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Não é só coisa de criança: brincar faz bem também para os adultos

Redação7 de agosto de 20241474min0
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Especialistas enumeram diversos benefícios inerentes às brincadeiras em qualquer faixa etária

O empresário Leandro Rajão anda preocupado com o que chama de “crise do brincar”. “Trabalho com entretenimento de crianças, adolescentes e adultos há 35 anos. Hoje, noto que ninguém mais está brincando de verdade. Fui a um shopping aqui em BH duas vezes, só para fazer um exercício de observação, e constatei que a maioria absoluta das famílias passava o tempo no celular, com os pais incapazes de brincar com seus filhos, com irmãos incapazes de brincar entre si”, relata.

A preocupação de Rajão é corroborada por análises do psiquiatra e pesquisador Stuart Brow, para quem “o déficit de brincadeiras entre adultos está se tornando uma crise de saúde pública”. Em um artigo publicado pelo canal de televisão norte-americano National Geographic, que se apresenta como uma organização global e sem fins lucrativos comprometida a explorar e proteger nosso planeta, o estudioso argumenta, inclusive, que o contrário de brincar não é o trabalho, mas a depressão.

A publicação ainda lembra que a maioria dos mamíferos – e, talvez, dos vertebrados – brinca em todas as fases de suas vidas e obtém benefícios diversos dessa prática, como fazer descobertas úteis por meio das brincadeiras; aprender a lidar com a incerteza e com a surpresa estando em um ambiente seguro; desenvolver habilidades como criatividade e improvisação; e criar e manter relacionamentos.

No caso dos humanos, esses benefícios também são observáveis e independem de fatores como a idade. É o que defendem Vivian Wolff, especialista em desenvolvimento humano e organizacional, e Natália Longhi, psicanalista e facilitadora Lego Serious Play – marca registrada da Executive Discovery, uma empresa independente associada ao Lego Group, que oferece consultoria visando incentivar o pensamento criativo na cultura das empresas.

Lego serious play, um tipo de consultoria que visa incentivar o pensamento criativo na cultura das empresas | Crédito: Reprodução/TripAdvisor
Lego serious play, um tipo de consultoria que visa incentivar o pensamento criativo na cultura das empresas | Crédito: Reprodução/TripAdvisor

 

“O brincar, para o adulto, não é diferente do brincar para a criança”, dizem as duas especialistas em entrevista a O TEMPO. Elas argumentam que, na infância, as brincadeiras ajudam a compreender o mundo e, na fase adulta, permitem que experiências sejam ressignificadas. Além disso, em qualquer fase, a prática tende a promover um senso de pertencimento e relaxamento, além de ser uma ferramenta importante para a criatividade e bem-estar subjetivo.

“Quando a gente dá asas à imaginação, se diverte com um jogo, pratica um esporte, faz uma pintura ou brinca de faz de conta com uma criança, nosso cérebro libera hormônios associados ao prazer, como a dopamina, a serotonina e a ocitocina”, explicam Vivian e Natália, acrescentando que, quando brincamos, normalmente estamos genuinamente em contato com o outro, favorecendo a construção de vínculos. Outra vantagem objetiva são os insights, que surgem à medida que, estando mais relaxados e menos tensos, deixamos ideias emergirem.

Vivian e Natália ainda reforçam que o brincar não precisa ser complexo. “Que tal pegar um papel agora e começar com um simples risco? Não se preocupe com o que vai surgir – o importante é deixar a imaginação fluir e ver onde o rabisco te leva”, sugerem.

Brinquedos são modernizados para serem mais atrativos

Ainda que, para brincar, basta dar asas à imaginação, uma série de distrações e pressões pode surgir como um impeditivo para essa prática. Como uma forma de propor um contraponto a essa lógica e estimular a interação e as brincadeiras em áreas de convivência, Leandro Rajão idealizou o Extremo Park Indoor, na 29ª Casacor Minas 2024, que ocupa o Espaço 356 até 15 de setembro. “A ideia é ser mais que um parquinho infantil, possibilitando que todos, independentemente da idade, possam brincar”, comenta.

