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Fake news sobre diabetes: o risco para saúde dos pacientes que confiam em tudo que está na internet

Redação11 de abril de 202517min0
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Desinformação pode colocar a vida das pessoas em perigo e comprometer o tratamento da doença

Navegar pela internet, especialmente em redes sociais e grupos de mensagens, pode tornar qualquer um vulnerável a conteúdos enganosos relacionados à saúde. Quem nunca recebeu de um amigo ou parente uma mensagem afirmando que vacinas causam doenças ou que uma pesquisa de uma prestigiada universidade comprovou a cura de uma patologia com um determinado medicamento? Essa infodemia – excesso de notícias precisas ou não – levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a classificar a desinformação como uma das principais ameaças à saúde global.

Um estudo do Instituto Locomotiva, divulgado em abril de 2024, revelou que quase 90% da população brasileira admite ter acreditado em ideias não verídicas, ou seja, oito em cada dez pessoas já deu credibilidade a fake news. Mesmo assim, 62% dos brasileiros confiam na própria capacidade de diferenciar informações falsas de verdadeiras. Outro ponto de destaque na pesquisa, que ouviu 1.032 pessoas com 18 anos de idade ou mais, é que 12% dos entrevistados creem que os maiores riscos da desinformação são os danos aos cuidados com a saúde.

Um dos principais alvos de conteúdos improcedentes na web é o diabetes, condição crônica na qual o corpo não produz insulina ou não consegue empregar adequadamente o hormônio que produz. Conforme Flavio Pirozzi, membro do Departamento de Saúde Digital, Telemedicina e Inovação em Diabetes da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), o que não faltam são promessas nas redes sociais. “Os pacientes se deparam constantemente com anúncios ou vídeos vendendo a ideia de que existe um remédio mágico que pode abaixar a glicemia ou um tratamento milagroso que pode curar a doença.”

O especialista afirma que as fakes news sobre a síndrome metabólica colocam em xeque o trabalho dos profissionais de saúde. “Essa pessoa, que sabe que tem uma doença crônica que exige alimentação equilibrada e exercícios físicos para manter estáveis os níveis de glicose, de repente, encontra alguém vendendo uma solução mágica e se pergunta: será que realmente não existe cura para essa condição ou será que o meu médico não estaria desatualizado? Infelizmente, alguns se deixam levar por essa situação e acabam pagando por tratamentos e medicamentos que não existem,” destaca.

Explicando o óbvio

Pirozzi enfatiza que, muitas vezes, precisa gastar tempo com o paciente no consultório explicando o óbvio e desmistificando as falsas informações. “Alguns falam assim: ‘ah, mas eu escutei isso de um médico numa rede social.’ Então tenho que dizer a eles que, infelizmente, apenas ter um diploma de medicina não confere veracidade à informação. Além disso, há atores fingindo ser médicos para vender produtos. Num caso recente, uma pessoa de jaleco diz que quem tem diabetes tipo 2 e faz uso da metformina está sendo tratado errado, uma vez que o remédio seria prejudicial ao rim. Em seguida, oferece uma terapia caseira natural.”

O médico faz questão de frisar que a metformina é o primeiro medicamento e o mais importante a ser receitado para um paciente com diabetes tipo 2. No entanto, os propagadores distorcem as informações. “Eles pegam um ponto que pode ter uma relação verdadeira, mas colocam numa situação totalmente errada. Por exemplo, a metformina, a gente tem que ajustar a dosagem conforme a função renal da pessoa. Então, se cria esse mito em cima de um negócio que tem um ponto de verdade, mas aí eles invertem para tentar vender um produto natural, que não terá efeito”.

O caminhoneiro aposentado Gerçon de Oliveira, de 62 anos, é diabético há mais de 20 anos e faz uso de insulina e outros medicamentos. Ele conta que por diversas vezes testou receitas caseiras que pessoas conhecidas indicavam ou que via na internet. Água de quiabo, pata de vaca, folha de jamelão, noni, batata yacon, tudo foi experimentado para controlar a doença. “Tomei todas as coisas que me recomendaram, mas não resolveram nada. Agora fiquei descrente com tudo, e sigo apenas com a insulina, medicamentos e dieta.”

