Unesco oficializa título do queijo mineiro artesanal
O queijo mineiro, que faz a fama do estado, teve seu valor reconhecido por uma chancela internacional. Os Modos de Fazer o Queijo Minas Artesanal foram reconhecidos pela Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. A certificação, aprovada no final de 2024, será oficializada na próxima terça-feira (2/9), com a entrega do título ao Governo de Minas Gerais pela diretora e representante da Unesco no Brasil, Marlova Jovchelovitch Nolet, em solenidade em Belo Horizonte.
Minas Gerais já soma cinco bens reconhecidos pelo órgão da Nações Unidas como patrimônios naturais e imateriais da humanidade. Em 13 de julho passado, durante a 47ª Sessão do Comitê do Patrimônio Mundial, em Paris, a Unesco conferiu o titulo de Patrimônio Mundial da Humanidade ao conjunto de sítios arqueológicos do Parque Nacional Cavernas do Peruaçu, no Norte de Minas, embora ainda falte a entrega oficial da certificação ao Vale do Peruaçu, onde o movimento turístico aumentou nos últimos meses.
Outros locais do estado titulados como patrimônios da humanidade são: Os centros históricos de Ouro Preto e Diamantina, o santuário de Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas; e o Conselho Moderno da Pampulha (que tem como destaque a igreja de São Francisco de Assis), em Belo Horizonte.
“O título de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade concedido pela UNESCO ao queijo minas artesanal é histórico. Trata-se do único bem da cultura alimentar do Brasil a receber esse reconhecimento mundial. É o nosso modo de fazer, transmitido por gerações, que ganha o mundo, afirmando Minas e o Brasil como referências de identidade, sustentabilidade e cultura”, destaca o secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Leônidas Oliveira.
O reconhecimento internacional é comemorado pelos produtores do queijo artesanal. As técnicas para produção da iguaria mineira foram desenvolvidas ao longo de mais de 300 anos, com origens nos pequenos produtores rurais, como se verifica na região do Serro, conhecida pelo seu famoso produto.
O presidente da Associação Mineira do Queijo Artesanal (Amiqueijo) e Associação dos Produtores Artesanais de Queijo da região do Serro (APACs), José Ricardo Ozólio, destaca a titulação concedida pelo órgão nas Nações Unidas. “O reconhecimento pelo Unesco como patrimônio material do nosso modo de fazer queijo é de uma importância gigantesca, porque todo o processo começou aqui no Serro”, salienta Ozólio, lembrando que a região do Serro conta com 756 produtores da famosa iguaria.
José Ricardo Ozólio ressalta que os produtores já recebem ganhos com a certificação internacional. “Eles já sentem a melhoria sim. Já percebem um avanço. E a gente tem trabalhado muito nessa imagem, a gente tem menos de um ano desse reconhecimento e ainda estamos aprendendo a trabalhar esse novo reconhecimento, mas eles nos enchem de orgulho e nos dão a responsabilidade de permanecer na atividade com mais responsabilidade”, declara.
Produtor de queijo na região do Serro, Túlio Madureira acredita que a conquista junto a Unesco vai fortalecer o comércio do produto artesanal até no mercado da exportação. “Esse título pela Unesco vem num momento muito importante para o queijo artesanal. Vai consolidar o queijo no mundo. O reconhecimento mundial da Unesco, pra nós, é um grande sonho realizado uma vez que o produto passa a alcançar o mundo inteiro. Com esse registro as pessoas passam a conhecer o produto e quem sabe a gente possa alcançar o mercado externo!”, comenta Madureira.
Perpetuação para futuras gerações
Também do Serro, o produtor Moisés Antônio Barbosa, lembra que o queijo da região tinha registros como patrimônio imaterial junto ao Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Arquitetônico (IEPHA-MG) e ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). “O titulo conferido pela Unesco demonstra a relevância do saber de um povo brasileiro, mais especificamente o povo mineiro, na produção de um alimento, o que garante a perpetuação desse saber fazer para as gerações futuras”, avalia Moisés. Ele ressalta que a região produtora do queijo do Serro, na verdade, abrange 11 municípios.
Moisés diz que a certificação da Unesco inspira novos investimentos e melhorias no processo produtivo do queijo artesanal. “Aqui na região a gente começa a perceber a preocupação de (alguns) setores. Já começam a aparecer políticas públicas voltadas para a produção do queijo Minas artesanal, como montagem de laboratórios. Então, tudo isso auxilia o produtor no processo de produção diária do produto”, conclui.
A certificação de “Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade” aos modos de fazer o queijo artesanal também vislumbra melhorias no processo produtivo também na Serra da Canastra, outra região mineira que tem a economia movimentada e recebe muitos turistas por conta da atividade queijeira.
“O reconhecimento mundial do queijo artesanal mineiro representa uma grande conquista, uma vez que até pouquíssimo tempo o queijo Minas artesanal era considerado um produto proibido de se comercializar, era tratado como se fosse um produto clandestino. Então, se levava ali no escondido, os atravessadores faziam essa compra de um produto que a gente sabe da legitimidade, que a gente conhece todo (o processo) do (modo) de fazer atrás dele, toda a história envolvida no queijo”, afirma Thiago Vilela Tristão, produtor de Delfinópolis, um dos municípios que se destacam na fabricação do famoso queijo Canastra.
Thiago iniciou a produção de queijo há cinco anos, dando sequência a produção de queijo realizada há décadas por várias gerações de sua família. Ele já recebeu dezenas de premiações pela qualidade do produto e venceu concursos internacionais na França.
O produtor da Serra Canastra salienta que a certificação conferida pela Unesco valoriza as técnicas e os conhecimentos empregados na produção do produto artesanal. “O benefício que o título da Unesco traz para nós, produtores, é a seguridade desse reconhecimento perante toda uma sociedade, perante toda a humanidade, de um modo geral, aonde esse produto se consolida, como um bem maior, além de um simples queijo. Porque não é um simples queijo, um queijo acabado na mesa, mas por trás dele, existe uma gama muito grande de preparos e cuidados e atenções que são tomadas desde o próprio rebanho (bovino), desde os colaboradores ali no feitio, até mesmo na ponta final do consumidor”, descreve Thiago Tristão.
Fonte: Estado de Minas