Conscientização da osteoporose traz à tona desafios inerentes à doença que costuma ser silenciosa
A data é significativa, tanto no Brasil quanto ao redor do planeta. Em 20 de outubro celebra-se o Dia Nacional e Mundial da Osteoporose, como forma de conscientizar a população acerca da doença caracterizada pela perda de força óssea, o que predispõe as pessoas acometidas a quadros de fratura. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o envelhecimento populacional pode levar o Brasil a registrar cerca de 160 mil fraturas de quadril por ano até 2050.
A médica geriatra Elen da Mata destaca que a osteoporose é silenciosa, e, muitas vezes, só é descoberta depois da primeira fratura. “Como não há dor ou sinais prévios, muitas pessoas não procuram avaliação médica preventiva e só descobrem a doença depois de um evento mais grave, como uma fratura no quadril, punho ou vértebras”, ressalta. Nesse sentido, o maior desafio é que “as pessoas não percebem que estão em risco e não fazem exames preventivos”. “Além disso, há pouca valorização dos sinais precoces, e fraturas em idosos ainda são vistas, de forma equivocada, como algo ‘normal da idade’”.
Segundo a especialista, para mudar esse cenário, é essencial “rastrear ativamente homens e mulheres a partir dos 65 e 70 anos, ou antes, se houver fatores de risco”. “Valorizar a densitometria óssea como exame de rotina e ampliar a conscientização de que fratura não é normal, realizando um diagnóstico precoce, resguarda a autonomia e a qualidade de vida dessas pessoas”, informa.
Fatores de risco
De acordo com a Federação Brasileira de Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), as mulheres a partir dos 50 anos são as mais afetadas pela osteoporose, especialmente após a menopausa. Isso porque, com a queda na produção de estrogênio, o corpo perde massa óssea e a chance de fraturas aumenta. Elen observa que, além da idade e do sexo feminino, as evidências apontam outros fatores importantes que aumentam o risco de osteoporose.
“Histórico familiar de fraturas, tabagismo, uso de corticoides e doenças crônicas, além da perda de massa muscular. Por isso, sempre reforço que a prevenção deve começar cedo, com cálcio e vitamina D adequados, atividade física resistida, boa alimentação e evitar tabaco e álcool. Essas medidas simples têm um impacto enorme na saúde óssea e na autonomia no envelhecimento”, garante.
A geriatra afirma que o tratamento da osteoporose precisa ser individualizado. “Faço uma analogia que o osso seria uma parede, o cálcio a areia, a água a vitamina D e o remédio seria o cimento. Se já houve fratura, usamos medicações mais potentes para reduzir rapidamente o risco de novas em um menor espaço de tempo, já que o risco se torna iminente. Temos dois grupos principais de medicamentos, os que reduzem a perda óssea (bisfosfonatos e denosumabe) e os que constroem osso (teriparatida e romosozumabe). São tratamentos seguros, com efeitos colaterais manejáveis e benefícios que superam amplamente os riscos”, explica.
Acompanhamento
Outro ponto decisivo no tratamento da osteoporose é o cuidado ao longo do tempo. Elen salienta que “uma fratura osteoporótica é como um infarto do osso, precisa de acompanhamento sério e contínuo”. “Quem fratura tem até cinco vezes mais risco de ter uma nova fratura no período de um ano. A prevenção de quedas é fundamental, e envolve adaptar a casa, revisar medicamentos, fortalecer músculos e usar dispositivos de apoio quando necessário, sem preconceitos. E a reabilitação deve ser multiprofissional, envolvendo médico, fisioterapeuta, nutricionista, educador físico e enfermagem, todos trabalhando juntos”, orienta.
A especialista conta que a adesão ao tratamento de osteoporose ainda é um grande desafio. “Estamos falando de uma doença crônica e silenciosa, que muitas vezes não causa sintomas até que aconteça uma fratura. Por isso, é essencial ter tempo de qualidade com o paciente e sua família para explicar com clareza o porquê de cada passo. Na minha prática, gosto de mostrar artigos, imagens e exemplos práticos para que o paciente visualize o impacto do tratamento e também as consequências de interrompê-lo. Explico que o tratamento não tem efeito imediato, mas protege o osso de forma cumulativa ao longo dos anos, evitando fraturas futuras”.
Quando percebe que há alguma resistência ou insegurança, Elen prefere não forçar uma decisão logo na primeira consulta. “Entrego um material informativo, peço que a pessoa converse com a família e marcamos uma nova consulta para decidirmos juntos. Essa decisão compartilhada fortalece o vínculo, aumenta a confiança e melhora muito a adesão ao tratamento. Também incentivo a participação ativa dos cuidadores e familiares. Quando todos compreendem a importância do tratamento e se envolvem, a chance de continuidade a longo prazo é muito maior. Afinal, estamos falando de terapias que muitas vezes acompanham o paciente por anos e garantem não só ossos mais fortes, mas fundamentalmente mais independência e qualidade de vida. Tratar osteoporose é um compromisso de longo prazo. Quando paciente e família caminham juntos, a adesão acontece e os resultados aparecem”, afiança.
Inteligência artificial auxiliando
A médica geriatra Elen da Mata traz uma boa notícia sobre os avanços no tratamento da osteoporose. “As novidades mais promissoras estão em diagnóstico inteligente e terapias potentes. No diagnóstico, destaco a avaliação de fratura vertebral, que detecta fraturas vertebrais silenciosas, e o uso da densitometria óssea para composição corporal, que integra osso, músculo e gordura. Começam a chegar também soluções com IA que ‘aproveitam’ tomografias feitas por outros motivos para rastrear osteoporose. No tratamento, o romosozumabe foi um divisor de águas e já está no SUS com critérios definidos. O pulo do gato para tratar a osteoporose é personalizar, medir melhor o risco e entregar o remédio certo, na ordem certa, com músculo forte e menos quedas”, analisa.
Por fim, ela esclarece que, embora afete mais as mulheres, a osteoporose “também atinge homens e costuma ser mais grave neles”. “Isso acontece porque os homens buscam menos os serviços de saúde, têm mais fatores de risco como tabagismo e álcool, e, muitas vezes, só descobrem a doença após uma fratura. Em relação aos homens nós sempre investigamos causas secundárias como hipogonadismo, doenças endócrinas e reumatológicas. Em ambos os sexos, condições como hipotireoidismo, uso de corticoides e doenças autoimunes também elevam o risco e precisam de rastreio precoce”.
Elen reforça que é fundamental procurar ajuda médica especializada, “garantindo um tratamento correto e baseado em ciência”. “A osteoporose masculina existe, é séria e precisa ser investigada com atenção. Prevenção e diagnóstico precoce garantem qualidade de vida”, arremata.
Fonte: O Tempo