10 mitos sobre diabetes que circulam na internet

  1. Suco de quiabo “absorve” o açúcar do sangue e elimina o diabetes.
  2. Suco de batata inglesa controla a glicose e cura gastrite.
  3. Em apenas cinco dias, chá de pau de canela e sopa de pó de cravo eliminam o diabetes.
  4. Chá de folhas de nespereira (ou ameixa amarela) estimula a produção de insulina e trata o diabetes.
  5. Suco de batata yacon cura o diabetes em um mês.
  6. Apenas uma abóbora é suficiente para normalizar os níveis de glicose.
  7. Chá de folhas de manga contém antioxidantes que ajudam no tratamento do diabetes.
  8. Tomar vitamina feita com casca de abóbora em jejum ajuda a controlar a glicose.
  9. Beber suco de repolho diariamente por duas semanas reduz a glicose e cura o diabetes.
  10. Chá de carqueja é eficaz para diminuir os níveis de açúcar no sangue.

Luta para informar

No meio de uma enxurrada de boatos e falsas notícias na internet, há quem se dedique para informar as pessoas com credibilidade. No entanto, essa tarefa se esbarra em diversos fatores, inclusive judiciais. Um claro exemplo disso é o que aconteceu no ano passado com a bióloga Ana Bonassa, PhD pela USP, e a farmacêutica Laura Marise, do canal Nunca Vi Um Cientista. Elas chegaram a ser condenadas por desmentir uma publicação que alegava que o diabetes era causado por vermes.

O processo foi movido por um nutricionista e influenciador que pretendia vender um “protocolo de desparasitação”. A Justiça de São Paulo sentenciou a dupla a pagar indenização por danos morais. Porém, o ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu a decisão no fim de setembro considerando que as afirmações de Ana e Laura tinham respaldo da ciência. “Tem-se manifestação de pensamento crítico à atuação de perfil público e de teorização fundada tanto em fatos como em dados científicos acerca da diabetes,” enfatizou o ministro.

Laura classifica a condenação como um ‘balde de água fria’. “Durante todo o processo, estávamos confiantes que não teríamos problemas com a sentença. A decisão foi chocante. Confesso que passou pela cabeça desistir. Mas o apoio que conseguimos com nossa comunidade foi um combustível para continuar. A ciência em si não precisa lutar contra tudo e todos, pois ela tem seus próprios percalços a superar. Mas as pessoas que trabalham na divulgação científica, essas sim, têm que se provar o tempo todo e aguentar os apaixonados pelos próprios vieses.”

Outra questão levantada pela farmacêutica é a contradição do livre acesso à internet com o esclarecimento das pessoas. “A gente acreditava que com a internet na palma das mãos seria possível tirar todas as dúvidas instantaneamente. Mas não imaginava que a maior barreira que enfrentaria no combate às fake news seria justamente o volume de conteúdo disponível. As pessoas ficam completamente perdidas e não sabem em quem acreditar. Diante de uma escolha que precisa ser feita, seguem quem fala o que está mais ajustado com os próprios ideais. E isso implica em estar fechado a outras abordagens ou até mesmo em atacar quem pensa o contrário.”

O diabetes como alvo

A Federação Internacional de Diabetes (IDF- sigla em inglês) estima que a prevalência da doença no Brasil é de 10,5%. Levando em consideração os resultados do Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que revela que a população é formada por 203.080.756 pessoas, significa que o número de diabéticos no país está em cerca de 20 milhões. Ainda segundo a IDF, o Brasil ocupa o 6º lugar no mundo entre os países com mais pessoas com a doença metabólica no geral e a 3º posição quando se fala em diabetes Tipo 1.

