Ah! A esperança! por Lucas Couto
Até o que não fala, nesta época do ano fala dela intensamente. Decorações na cidade, brilhos, luzes piscando, o atropelo do povo nas ruas procurando presentes, o trânsito que não anda, todo mundo indo junto no turbilhão – tudo fala da esperança. É a esperança que nos faz acreditar firmemente que as festas de Natal e de Ano Novo nos transportarão magicamente para um outro estágio, lá onde seremos mais felizes. Essa é uma onda da qual ninguém escapa: as crianças, os jovens e os que se rendem humildes aos apelos da velha infância. No ano que vem tudo será diferente é o sonho que todos acalentam, alardeiam e outros cultivam no silêncio! Nesse ponto cabe perguntar como é que essa esperança, tão amada e cultuada no final do ano, chega do outro lado, no mês de janeiro, quase sempre chuvoso, deslizando lentamente em clima de ressaca. É nesse clima inclusive que a esperança precisa brotar para prosperar por mais 11 meses, vigorosa.
Para isso, agora que estamos no antes, às vésperas das festas do fim do ano, podemos pensar que, se queremos que a esperança siga conosco, ela precisa ser feita de material adequado, resiliente. Tem que ser conjugada enquanto uma ação, um verbo. A esperança capaz de construir dias melhores para cada um de nós e para todos nós juntos, precisa ser conjugada como o verbo esperançar. Todos juntos seremos seus sujeitos, eu, eles e elas, nós. Que a esperança que se conjuga como espera, sozinha, essa não constrói, essa definha e desmente a esperança que vem do verbo esperançar, que explode em cores, luzes, risos e abraços no final do ano. A esperança capaz de realizar sonhos e planos é a que habita na humanidade de cada um como uma chama preciosíssima. No próximo ano, experimentemos nos juntar, cada um com a sua humanidade e esperança, para fazer o que fizemos sempre, de outro modo. Essa esperança multiplicada entre muitos tem a qualidade de nos fazer olhar para nós mesmos com mais compaixão e paciência. A esperança humanamente compartilhada em projetos e planos nos torna capazes de abraçar a incerteza que dá luz ao novo sem medo, de ajustar o foco e reafirmar para nós mesmos que somos capazes de ir em frente. De fato, juntos nós somos muito mais fortes e melhores. A esperança do verbo esperançar é capaz de ver que a felicidade humana possível não se afasta muito de nós e se encontra à mão, nas mãos de quem zela por ela sem falhar um dia. Projetada, adiada, a felicidade escorre entre os dedos. Felicidade não é lá e depois, é aqui e agora. Agora, enquanto as luzes de Natal e a multidão ruidosa nos lembram do final do ano, que possamos ressignificar a esperança para que ela seja real e transformadora de cada um de nós e de nós todos juntos. Essa é a hora!
Lucas Couto de Souza