Mau hálito afeta cerca de 30% da população mundial
“Eu estava no aeroporto de Porto Seguro com minha mãe, esperando para voltar para Belo Horizonte, quando ela me alertou que eu estava com mau hálito. Eu fiquei desesperada, fui em uma loja, comprei uma escova e quase arranquei a língua de tanto escovar. Mas o problema persistiu ao longo dos dias”, comenta Marta*, de 46 anos. O caso da secretária é mais comum do que se imagina.
A halitose, nome científico para o mau hálito, é um problema que acomete de 30% a 32% da população em todo o mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, a Associação Brasileira de Halitose (Abha) estima que 69 milhões de pessoas sofram da condição, que pode ser resolvida. É por isso que a Abha faz da data de 22 de setembro o Dia Nacional de Combate ao Mau Hálito, com ações que vão até 25 de outubro, Dia Nacional do Cirurgião-Dentista.
Cirurgiã-dentista, especialista em periodontia, área da odontologia que trata dos tecidos que dão sustentação aos dentes, Julia Bello explica que a halitose não é uma doença, mas sim uma condição que pode ser uma manifestação de doenças na boca ou em outras partes do corpo.
“Qualquer pessoa pode apresentar mau hálito em determinada situação, como, por exemplo, ao acordar ou ao consumir bebida alcoólica. O alerta é ligado quando acontece de forma recorrente, ao longo do dia ou durante vários dias e semanas”, explica. Por ser uma consequência que se manifesta a partir de alguma questão de saúde, a halitose não tem um tratamento específico. Especialistas afirmam que é preciso analisar cada paciente individualmente.
“Mais de 90% das causas do mau hálito são de origem bucal, sendo a presença do biofilme lingual, camada branca ou amarelada que fica sobre nossa língua, a principal causa”, afirma Flávia Menezes, cirurgiã-dentista especialista em odontogeriatria e halitose e vice-presidente da Câmara Técnica de Halitose do Conselho Regional de Odontologia de Minas Gerais.
No caso de Marta, o mau hálito recorrente foi ocasionado por uma periodontite e biofilme lingual, um acúmulo de bactérias, células mortas e saliva, em regiões que são difíceis de alcançar com escova ou fio dental.
“Eu achava que fazia a higienização bucal de maneira correta. Foi só quando me consultei com uma periodontista que descobri o que realmente estava acontecendo. Fiz o tratamento adequado e sigo sempre acompanhando. Por isso, é importante procurar um especialista o mais rápido possível”, diz.
*Nome fictício para preservar a identidade.
Causa no sistema digestivo
Apesar de mais de 90% dos casos de halitose terem origem na boca, os outros 10% também necessitam de atenção. Nesse percentual estão incluídos mau hálito por sinusite crônica, estresse e ansiedade e até mesmo alguma alteração no sistema digestivo.
“Esses casos acontecem normalmente quando o paciente tem condições esofágicas, como megaesôfago, esofagite grave ou divertículos. No caso do megaesôfago por conta da doença de Chagas, a halitose pode acontecer por restos alimentares no interior do órgão. Pessoas submetidas a cirurgia bariátrica também podem apresentar mau hálito recorrente”, comenta Vera Ângelo, gastroenterologista especialista em doenças funcionais.
A especialista também explica que o uso de alguns medicamentos também podem estar associados à halitose, como são os casos do Ozempic e Saxenda.
“Esses remédios alteram diretamente o funcionamento do estômago. Então, o paciente deve ficar muito atento e correlacionar o surgimento de sintomas da halitose com alguma alteração do trato gastrointestinal”, conclui a médica, que orienta que as pessoas que tenham condição busquem ajuda médica.
Fadiga Olfatória
Especialista em periodontia, a dentista Julia Bello alerta para um fenômeno chamado “fadiga olfatória”, que é quando o olfato se acostuma com determinado cheiro.
“Muitas pessoas acabam não percebendo que possuem mau hálito justamente por isso, de já estarem habituadas com o odor. Então, é importante ter alguém de confiança para perguntar e confirmar se está ou não com mau hálito”, afirma a especialista.
Eu estava com minha mãe em um aeroporto, e ela me alertou, disse que eu estava com mau hálito. Fiquei desesperada, achei que fazia a higiene bucal corretamente. Fiz o tratamento adequado com uma periodontista e sigo acompanhando com frequência para evitar ter halitose novamente.”
Marta*, de 46 anos, secretária
Fonte: O Tempo