Dia Internacional do Café: Minas é maior produtor mundial, mas empresários temem a seca
Se Minas Gerais tivesse um cheiro, provavelmente seria de café. É difícil encontrar alguém que não consuma a bebida em sua rotina e aquela imagem do “cafezinho com bolo” no final de tarde já faz parte do nosso imaginário. E, além de consumir, também sabemos fazer: Minas representa cerca de 54% do montante nacional. Isso não é pouca coisa, uma vez que o Brasil é o maior produtor de café – respondendo por 38% do volume mundial. Os dados são da Federação da Agricultura e Pecuária (Faemg) e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Nesse cenário, muitos produtores têm investido também em cafés superiores ou especiais para atender a uma demanda crescente.
Apesar de não haver números consolidados, a Faemg aponta Minas como o principal produtor de cafés especiais do mundo e estima que 10% a 15% da safra brasileira corresponde a cafés especiais. Entre os produtores que investem neste segmento está Bruno Souza, da Fazenda Esperança, localizada em Campos Altos, no Triângulo Mineiro.
“Da minha produção de cafés especiais, cerca de 20% serve o mercado interno e 80% vai para fora, atendendo países como EUA, Dinamarca, Holanda, Dubai, França e Alemanha. É um nicho que exploramos bem. Para se ter uma ideia, produzimos cerca de 1350 sacas na última safra e, desse número, 700 delas foram de café especial”, diz.
Para ser classificado como especial, o café precisa marcar, pelo menos, 80 pontos – em uma escala de 0 a 100 – no sistema de avaliação da Specialty Coffee Association (SCA).
No entanto, nem tudo são flores e a questão climática é uma “pedra no sapato” do setor. Bruno conta que em 2021 teve problemas com a chuva de granizo, que comprometeu 92% da sua produção. Os efeitos foram sentidos nos anos posteriores e a expectativa dele é que a produção só volte ao normal mesmo em 2025.
“Também temos a questão da seca, nunca vi uma tão intensa como a atual. Devido aos problemas climáticos, tivemos uma diminuição na casa dos 30% na safra deste ano. A expectativa era de 2500 sacas, mas fechamos em 1350”, pontua.
Levantamento de campo realizado com 1.706 produtores rurais assistidos pelo Programa de Assistência Técnica e Gerencial do Sistema Faemg Senar (ATeG Café+Forte) indica uma quebra de 23%, em média, na safra de café arábica de 2024 em Minas Gerais.
Apesar de comprometer a produção, as intempéries do clima acabam elevando o preço do café no mercado – uma vez que o produto fica mais escasso e, consequentemente, os empresários conseguem vendê-los a preços melhores. De acordo com Bruno, uma saca de café especial é vendida a R$ 1600 no Brasil e a R$ 2200 no exterior.
“Os valores poderiam ser ainda mais altos, mas os produtores brasileiros vendem o produto lá fora muito barato. Para se ter uma ideia, vendemos cerca de 30% mais barato em comparação ao café especial colombiano, que tem a mesma qualidade que o nosso. Temos que aprender a vender, como os produtores de vinho já sabem fazer.”
Buscando novos públicos
A busca por cafés de maior qualidade também tem motivado as empresas a expandirem a produção e investirem em linhas adicionais. Acostumada a produzir cafés tradicionais, cerca de 200 toneladas por mês, a Jequitinhonha Alimentos, empresa localizada na cidade de Capelinha, na região da Chapada de Minas, vai oferecer uma nova linha de cafés superiores a partir de outubro.
De acordo com o CEO Luiz Carlos Moreira Barbosa, o novo produto deve atrair tanto o público consumidor de cafés mais elaborados, quanto aquele cliente do “cafezinho comum”, mas que deseja experimentar algo de maior qualidade. “Estamos entre o tradicional e o especial. Temos percebido uma demanda crescente em torno desse tipo de produto e decidimos investir no segmento”, afirma.
Para conseguir produzir a nova linha de cafés, a empresa investiu mais de R$ 1 milhão na compra de equipamentos e tecnologia de envase, torra e empacotamento. A expectativa é produzir mais de 200 toneladas do produto por ano, com distribuição em todo estado de Minas Gerais.
O sentimento de otimismo do empresário só é atrapalhado pelo temor para a safra de 2025, que pode ser prejudicada por causa da seca e aumentar ainda mais o valor do café para o consumidor final.
“Apesar disso, não acredito em queda de consumo. É um produto que tem bom rendimento e lugar cativo na mesa do brasileiro, dificilmente alguém vai abrir mão de tomar café, mesmo que os preços subam um pouco.”
Fonte: O Tempo