O Extremo Park Indoor, no Espaço 356 | Crédito: Daniel Mansur/Divulgação
O Extremo Park Indoor, no Espaço 356 | Crédito: Daniel Mansur/Divulgação

 

“Por exemplo, temos uma pista para corrida de velotrol – e cada velotrol suporta até 150 kg. Com isso, os pais podem brincar com seus filhos. E é isso que está acontecendo. Já tivemos o depoimento de pessoas que nunca tinham tido essa experiência até então”, orgulha-se, destacando que, mais que uma troca momentânea, essas situações fortalecem potencialmente os vínculos entre as pessoas. “É perceptível como as coisas mudam”, diz, comparando as desanimadas e descontinuadas interações quando todos estão frente a telas com as entusiasmadas trocas quando essas mesmas pessoas estão engajados em uma brincadeira.

Para convencer os visitantes a entrar nesse clima de descontração, Rajão explica ter realizado pesquisas por três anos. “A gente fez um ‘retrofit’ dos brinquedos”, cita, recorrendo a um termo utilizado principalmente em engenharia para designar o processo de modernização de equipamentos considerados ultrapassados. “A mesa de pingue-pongue ganhou LEDs. A escalada, em vez de acontecer em uma parede chapada, sem graça, acontece em uma estrutura que simula prédios de Manhattan – e, das janelas, dá para ver clipes de música”, cita. “Isso tudo causa uma experiência visual e tátil que é convidativa, que chama a atenção”, observa.

Diga-se, a proposta do Extremo Park Indoor não está animando somente famílias, como também grandes empresas. “Vamos receber, nos próximos dias, um treinamento para cem diretores de uma grande marca do setor automotivo, que também está de olho no potencial criativo e de criação de vínculos que essas experiências proporcionam”, conta, reforçando que o seu intuito é que todo mundo entenda que, independentemente da idade, todos nós brincamos.

Celebração da cultura brincante brasileira

Além da arquitetura e da modernização dos brinquedos, há evidentemente outras formas de se criar um ambiente mais acolhedor para as brincadeiras, como prova o espetáculo “Proncovô”, que, sucesso por onde passa, tem por mérito, entre outros trunfos, a capacidade de lembrar seus espectadores adultos que eles também podem brincar.

Protagonizada por Zé Motta e Laura de Castro, com direção e dramaturgia de Eduardo Moreira e direção musical de Sérgio Pererê, a peça já circulou por 15 cidades mineira e, neste domingo (11), volta a ser apresentada em Belo Horizonte, desta vez no Parque Municipal, em frente ao Teatro Francisco Nunes, às 11h.

Zé Motta e Laura de Castro no espetáculo 'Proncovô' | Crédito: Luiza Palhares
Zé Motta e Laura de Castro no espetáculo ‘Proncovô’ | Crédito: Luiza Palhares

“A brincadeira é uma ferramenta eficaz de linguagem, por meio da qual podemos, inclusive, tratar de temas sérios de maneira mais acessível. A gente percebe, por exemplo, que, às vezes, as pessoas encaram algumas cenas do espetáculo como brincadeira e, depois, passam a refletir sobre o que foi dito”, defende Motta.

O ator lembra que, embora seja uma montagem pensada para jovens e adultos, as crianças sempre estão presentes nas apresentações – que acontecem em espaços abertos, como praças e parques. “E a interação, claro, é muito diferente. A criança, por exemplo, pode não elaborar alguma questão mais filosófica que vai aparecer ali, de maneira lúdica. Mas elas entram na brincadeira, elas brincam com a gente. Já nos adultos, a reação, geralmente, é mais emocional”, compara.

