Dietas milagrosas não são boa opção para gulodices de final de ano, diz especialista

Com a proximidade das festas de final de ano, uma das preocupações mais comuns entre os brasileiros recai sobre as ceias natalinas, costumeiramente generosas em carboidratos e açúcares, sem ignorar a exaltação e o excesso típicos do réveillon, quando a esperança se reacende nos corações e não raramente ganha os estômagos.

Um erro comum, no entanto, é se preparar para a comilança e bebedeira com dietas malucas e restritivas, que muitas vezes cobram um preço caro mais adiante. Quem imaginava levar tudo na valsa acaba vítima do famoso “efeito sanfona”. O administrador Raphael Alvarenga, 39, admite que, para aguentar a tentação natalícia, já se submeteu a “métodos pouco republicanos, do ponto de vista da lógica alimentar”.

“Iniciei uma dieta em que ficava longos períodos em jejum, e claro que emagreci, mas recuperei tudo no Natal e no réveillon”, conta ele, que diz ter se arrependido justamente pelo esforço excessivo ter tido “um resultado pouco duradouro”. A experiência é semelhante à da professora de inglês Luana Corrêa, 32, que alerta para esse tipo de publicidade que vende gato por lebre, ou, como diriam os antigos, quando a esmola é demais, o santo desconfia. “Caí numa dessas propagandas de ‘emagreça rápido em poucos dias’ e aprendi que o que funciona é ter disciplina e evitar excessos”, diz Luana.

Orientações

Não por acaso, essa é a dica mais preciosa trazida pela nutricionista Silvia Hespanha. “As dietas da moda que prometem perda de peso rápida, especialmente aquelas que envolvem a eliminação de grupos alimentares inteiros, por exemplo com restrição total de carboidrato e outras restrições calóricas extremas, apresentam vários riscos à saúde, como desnutrição, perda de massa muscular, problemas digestivos, distúrbios alimentares, impacto psicológico, problemas hormonais, desidratação e o famoso efeito sanfona”, informa Silvia, que ressalta o fato de a bulimia se apresentar como um transtorno recorrente nesse tipo de caso extremo.

“Dietas rápidas, que podem proporcionar resultados imediatos em termos de perda de peso, frequentemente são insustentáveis a longo prazo e podem ter efeitos adversos no metabolismo e na composição corporal”, sublinha a especialista. Segundo ela, isso acontece porque o metabolismo desacelera seu ritmo como “uma resposta de adaptação do corpo ao consumo reduzido de calorias”, o que também pode resultar numa perda de massa muscular como “mecanismo de sobrevivência do corpo, que começa a usar o músculo como fonte de energia quando a ingestão de calorias proteínas é insuficiente”. “Perdendo massa muscular, a taxa do seu metabolismo basal (quantidade mínima de energia que o corpo precisa para manter suas funções vitais) se reduz, tornando mais difícil a manutenção do peso perdido anteriormente”, avalia Silvia.

Ela aproveita para abordar um dos principais incômodos de quem se submete a dietas. O mal fadado “efeito sanfona”, que brinca com o movimento de vaivém do instrumento. “O efeito sanfona acontece porque o corpo passou um período sob restrições calóricas, e, como isso não é sustentável por muito tempo, quando você retorna com a sua alimentação habitual ou próxima disso, seu corpo vai armazenar calorias, favorecendo o ganho de gordura ao invés da recuperação da massa muscular…”, diz a profissional.

Surpresa

Ante a constatação de que no período festivo, “a tendência é consumir mais alimentos diferentes do que o habitual”, Silvia traz uma revelação inesperada. “É possível manter ou até mesmo perder peso neste período, sem dietas restritas”, garante, e oferece algumas sugestões práticas para o dia a dia, baseadas em planejamento, equilíbrio e tranquilidade.

“Se você sabe que haverá eventos festivos, faça refeições leves e saudáveis antes, para não chegar com fome e optar por opções mais calóricas. E tente incluir opções mais saudáveis na sua refeição, como saladas, vegetais, grelhados ou frutas, para equilibrar com os pratos mais calóricos…”, sublinha.

Ela também incentiva as pessoas a aproveitarem esses momentos com a devida calma e atenção. “É um tempo de comemorações, aproveite o momento para apreciar o alimento. Comer devagar ajuda a perceber melhor os sinais de saciedade, evitando o consumo excessivo. Ao longo do dia e antes das refeições consuma água, muitas vezes a sede é confundida com fome”, sustenta a nutricionista.

Manter a prática de atividade física, ainda que não com o mesmo ímpeto, e controlar a gula são outros fatores essenciais. “O tamanho da porção importa. Consumir bebidas alcoólicas em porções menores pode ajudar a reduzir a ingestão calórica total. Em vez de consumir todas as sobremesas, escolha uma ou duas que você realmente gosta e saboreie”, diz.

Além da comilança

O aquecimento antes e durante as festividades é igualmente valorizado pela nutricionista. Silvia reforça que é imprescindível manter uma alimentação equilibrada nos dias que antecedem as gulodices, evitando exceções, assim como deve-se aumentar a ingestão de água para que a hidratação permaneça em dia. “Isso ajuda a controlar a fome e a evitar a retenção de líquidos”, explica. Pular refeições também está longe de ser uma boa estratégia, e o mais indicado é incluir “lanches saudáveis, com frutas, iogurtes e castanhas” entre um prato e outro. Por último, será decisivo “retomar uma dieta equilibrada e recomeçar a atividade física” ao fim da festa.

Na opinião da nutricionista Silvia Hespanha é preciso ter em mente que “as comemorações de final de ano vão muito além de festas e comidas”, para não depositar todas as expectativas e vontades sobre a fartura de alimentos, o que pode gerar problemas de compulsão que prejudicam as pessoas a longo prazo.

“As festividades incentivam o reencontro e a convivência entre familiares e amigos, promovendo o fortalecimento das relações afetivas e momentos de descontração e diversão que ajudam a aliviar o estresse acumulado. Elas são uma oportunidade para descansar, refletir, celebrar e programar o próximo ano com melhorias para um estilo de vida saudável”, sugere Silvia, para quem as alentadas férias desse período são uma oportunidade para “descansar e recuperar as energias, o que é fundamental para o nosso bem-estar físico e mental…”, arremata.

Fonte: O Tempo