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Brasil tem 541 espécies invasoras que colocam agro e meio ambiente em risco

Redação23 de junho de 202512min0
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Em Minas, são 210, de acordo com o Instituto Hórus, muitas chegaram para ajudar no campo, mas saíram de controle. Prejuízo chega a R$ 15 bilhões por ano

Em Minas Gerais, ao menos 210 espécies invasoras, da fauna (138) e da flora (72), ameaçam o meio ambiente e a agropecuária. Em todo o país, são cerca de 541, plantas (190) e animais (352), identificados em todos os biomas brasileiros com potencial de causar prejuízo. O levantamento é do Instituto Hórus de Desenvolvimento e Conservação, organização sem fins lucrativos que trabalha com manejo de fauna e flora invasoras. A organização é responsável pela elaboração, junto ao Instituto Estadual de Florestas de Minas Gerais (IEF-MG), da lista de espécies exóticas encontradas no estado.

O Hórus mantém, desde 2005, um banco de dados colaborativo sobre as espécies invasoras no Brasil.

De acordo com Sílvia Ziller, engenheira florestal doutora em invasões biológicas e fundadora do Hórus, plantas ou animais movidos para outro ecossistema se tornam ameaça ao meio ambiente e à agricultura. Necessariamente, explica Ziller, elas não precisam ser de outros países. O tucunaré, por exemplo é um peixe nativo da Amazônia brasileira, mas considerado invasor na bacia do Rio Doce, onde mata outras espécies.

“Quando uma espécie muda de ecossistema, aqueles predadores naturais que todas as espécies nativas têm, porque evoluíram ao longo de milhões de anos para chegar a um ponto de equilíbrio com a comunidade biológica, não vêm junto. Então, elas acabam tendo uma vantagem competitiva em relação às outras, ficando imunes a doenças, patógenos, parasita, predadores e com isso se propagam mais”, afirma Ziller, que integra ainda o Conselho do Programa Global de Espécies Invasoras mantido pela União Internacional para Conservação da Natureza.

As plantas e os animais invasores, na maioria das vezes, são trazidos, detalha Ziller, devido ao desconhecimento do perigo de mover uma espécie de um meio para o outro, ou são introduzidos no ambiente para auxiliar na agropecuária. Um exemplo, aponta a engenheira florestal, são as forrageiras trazidas para alimentar o gado e que acabaram virando problema nacional.

Além de causar danos ao meio ambiente, destaca Sílvia Ziller, elas invadem áreas agrícolas, representando custo adicional para o cultivo. É o caso da leucena, originária do México e trazida para o Brasil na década de 1970 para alimentar o gado. É considerada hoje uma das maiores invasoras no Brasil, devido ao seu rápido crescimento e grande produção de sementes. A planta também consta da lista das espécies com alto potencial invasor em Minas Gerais.

Em Uberlândia, no Triângulo Mineiro, o plantio de leucena é proibido por lei municipal desde 2011. Em Lagoa da Prata, no Centro-Oeste, além da leucena, o nim indiano e tulipeira-africana também foram proibidos por lei, em abril deste ano. Campo Grande (MS) sancionou agora em junho uma lei que prevê erradicação e substituição da leucena e proíbe plantio, comércio, transporte e produção da planta.

O nim indiano, do Sudeste Asiático, chegou ao Brasil na década de 1980 para a produção de óleo repelente, mas seu plantio hoje já é proibido em várias cidades e, desde o ano passado, em Tocantins.

Muito presente no Norte de Minas, o nim indiano mata abelhas e outros insetos em geral, dificultando a polinização e afetando o meio ambiente e a agricultura. “O nim é uma clássica invasora, conhecida até como árvore do diabo, porque ocupa áreas agrícolas e as pessoas, muitas vezes, não têm recursos para fazer controle”, destaca Ziller.

Margaridão, espécie invasora originária do México, tomou conta da margem do rio das Velhas, entre Belo Horizonte e Sabará
Margaridão, espécie invasora originária do México, tomou conta da margem do rio das Velhas, entre Belo Horizonte e SabaráTúlio Santos/EM/D.A.Press

 

Outra espécie trazida para o país para auxiliar a produção agropecuária como adubo verde e que acabou se espalhando também como ornamental é o margaridão, conhecido como girassol-mexicano, nome dado devido à sua origem. Ela faz parte da relação de plantas invasoras em Minas Gerais e pode ser vista, em grande quantidade, por exemplo, às margens do Rio das Velhas, no trecho que corta Belo Horizonte, Sabará, Ouro Preto, e também na Serra do Espinhaço e no Vale do Rio Doce.

Outra ameaça no estado é o javali, ou javaporco, considerado a espécie invasora mais danosa para a agricultura brasileira, presente praticamente em todos os biomas do país. A invasão é motivo de um projeto de lei no Legislativo mineiro regulamentando seu abate. Trazidos ao país devido à carne saborosa, eles escaparam do controle e hoje são considerados “praga”. Eles devastam lavouras de milho e outras culturas, comprometendo a produção agrícola.

Fábio Hosken, zootecnista e instrutor da Federação de Agricultura de Minas Gerais (Faemg) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), afirma que o javaporco, cruzamento do porco com javali, está presente em quase todo o Brasil. “Ele só não está na Amazônia” conta Hosken, que defende um plano de manejo por meio do abate para conter a proliferação. Segundo ele, além de um risco para a produção econômica, também causa danos ao meio ambiente, pois destrói nascentes, e pode ser vetor de doenças. Hosken diz que outra espécie preocupante no estado é a capivara, animal nativo, também responsável pela destruição de lavouras, encontrado em locais onde há abundância de água.

Lista atualizada

Relatório Temático sobre Espécies Exóticas Invasoras, Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES), publicado no ano passado, estima, que o prejuízo econômico dessas espécies para o Brasil gira entre R$ 11 bilhões e R$ 15 bilhões anuais.

O estudo foi conduzido pela Universidade da Boêmia do Sul, na República Tcheca, e diz respeito a 162 espécies invasoras que causam impactos financeiros em escala global. Um dos autores desse relatório e também de uma pesquisa liderada pela Universidade Federal de Lavras (Ufla), que resultou em uma lista atualizada de 100 espécies exóticas invasoras para detecção precoce e controle prioritários no Brasil, o professor de ecologia e engenheiro florestal Rafael Zenni, especialista nessa área, afirma que hoje esse problema é uma das principais causas de mudanças ambientais no mundo.

“As invasões biológicas são uma ameaça silenciosa. Em grande parte dos casos só percebemos que se tornou um risco depois que aquela população cresceu muito”, afirma. Mas a maioria das espécies exóticas, explica Zenni, tem baixo potencial de se tornar invasoras, “só que a gente não sabe ainda com precisão quais são as que têm alto risco”. Ele defende que as ações para conter essas invasões aconteçam antes que elas se tornem uma ameaça.

O prejuízo estimado com espécies invasoras no Brasil é entre R$ 11 bilhões e R$ 15 bilhões.
O prejuízo estimado com espécies invasoras no Brasil é entre R$ 11 bilhões e R$ 15 bilhões.Reprodução

 

Pesquise antes de mover uma espécie de seu bioma

O Instituto Hórus mantém em sua base de dados nacional sobre espécies invasoras uma aba para consulta específica sobre animais domésticos, peixes e plantas ornamentais. Quem quiser pode pesquisar por meio dos filtros disponíveis na base de dados que incluem, inclusive, os nomes populares, pelos quais as espécies da fauna e da flora geralmente são conhecidas. Para acessar, clique aqui.

Fonte: Estado de Minas

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