Produção de Queijo Minas Artesanal se torna Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade
Não está mais só no gosto dos mineiros: agora, os modos de fazer o Queijo Minas Artesanal (QMA) são oficialmente considerados Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. O anúncio foi feito pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) na manhã desta quarta-feira (04/12).
Com três séculos de história, o Queijo Minas Artesanal é um velho conhecido na mesa dos mineiros, e é justamente a importância dele no cotidiano que alegra o jornalista e especialista em queijos Eduardo Girão neste momento de celebração. “Ele tem uma relação muito íntima com muita gente e é feito praticamente no Estado inteiro. Ele fala muito ao coração das pessoas e faz parte da vida delas. Não é um item de luxo ou algo muito distante da nossa cultura, que valorizemos porque é raro. As pessoas estão habituadas, e isso é muito especial. É o modo de fazer de um produto da mesa delas sendo ‘patrimonializado’”.
O Queijo Minas Artesanal é um tipo que só pode ser produzido no Estado para ser reconhecido oficialmente dessa forma. Ele leva apenas quatro ingredientes: leite cru (que precisa ser das vacas da propriedade), sal, coalho e pingo, que é o restante de produção dos queijos anteriores, carregado com bactérias benéficas. Já as denominações Queijo Canastra e Queijo do Serro, por exemplo, são o “sobrenome” dos produtos e indicam a região onde foram produzidos.
Além de simbólico, o título pode dar impulso comercial à produção em Minas. A novidade foi comemorada pelo governador do Estado, Romeu Zema, no X. “É nosso e tá conquistando o mundo inteiro! Os modos de fazer o Queijo Minas Artesanal agora são Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela Unesco! Uma tradição dos nossos produtores de queijo que há mais de 300 anos nos enche de orgulho e gera emprego e renda pros mineiros”, escreveu.
É nosso e tá conquistando o mundo inteiro! Os modos de fazer o Queijo Minas Artesanal agora é Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela @UNESCO! Uma tradição dos nossos produtores de queijo que há mais de 300 anos nos enche de orgulho e gera emprego e renda pros mineiros. pic.twitter.com/IqbAouAQbZ
— Romeu Zema (@RomeuZema) December 4, 2024
O QMA é o tipo de queijo artesanal mais produzido no Estado. A produção concentra-se em pequenas propriedades rurais, com receitas familiares de décadas e até séculos de história. Hoje, 15 regiões mineiras produzem queijos artesanais sem qualquer industrialização. Dessas, dez produzem o QMA: Araxá, Campo das Vertentes, Canastra, Cerrado, Diamantina, Entre Serras da Piedade ao Caraça, Serra do Salitre, Serras da Ibitipoca, Serro e Triângulo Mineiro.
Uma das produtoras é Maria Lucilha de Faria, de São Roque de Minas, na região do Alto São Francisco, aos pés da Serra da Canastra. Ela é da quinta geração da família na produção, e hoje encabeça a marca Pingo de Amor, internacionalmente premiada. “Esse reconhecimento veio para nos enaltecer naquilo que sabemos fazer, a cultura dos nossos ancestrais”. Ela destaca que a produção diária de 35 a 40 queijos em sua propriedade é uma empreitada de família. “A rotina na roça começa por volta das 6h. Meu esposo cuida da alimentação do gado, minhas filha me ajudam na produção, eu fico no queijo e tenho um único funcionário, que cuida da ordenha”. Em BH, queijos da Pingo de Amor podem ser encontrados em lojas do Mercado Central.
O especialista em queijos Eduardo Girão completa que o dia é de “jogar confete” para o QMA, mas também de cobrar ainda mais incentivos públicos à produção. “Há produtores que não conseguem se regularizar e têm mil dificuldades, como a falsificação, o transporte inadequado do produto e falta de mão de obra. Não digo que o Estado não faça seu papel, mas uma chancela internacional como a da Unesco joga um peso considerável nas costas dele. Ele deve sentir isso e continuar a cuidar bem e estimular que o QMA tenha um caminho mais suave”, diz.
O chef Caio Sotter, do restaurante Pacato, em BH, serve um menu especial dedicado ao QMA, batizado como “Queijo: Vida e Tempo”. Apaixonado pelo ingrediente, ele avalia que o reconhecimento da Unesco valoriza toda a cadeia produtiva. “Acho que os produtores terão mais respaldo para vender, conseguir cobrar um preço mais interessante e reverter isso em treinamento e melhorias na fazenda, melhorias no processo produtivo. A cadeia toda ganha muito com isso. Acredito que o anúncio tem potencial para ampliar o consumo, porque todas essas chancelas, como quando algum queijo ganha um prêmio, fazem com que os consumidores queiram consumir mais”.
Mercado Central vibra com conquista do Queijo Minas Artesanal
Das quatro centenas de lojas do Mercado Central, no centro de Belo Horizonte, cerca de 70 se dedicam aos laticínios, entre eles o Queijo Minas Artesanal. O dia é de festa para os lojistas, que recebem cerca de 345 mil quilos de queijos mineiros por mês.
“Somos a casa do queijo em Belo Horizonte. Confesso a você que estou em êxtase. Temos queijos de todos os preços aqui. Alguns já premiados na Holanda, na França… Temos queijos de todos os tipos de valores, todos eles bons”, celebra o diretor presidente, Ricardo Campos Vasconcelos. “O que vai ocorrer na prática é que vai haver uma procura maior pelo queijo, seja pelos mineiros, seja pelos turistas. As pessoas vão querer conhecer, experimentar, comprar e levar para suas famílias. Levar Minas na bagagem na forma de um queijo é algo que nos representa muito”.
Fonte: O Tempo