Estudo da Emater-MG aponta que 170 mil famílias de agricultores foram afetadas pela seca esse ano
Após estiagem de quatro ou até cinco meses, em algumas regiões do Estado, experimentamos as primeiras chuvas pontuais na semana passada. Mas a meteorologista Anete Fernandes, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), explica que ainda não estamos em transição para o período chuvoso.
‘Essa passagem ocorre durante o mês de outubro. Neste início da primavera ainda impera o tempo quente e seco”, disse ela à reportagem da Itatiaia.
Historicamente, a região Norte de Minas tem sido uma das mais castigadas do estado, pelas longas estiagens, na última década. Um relatório agroclimático da Emater-MG aponta que, de janeiro a agosto deste ano, cerca de 170 mil famílias de agricultores foram diretamente afetadas pela seca. O estudo na região também identificou o secamento de mais de 300 cursos d’água, incluindo córregos, rios e reservatórios.
Por isso, a Emater-MG está orientando mais de 50 mil produtores na produção de alimentação energética para o rebanho bovino. Entre as iniciativas, estão o plantio de forrageiras, a confecção de silagem e o incentivo ao cultivo de culturas mais adequadas à região, como sorgo forrageiro, palma, mandioca e cana-de-açúcar. Essas ações abrangem 225 municípios, incluindo os vales do Mucuri e Jequitinhonha.
Seapa abriu 8,6 mil bacias de captação de água da chuva
Outra medida implementada nesses locais, em parceria com as prefeituras e a Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), foi a abertura de 8,6 mil bacias de captação de água da chuva e a construção de 257 quilômetros de terraços, nos últimos dois anos. Mais de 2 mil hectares ocupados com área de pastagem e de cultura foram conservados com as ‘curvas de nível’.
“Estimamos que esse conjunto de ações vai proporcionar a retenção e infiltração de mais de 12 milhões de metros cúbicos de água por ano”, afirma o gerente regional da Emater-MG em Montes Claros, José Arcanjo Pereira.
Ele lembra que a Emater-MG da região também apoia os produtores na obtenção de crédito rural emergencial, na orientação técnica em projetos de abastecimento de água e nas negociações com instituições financeiras.
Empresa divulga técnicas de convivência com a seca
O coordenador técnico estadual Bernardino Cangussu, explica que a proteção do solo para recarga do lençol freático é essencial para garantir boa produção em locais com estiagens constantes. “O solo é a principal caixa de armazenamento de água que temos na propriedade”, disse.
Plantas de cobertura buscam nutrientes nas camadas mais profundas da terra
O uso de plantas de cobertura melhoram o solo e o sistema de produção. Elas evitam erosões e buscam nutrientes nas camadas mais profundas do solo e aumentam sua porosidade, facilitando a infiltração de água.
De acordo com o coordenador, desde 2021, a Emater-MG já implementou cerca de 700 Unidades Demonstrativas com esse sistema em todo o estado. As plantas de cobertura são cultivadas em consórcio com culturas comerciais, como café, frutas e grãos.
A técnica consiste em plantar uma mistura de sementes de diversas espécies, manejando-as entre as linhas de cultivo.
“As raízes das plantas de cobertura atingem diferentes profundidades, o que favorece a aeração, quebra a compactação do solo e incorpora matéria orgânica em camadas mais baixas, além de criar galerias que facilitam a infiltração de água. Já a palhada que sobra após o corte das plantas de cobertura protegem e ajudam na diminuição da sua temperatura do solo”, explicou Cangussu.
Produtora disse que a técnica reduziu a temperatura no cafezal
A produtora Christina Ribeiro do Valle, do município de Guaranésia, no Sul de Minas, começou a cultivar plantas de cobertura em um cafezal há quatro anos. Ela usa capim braquiária, girassol, nabo forrageiro e milheto. Após roçadas, estas plantas ficam nas entrelinhas do café, protegendo o solo.
“Nunca mais deixo de usar plantas de cobertura. Se você colocar um termômetro no solo descoberto com um calor desses, vai marcar uns 40 graus. Com a cobertura, essa temperatura cai muito. Além disso, no período das chuvas, as plantas de cobertura têm evitado as enxurradas que chegavam até a estrada. Elas retêm a água”, comenta a produtora.
Barraginhas ajudam na infiltração da água da chuva
Outra prática disseminada pela Emater-MG é a construção de bacias de captação de água da chuva, conhecidas como ‘barraginhas’. Esses reservatórios, além de prevenir erosões causadas por enxurradas, ajudam a armazenar e infiltrar a água da chuva, recarregando o lençol freático.
Terraceamento é utilizado em áreas de declive
Uma técnica com resultado similar é o terraceamento, popularmente chamado de ‘curva de nível’, geralmente utilizado em áreas com declive. Sua função é reduzir a velocidade das enxurradas durante o período chuvoso, facilitando a infiltração da água. “Quanto mais água armazenada no solo no período das chuvas, mais água disponível durante a estiagem”, alerta o coordenador.
(*) Com informações de Marcelo Varella, da Emater-MG.
Fonte: Itatiaia