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Brasil investe em pesquisa com planta da tequila para produção de etanol

Redação5 de agosto de 202511min0
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O estudo inclui também outras variedades promissoras do gênero Agave mantidas no Banco Ativo de Germoplasma da Embrapa, para produção de biomassa

Agave tequilana, planta amplamente utilizada no México na produção de tequila, começa a ganhar novos usos no Brasil. Em uma pesquisa conduzida pela Embrapa Algodão (PB) em parceria com a empresa Santa Anna Bioenergia (BA), a espécie está sendo estudada como alternativa para produção de etanol, sequestro de carbono e alimentação animal. A proposta é diversificar o uso do Agave como fonte de energia renovável adaptada ao Semiárido, impulsionar a bioeconomia e contribuir para a transição energética no País.

O estudo inclui também outras variedades promissoras do gênero Agave mantidas no Banco Ativo de Germoplasma da Embrapa, para produção de biomassa, entre elas a Agave sisalana (sisal), hoje utilizada principalmente para a produção de cordas, tapetes, carpetes e na construção civil.

Além de contribuir para a redução das emissões de gases de efeito estufa, o estudo tem como objetivo desenvolver um sistema de cultivo para a produção de Agave tequilana e outras espécies com fins energéticos. O intuito é também promover o melhor aproveitamento dessas plantas, considerando que, atualmente, apenas 4% da biomassa da folha da Agave sisalana é utilizada no processo de industrialização.

O Brasil é o maior produtor mundial de Agave sisalana com 95 mil toneladas de fibra em 2023, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Cerca de 95% da produção nacional se concentra no estado da Bahia, onde a cultura é uma das principais fontes de renda do chamado Território do Sisal. A Paraíba ocupa o segundo lugar no ranking nacional de produção da fibra de sisal em uma área de aproximadamente cinco mil hectares, de acordo com o IBGE.

O gênero Agave vem atraindo a atenção de empresas de energia como potencial matéria-prima para produção de bioenergia, a exemplo do etanol e compensação líquida de gases de efeito estufa devido às características de adaptação ao clima do Semiárido.

 

Bioenergia e justiça social

Além dos aspectos econômicos e ambientais, o pesquisador da Embrapa Algodão Tarcísio Gondim (foto à direita) destaca que a pesquisa tem uma importante contribuição social.  “Essa inovação tecnológica pode contribuir para mitigar desigualdades regionais e enfrentar a precarização das áreas sisaleiras do Nordeste brasileiro. Para isso, vamos utilizar plantas xerófilas – adaptadas a ambientes secos – com múltiplo propósito: produção de etanol, alimentação para ruminantes e captura de CO2 em regiões de baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)”, explica.

Embora o ciclo do Agave seja mais longo que o da cana-de-açúcar, sua principal vantagem é a adaptação às condições semiáridas, onde outras culturas não alcançam rendimentos competitivos.

“O ciclo do Agave pode levar cerca de cinco anos ou mais para atingir a fase de colheita. No entanto, o escalonamento das áreas de plantio ao longo do período permitirá a estabilização da produção de biomassa para fins energéticos, garantindo competitividade na exploração comercial no Semiárido. Para que isso se concretize, é necessário investir em estudos para avançar na padronização de cultivares, no manejo da cultura, nos tratos culturais, na fertilidade do solo, na mecanização do cultivo e no processamento integral da biomassa”, explica Gondim.

 

Foto: Alexandre Oliveira (pesquisador Tarcísio Gondim)

 

Primeiras mudas chegam ao campo

Em março, pesquisadores da Embrapa Algodão realizaram uma missão ao México, onde visitaram o Instituto Nacional de Investigações Florestais, Agrícolas e Pecuárias (Inipaf), órgão equivalente à Embrapa naquele país, além de diversas instituições ligadas à cadeia produtiva da tequila, com o intuito de identificar oportunidades de colaboração em pesquisas sobre a produção de biomassa para obtenção de biocombustíveis, sequestro de carbono e aproveitamento dos resíduos da planta para alimentação animal.

As primeiras 500 mudas de Agave tequilana Weber var. Azul, oriundas do México e trazidas pela Santa Anna Bioenergia, já passaram pelo processo de quarentena e atualmente a equipe de pesquisadores brasileiros está iniciando os estudos de avaliação da espécie no município de Jacobina, na Bahia, onde está sendo instalada a primeira Unidade de Referência Tecnológica (URT) de Agave tequilana. Outras duas URTs serão implantadas nos municípios de Alagoinha e Monteiro, na Paraíba, totalizando 1.800 mudas de Agave tequilana na primeira etapa do projeto.

 

Painel de dados e análise química

O experimento faz parte do projeto Agave na produção de etanol, sequestro de carbono e ração animal nas condições do Semiárido brasileiro e terá duração de cinco anos. Nesse período, serão realizados ensaios para recomendação de arranjos de plantio, adubação e tratos culturais para garantir maior rendimento e viabilidade econômica. Além disso, os cientistas investirão no desenvolvimento de metodologia para quantificação de carbono e das propriedades químicas dos componentes da biomassa de Agave no processo de pós-colheita para produção de etanol e ração animal à base de resíduo da planta.

Segundo o pesquisador Everaldo Medeiros, responsável pelas análises no laboratório de Química da Embrapa Algodão, as atividades de caracterização química e análise do potencial de utilização da biomassa estão sendo conduzidas com metodologias inovadoras, possibilitando a criação de um painel abrangente de dados. Esse painel servirá de base para estratégias eficazes de aproveitamento da biomassa de Agave para geração de energia, além de permitir a quantificação do sequestro de carbono.

 

Foto: Tarcísio Gondim

 

Alimentação animal e mecanização

Para o zootecnista Manoel Francisco de Sousa, também da Embrapa Algodão, “os resíduos do processo de produção de etanol a partir da A. tequilana podem atuar como importante aporte forrageiro na alimentação de ruminantes, especialmente na época de escassez de forragens no Semiárido”.

Outro desafio do projeto será viabilizar a mecanização das etapas do plantio e da colheita do Agave. “Nossa visão de futuro é ter grandes áreas cultivadas com Agave e isso não pode ser feito manualmente. No México, embora diversas etapas do cultivo do Agave sejam mecanizadas, a exemplo do preparo do solo, adubação, capina, aplicação de inseticidas e herbicidas, a etapa do plantio ainda é feita cavando-se a cova manualmente”, relata o pesquisador da Embrapa Algodão Odilon Reny Ribeiro, especialista em mecanização agrícola.

(Embrapa)

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