O fato de ser uma condição crônica que afeta boa parte dos brasileiros é uma das razões apontadas pela presidente da Regional Minas da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), Flávia Maia, para tornar o diabetes um grande alvo das fake news. “Ninguém inventa uma cura milagrosa para uma infecção aguda, que em sete dias você melhorou e não tem mais nada. Além disso, por ser uma patologia progressiva, os pacientes ficam fragilizados e buscando uma melhora, o que abre um leque de oportunidade para pessoas que não têm ética.”

A especialista ainda bate numa tecla constantemente debatida: o discurso de que a indústria farmacêutica não quer a cura do diabetes. “Esses tratamentos alternativos, se eles fossem realmente válidos ou se tivessem o seu lugar de referência, o próprio setor já teria tentado de alguma forma manufaturar o produto para comercializá-lo. Se conhecessem a cura dessa doença, já estariam lucrando com isso. Então, não existe essa invenção de moda.”

O medo da insulina

Maia também afirma que um dos motivos pelos quais as pessoas recorrem a tratamentos alternativos não confiáveis é o medo da insulina. No entanto, ela enfatiza que o paciente não precisa ter receio ou se sentir culpado por ter que usar o medicamento. “Às vezes, eles ficam com aquela impressão: se eu não fizer tudo direitinho, a médica vai me prescrever insulina. Não é isso. A insulina é um tratamento e alguns indivíduos vão precisar adotá-la. Mas isso não é castigo, não é demérito. É simplesmente porque a pessoa tem uma doença crônica e progressiva,” finaliza.

Ações de enfrentamento

O Ministério da Saúde foi questionado sobre quais estratégias adota para combater a produção e disseminação de notícias falsas sobre diabetes. Em resposta, a pasta diz que disponibiliza em seu site o espaço Saúde com Ciência (gov.br/saudecomciencia), iniciativa que facilita o acesso da população a informações confiáveis sobre saúde e promove a conscientização sobre a importância da luta contra a desinformação. “Uma das prioridades da pasta e do governo federal é fortalecer a inteligência governamental para enfrentar esse desafio,” diz o ministério em nota.

No portal Saúde com Ciência, o usuário também é ensinado a como e onde denunciar conteúdos falsos nas redes sociais. As denúncias devem ser feitas via Ouvidoria ou pela plataforma Fala.BR, com o preenchimento do formulário contendo o relato, informações sobre a publicação, o responsável, o link e, se possível, anexos dos arquivos.

Ainda conforme o ministério, no caso de desinformação ou promessas milagrosas para o diabetes na internet, a recomendação é encaminhar as denúncias a órgãos competentes, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Conselhos Profissionais da Área da Saúde ou o Ministério Público.

6 passos para reconhecer uma fake news

  1. Verifique a fonte: prefira sites oficiais e veículos de comunicação reconhecidos, principalmente quando o tema for saúde. Pesquise o assunto em mecanismos de busca e veja se há outras fontes confiáveis abordando a mesma questão.
  2. Confira a data de publicação: uma estratégia comum de desinformação é reaproveitar conteúdos antigos como se fossem atuais. Fotos, declarações e informações retiradas do contexto original podem distorcer os fatos. Sempre cheque quando o material foi publicado.
  3. Leia a notícia completa: manchetes sensacionalistas são comuns em Fake News para despertar curiosidade e indignação. Não se deixe levar apenas pelo título—leia todo o conteúdo e aplique as outras estratégias de verificação.
  4. Desconfie de textos exagerados e emocionais: notícias falsas costumam ter um tom alarmista, carregado de adjetivos e voltado para gerar medo, dúvida ou revolta. Fique atento se o objetivo parece ser desacreditar algo já respaldado pela ciência.
  5. Pesquise os dados apresentados: números e estatísticas podem ser manipulados ou até inventados. Verifique se há fontes oficiais confirmando essas informações. Muitas bases de dados públicas estão disponíveis na internet—use-as a seu favor.
  6. Cheque as fontes citadas: desinformações frequentemente mencionam especialistas ou pesquisas supostamente de prestígio, mas sem referências verificáveis. Busque informações sobre esses profissionais e estudos em sites confiáveis para conferir sua credibilidade.

Fonte: Ministério da Saúde 

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