O ato de ler livros e os contextos socioeconômicos

Sabemos que a leitura de bons livros enriquece o espírito, mas formar bons leitores ainda é um desafio em nosso país. Isso por causa, também, do contexto socioeconômico. Não é somente a questão do valor dos livros, mas é a questão de suportes à vida do leitor, ou melhor dizendo, dos leitores.

Em outras palavras, não basta apenas ter acesso ao livro, mas é necessário ter as condições mínimas para lê-lo, isso estruturalmente falando para que, assim, possamos usufruir dos benefícios da leitura.

Muitas pessoas se empenham em propagar a importância de ler bons livros, mas algumas se frustram com o resultado distante do esperado. Isso porque as pessoas a que se destinam a propaganda de ler livros nem sempre têm condições para começar o manter o hábito da leitura.

Vejamos alguns empecilhos:

• Muitas pessoas não têm comida suficiente para se manter bem, ou seja, a alimentação não é adequada porque não tem qualidade.
• Várias pessoas não vivem em um ambiente higienizado e propício à leitura. Às vezes, as próprias escolas onde professores incentivam à leitura não são higienizadas adequadamente e não têm bibliotecas. E quando têm, não são espaços adequado para o funcionamento da mesma.
• O público algo das propagandas para serem novos leitores vivem em contextos desafiadores em suas comunidades, como venda e consumo de drogas.
• Esse mesmo público alvo não tem um contexto familiar que reconhece a importância do hábito da leitura.
• Temos que falar dos estereótipos que se formaram no inconsciente coletivo sobre as pessoas que gostam de ler, como: são pessoas com QI elevado, são pessoas que se escondem da convivência coletiva, são pessoas filhas de pessoas ricas ou que têm boas condições financeiras etc.

Diante do que colocamos até aqui parece que o autor deste texto quer desmotivar os propagadores do hábito da leitura de nosso país. Mas de forma nenhuma é esse o objetivo deste texto, mas pelo contrário, o objetivo é entender que a nossa luta em propagar o hábito da leitura vai além de lutar apenas pelo acesso ao livro, pois é uma questão política muito mais ampla.

É necessário termos representantes no governo de nosso país, estados e municípios que defendam a importância de sermos um país de bons leitores.

Sabemos que quem lê de verdade ver o mudo com outro olhar e age de forma diferenciada, pois tem mais consciência de seus direitos e dos direitos das outras pessoas.

Mas a luta tem que continuar. Mesmo que ainda não possamos mudar a realidade dos contextos socioeconômicos de uma hora para outra, temos que fazer o que já fazemos: incentivar as pessoas que nos estão próximas a viverem o hábito da leitura, pois algumas delas, ou um pouco mais que algumas, podem superar os obstáculos e se tornarem boas leitoras e, assim, também serem propagadoras do benefício do ato da leitura.

A criatividade é uma arma que temos ao nosso favor hoje. Precisamos ser criativos para convencer as pessoas a se tornarem boas leitoras. Isso vai de nossa casa até as pessoas nas escolas e nas ruas.

Um instrumento criativo para formar bons leitores é o testemunho. Ou seja, demonstrar os benefícios que a leitura trouxe à vida de uma pessoa, como um caso de um morador de rua que passou em um concurso público lendo livros que encontrava no lixo, um ex-detento que se tornou advocado por influência de um grupo de leitura que acontecia na prisão (esses dois casos são verdadeiros), pessoas que deram novos rumos positivos a suas vidas etc.

Mas não podemos deixar de dizer que ler é gostoso, não é verdade? Fale sobre suas experiências com o hábito da leitura.

Uma coisa que não podemos deixar de falar é sobre os grupos de leitura, pois eles são uma forte ação que beneficia a vida de quem participa e é uma forte propaganda para atrair novos leitores.

Vamos criar grupos de leituras em todos os lugares possíveis e até ditos impossíveis.

Um instituto que admiro muito sobre a propagação do hábito da leitura é o Observatório do Livro e da Leitura dirigido por Galeno Amorim que vem trabalhando, há muito tempo, na difusão do hábito da leitura em hospitais, presídios e etc. Acesse o link para conhecer esse Instituto: https://observatoriodolivro.org.br/

Desejo para você boas leituras e boas propagação do hábito da leitura.

Por: Edson Carlos de Sena – psicanalista e educador
Visite o site do autor e encontre artigos sobre leitura e biblioterapia.
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