Anatel cria mecanismo para identificar autores de ligações telefônicas para combater golpes
A Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) anunciou que deve colocar em funcionamento nos próximos dias um sistema de comunicação entre as operadoras que permitirá a identificação do autor de uma ligação, mesmo que o contato não esteja salvo.
Os golpes em que os estelionatários se passam por empresas, seja via ligação ou mensagem, são os mais frequentes no país, mostrou pesquisa Datafolha publicada em 12 de agosto. Os golpistas se passam por serviços de grande credibilidade com o público, como os Correios, a Caixa Econômica Federal e outros bancos, em geral, para pedir transferência via Pix.
A tecnologia se chamará “origem verificada” e visará o combate às fraudes da falsa central telefônica. A iniciativa será de participação voluntária por parte das empresas de telecomunicação. As seis maiores companhias do setor – Vivo, Claro, Tim, Oi, Algar Telecom e Sercomtel – já planejam aderir à ferramenta após o lançamento.
De acordo com a Conexis, entidade patronal das operadoras, a solução foi criada pelas próprias empresas, com articulação da Anatel. Com a autenticação, o usuário que receber a ligação verá, na tela do celular, o nome da empresa que está ligando e o motivo da chamada.
O funcionamento da ferramenta ainda depende do aparelho do cliente, segundo a Conexis. A autenticação da chamada só estará disponível para celulares que acessem a rede 4G ou 5G. Em parte dos aparelhos, será necessária a atualização do sistema operacional.
“Os smartphones que não suportarem a solução de autenticação de chamadas receberão as ligações, porém sem a identificação”, diz a entidade. A Anatel estima que 500 empresas de telemarketing são responsáveis por 80% do tráfego de chamadas.
A Conexis informa que os interessados deverão procurar as próprias operadoras para ativarem o serviço de “origem verificada”.
Para a Associação Brasileira de Telesserviços (ABT), que representa os call centers, a tecnologia permitirá separar o joio (golpistas) do trigo (as empresas) e dar maior transparência à relação com o consumidor.
“É de interesse do setor privilegiar as empresas que promovem as boas práticas, mostrando as centrais sérias e que efetivamente querem entregar a melhor experiência ao consumidor, afastando os riscos de sujeição da população à golpes”, diz a associação em nota.
Desde o ano passado, a Anatel se esforça para fechar o cerco sobre as falsas centrais telefônicas. Em novembro do ano passado, por exemplo, recomendou a suspensão imediata de linhas com prefixo “0800” suspeitas de fraude.
Os estelionatários costumam recorrer a operadoras menores para conseguir acesso a números telefônicos iniciados em 0800, 0300, 4000, 4003 e 4004, que são associados a empresas, segundo o pesquisador-chefe para a América Latina da empresa de cibersegurança Kaspersky, Fabio Assolini. “A segurança dessas empresas é mais frágil”, diz.
Também pedem acesso a linhas que permitem o envio de mensagens SMSs com números curtos, como 1153, usado pela TIM, ou 27900, usado pelo Nubank. O aumento do número de operadoras fez parte de um processo de abrandamento regulatório para incentivar a concorrência, disse à reportagem o presidente da Anatel Carlos Baigorri. “Passamos a trabalhar em um modelo em que a pequena empresa, disposta a atuar onde não chegava a rede de telefonia, não precisava atender aos mesmos critérios do que uma gigante do setor.”
Para as empresas de telemarketing representadas pela ABT, os novos atores do mercado de telecomunicação e de pagamentos levaram a um paradoxo: houve avanços na universalização do acesso à telefonia móvel e, ao mesmo tempo, uma piora no cenário das fraudes.
(PEDRO S. TEIXEIRA/FOLHAPRESS)