O uso excessivo de telas pode afetar o desenvolvimento cerebral das crianças, alerta neurocirurgião
O uso crescente de aparelhos digitais entre crianças e adolescentes tem levantado preocupações quanto aos impactos no desenvolvimento desses jovens. Estudos apontam que o tempo excessivo em frente às telas pode prejudicar tanto o desenvolvimento físico quanto o neurológico.
De acordo com o neurocirurgião pediátrico Alexandre Canheu, áreas importantes do cérebro da criança são afetadas com o uso das telas de maneira descontrolada.
“A exposição precoce às telas, sem controle adequado, pode afetar funções específicas importantes, como a atenção, a memória e o aprendizado”, explica Canheu. Ele também menciona que o cérebro em desenvolvimento é mais suscetível às consequências da superexposição às telas, incluindo a regulação emocional e o comportamento social.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria, crianças com menos de dois anos não devem ser expostas às telas. Já para aqueles entre 2 e 5 anos, o tempo diário recomendado é de, no máximo, uma hora. A Organização Mundial da Saúde (OMS) também estipula limites para crianças maiores, com orientações de até duas horas diárias para crianças de 6 a 10 anos e três horas para adolescentes a partir dos 11 anos.
Um estudo recente realizado pelo Ministério da Saúde e pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal, parte do projeto Primeira Infância Para Adultos Saudáveis (PIPA), revelou que um terço das crianças brasileiras de até 5 anos ultrapassa o tempo recomendado em frente às telas. Esse excesso pode causar consequências a longo prazo.
Segundo Canheu, o uso excessivo de aparelhos eletrônicos está diretamente ligado à liberação de dopamina no cérebro. “A dopamina é o neurotransmissor responsável pela sensação de prazer e motivação, mas, quando liberada em excesso, pode levar à dependência. Isso faz com que as crianças sintam necessidade de mais estímulos para alcançar a mesma sensação de satisfação”, esclarece.
Para reduzir os efeitos do uso excessivo de telas, é importante que os pais ou responsáveis pelas crianças estabeleçam limites claros e façam escolhas inteligentes quanto ao conteúdo assistido.
“Não basta apenas reduzir o tempo de uso, é necessário que o tempo frente à tela seja utilizado para atividades educativas e que estimulem o desenvolvimento cognitivo”, recomenda Canheu.
O médico alerta que os pais precisam ajudar a criança a se desconectar de forma gradual. Lembretes sobre o tempo de uso, também é uma estratégia importante. “O ideal é que os pais ou responsáveis sejam parceiros nesse processo, criando uma rotina estruturada que inclua momentos de uso controlado das telas e, ao mesmo tempo, atividades que incentivem a interação e o movimento”, conclui.