Em parte, a comoção vem da capacidade dessa cultura brincante de desanuviar um horizonte que reduz a experiência humana, após a infância e adolescência, à sisudez. “Em algumas cidades que passamos, alcançamos um público que nunca tinha visto nada parecido. São pessoas que querem tocar os cenários, os figurinos… Tem um encantamento com essa nova possibilidade de lazer e, mais do que isso, com essa nova possibilidade de vida”, reflete, mencionando que “Proncovô” exalta e festeja a “cultura brincante brasileira”.

Vale ressaltar, aliás, que o termo “brincante”, na seara cultural, é usado para designar os artistas populares que se dedicam aos folguedos tradicionais, nos quais podem, por exemplo, dançar, cantar e tocar instrumentos musicais. Originalmente, a expressão surge de um estudo desenvolvido pelo pesquisador Antonio Nóbrega, tendo como foco as narrativas do romanceiro popular nordestino.

Minientrevista
Bruno Brandão, psiquiatra

1. O brincar, muitas vezes associado apenas à infância – quando se sabe que as brincadeiras são um instrumento poderoso para o desenvolvimento –, pode ser uma ferramenta importante também para os adultos? Muitas atividades lúdicas são realizadas em grupos de adultos, portanto é equivocada essa ideia de que brincar está associado só à infância. É uma atividade que vai envolver áreas cerebrais associadas à criatividade, à imaginação, à liberdade de experimentar algo sem um propósito específico e em um contexto diferente, afastado da rigidez da rotina. Isso pode proporcionar alívio do estresse e uma pausa para aquelas atividades diárias. Além disso, brincar facilita conexões sociais e a comunicação, fortalece relacionamentos. Enfim, brincar é importante para todo mundo, se respeitarmos o outro e o ambiente em que nos encontramos.

2. Se estamos falando de um hábito benéfico, por que o adulto perde o costume de brincar? Com o passar do tempo, as responsabilidades vão aumentando e o tempo de lazer vai diminuindo. Consequentemente, o tempo dedicado à brincadeira acaba sendo reduzido. Entram na conta também as normas sociais, que associam o brincar, muitas vezes, a um exercício restrito à infância, deixando os adultos constrangidos e inadequados. Por isso, é importante que a brincadeira seja validada por um grupo. Há ainda uma pressão pela produtividade, como se a gente precisasse ser, o tempo todo, útil, desvalorizando atividades recreativas – embora a gente saiba que intercalar recreação e atividades produtivas tende, inclusive, a melhorar os índices de produtividade. Outro ponto que aparece é a falta de oportunidade e de acesso a ambientes de brincadeiras, além das naturais mudanças de interesses.

3. Como diferentes tipos de brincadeiras – desde jogos de mesa até atividades físicas lúdicas – podem ser integradas na rotina diária para melhorar a qualidade de vida? O principal é ter um cronograma bem estabelecido. Quando estabelecemos uma rotina e paramos de perder tempo com o que não vale a pena, com o que não faz sentido para nós, começamos a ter mais tempo, inclusive para essas brincadeiras. É importante também que a gente consiga ver valor nessas brincadeiras. A partir daí, as escolhas, claro, vão depender muito do gosto pessoal de cada um. Podemos reservar um dia da semana para jogos de mesa, seja xadrez, baralho, sinuca… Ou para atividades físicas lúdicas, como dança, ioga ou algum esporte coletivo, como o futebol. Podemos optar ainda por atividades artísticas, como o teatro e a pintura. E, se tivermos uma criança próxima – seja um filho, um sobrinho –, ter momentos para brincar juntos vai ser bom tanto para o desenvolvimento dessa criança quanto para o adulto – e ainda vai favorecer o fortalecimento dos laços entre um e outro. O importante, portanto, é não deixar no piloto automático e, de fato, organizar esse nosso cronograma para acolher essas atividades.

Por Alex Bessas

Fonte: O Tempo

Redação


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