a mesma novela, no entanto está piorando cada vez mais. Não são condições naturais que provocam tantos incêndios”.

“É preciso criar medidas para frear o que vem acontecendo. Deveríamos ter no Legislativo leis mais rigorosas e uma estrutura e diretriz do Estado que possibilitasse fiscalização adequada para que tivéssemos os bombeiros mais atuantes. O quadro hoje é limitado”, afirma a ambientalista.

Jeanine defende ainda a reestruturação da Fundação Estadual do Meio Ambiente (Feam). “Dentro da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, ela é a instituição mais competente para fiscalizar e definir a multa a ser aplicada. Precisamos ser mais rigorosos, porém, atualmente, a Feam nada faz. Notamos conivência por parte da administração com a situação e a não criação de situações para resolver. A principal é a contratação de mais efetivo para ampliar a fiscalização”, finaliza.

Dados

Total de registros de incêndio em vegetação em Minas Gerais

2020 – 18.643
2021 – 24.288
2022 – 19.350
2023 – 17.135
2024 (até junho) – 5.942

Registros de incêndio em vegetação em 2024

Janeiro – 231
Fevereiro – 329
Março – 488
Abril – 1.299
Maio – 3.419
Junho – 1.282

Fonte – Corpo de Bombeiros Militar de Minas Gerais

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