Seca afeta custo da energia no Brasil
Com mais de 50% do consumo de energia elétrica do Brasil fornecido pelas usinas hidrelétricas (UHE), a falta de chuvas afeta sobremaneira a oferta de energia no País, que impacta o nível dos reservatórios das UHE. Na semana passada, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) defendeu o acionamento antecipado das usinas termelétricas (UTE) para prevenção do fornecimento energético nos horários de maior consumo.
É sabido que a utilização das termelétricas, movidas a combustíveis fósseis, são mais caras e esse custo maior é repassado na conta de luz dos consumidores, com o acionamento das bandeiras amarela e vermelha pelo governo federal.
O consultor de Mercado de Energia da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Sérgio Pataca, aponta que a situação atual decorre de uma escolha que o Brasil fez ao optar por hidrelétricas sem armazenamento de água, como as de Belo Monte (PA), no Rio Xingu, e de Jirau (RO), no Rio Madeira. “Essas usinas têm armazenamento baixo, que não aguenta esse período de seca que estamos agora. Essa seca no Norte que a gente está sofrendo é por causa dessa péssima escolha que fizemos no passado”, disse.
O coordenador estadual da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Bruno Catta Preta, afirma que não há dúvidas que a estiagem preocupa todo o setor de energia elétrica, ainda que hoje já existam fontes alternativas. “Historicamente, no nosso setor, quando não tem oferta, o governo aciona as termelétricas. Em contrapartida, a cada ano aumenta a oferta de energia solar e eólica, mas é certo que se não chover nos próximos meses, vamos ter acionamento das bandeiras amarela e vermelha”, comenta.
O consultor da Fiemg pontua que, antes de acionar antecipadamente as termelétricas, o ONS deve buscar outros meios para garantir a estabilidade do Sistema Interligado Nacional (SIN), como o Programa de Resposta de Demanda.
O programa possibilita que grandes consumidores do mercado livre de energia, empresas habilitadas no programa, enviem propostas ao ONS de redução da própria demanda de energia nos horários de pico ou descolamento desse consumo para horários de menor pico.
O operador analisa as ofertas e, caso esteja tudo de acordo, a proposta de redução de demanda é confirmada e a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) repassa um valor monetário à empresa que “vendeu” sua redução de consumo. “Um programa que a indústria reduz seu consumo, o sistema como um todo não precisa de mais energia e não precisa acionar essas usinas térmicas”, aponta Pataca.
Ele ressalta que ainda não estamos nos meses mais críticos – outubro e novembro – e, caso as termelétricas sejam realmente acionadas, terá aumento direto no Preço de Liquidação de Diferenças (PLD), que afeta o mercado livre de energia, e acionamento das bandeiras tarifárias, que afeta o mercado cativo.
O coordenador estadual da Absolar pontua que o mercado livre não será afetado no curto prazo, já que negocia contratos com prazos mais longos.
Tanto Pataca quanto Catta Preta rechaçam a possibilidade de falta de energia elétrica no País, pela robustez do SIN, a diversidade de fontes disponíveis, o excedente de energia produzido ao longo do dia, além das próprias UTE disponíveis para serem acionadas em caso de última alternativa – que encarecem a conta de luz.
Fonte: Diário do Comércio