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O impacto das mudanças climáticas na saúde infantil

Redação17 de outubro de 20259min0
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Diversos estudos demonstram relação direta entre fatores ambientais e climáticos e a saúde respiratória de crianças

Por Gustavo Cabral e William Cabral*

 

Nas últimas décadas, o debate sobre as mudanças climáticas tem ganhado cada vez mais relevância — e não apenas nos círculos acadêmicos. Diversos estudos científicos já demonstram, com evidências robustas, os impactos profundos que o clima em transformação provoca nas populações ao redor do mundo, especialmente entre os grupos mais vulneráveis, como crianças e adolescentes.

Nesse contexto, pesquisas de grande relevância vêm sendo conduzidas globalmente, com destaque para iniciativas brasileiras. Um exemplo expressivo é o trabalho realizado desde 2018 pelo Instituto Pensi (Pesquisa e Ensino em Saúde Infantil), da Fundação José Luiz Setúbal (FJLS), que lidera o maior ecossistema dedicado à saúde infantil no país. A instituição tem se destacado por integrar, de forma pioneira, questões ambientais aos estudos sobre saúde infantojuvenil.

Entre os avanços mais notáveis, estão as pesquisas conduzidas em parceria com o Hospital Infantil Sabará, que apontam uma relação direta entre fatores ambientais e climáticos e a saúde respiratória de crianças. Os dados revelam como a poluição, a variação de temperatura e outras mudanças ambientais vêm impactando, de maneira crescente, o bem-estar e o desenvolvimento saudável da infância.

Um dos estudos mais recentes conduzidos pelo Instituto Pensi ganhou destaque internacional ao ser publicado na Journal of Global Health. A pesquisa é liderada pelo William Cabral de Miranda, que coordena o Núcleo de Geoprocessamento e Ciências de Dados da instituição. O trabalho analisou a relação entre fatores ambientais — como poluição do ar, temperatura e umidade relativa — e os atendimentos de crianças com doenças respiratórias. Os resultados chamam atenção: dias com concentrações elevadas de material particulado fino (PM10), originado principalmente do tráfego urbano e de fontes industriais, foram associados ao aumento de atendimentos pediátricos. Em períodos de ar seco, a gravidade dos quadros clínicos foi ainda maior, resultando em hospitalizações.

Paralelamente, outra frente dessa linha de pesquisa vem sendo conduzida pelo Núcleo de Doenças Respiratórias e Alérgicas, sob coordenação do Gustavo Falbo Wandalsen. O foco é a bronquiolite em lactentes — uma das principais causas de internação hospitalar em bebês. O objetivo do grupo é investigar se variações ambientais, como mudanças bruscas de temperatura, baixa umidade ou má qualidade do ar, influenciam diretamente a gravidade dos casos atendidos no pronto-socorro e nas enfermarias do Hospital Infantil Sabará. Embora os estudos ainda estejam em andamento, os pesquisadores reforçam a importância de compreender a interação entre clima, poluição e saúde respiratória para embasar políticas públicas mais eficazes e estratégias de prevenção voltadas à infância. Por meio dessa produção científica, o Instituto Pensi se posiciona como referência nacional no debate sobre os impactos das mudanças climáticas e da urbanização acelerada na saúde das novas gerações.

Outro ponto crucial que merece atenção no debate sobre mudanças climáticas é a realidade brasileira, onde a desigualdade social atua como um potente agravante. Essa conexão é evidenciada no artigo científico “Under Fire: A Brazilian Perspective on Climate Change and Child Health”, publicado na revista científica Sustainability. O estudo traz uma análise contundente sobre como eventos extremos — como ondas de calor, secas, enchentes e queimadas — impactam diretamente a saúde infantil no país, especialmente entre populações em situação de vulnerabilidade. O artigo é resultado de uma discussão aprofundada realizada durante o Simpósio de Alterações Climáticas, parte do 7º Congresso Internacional Sabará-PENSI de Saúde Infantil, realizado em 2024. O encontro reuniu especialistas de diversas áreas para refletir sobre os desafios e caminhos possíveis frente à crise climática na infância.

Entre os principais efeitos mapeados estão o aumento de doenças respiratórias, a maior incidência de arboviroses como dengue e zika, riscos de desnutrição e até prejuízos no desenvolvimento neurológico infantil, especialmente em contextos de desastres ambientais. O estudo também aponta que as desigualdades estruturais — como o acesso precário a serviços de saúde, saneamento e moradia — potencializam esses riscos, tornando crianças de comunidades vulneráveis mais expostas e menos protegidas.

Como resposta, o artigo defende a implementação de políticas públicas integradas que aliem adaptação e mitigação. Entre as recomendações estão o manejo sustentável do território, o fortalecimento do monitoramento ambiental, a ampliação da cobertura e capacidade dos sistemas de saúde e a criação de programas educativos voltados à proteção das infâncias diante das mudanças do clima.

Para avançar ainda mais no campo das evidências e fortalecer a atuação frente aos desafios climáticos, o Instituto Pensi tem investido em parcerias estratégicas com instituições de excelência. Um exemplo marcante é o recente acordo de cooperação firmado com a Universidade de São Paulo (USP), por meio da Cátedra Clima e Sustentabilidade do Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP).

A iniciativa reúne nomes de referência nacional e internacional nos campos da saúde pública e das ciências do clima, como o Arlindo Philippi Jr., o climatologista Carlos Nobre, e a geógrafa Ligia Vizeu Barrozo. Representando as instituições parceiras, participam também o Paulo Saldiva (USP) e William Cabral (Instituto Pensi), reforçando a integração entre ciência ambiental e saúde infantil. Entre as frentes de trabalho propostas estão estudos sobre os impactos das ondas de calor na saúde de crianças em São Paulo e outras regiões do Brasil, além do desenvolvimento de um Índice de Vulnerabilidade da Saúde Humana às Mudanças Climáticas — ferramenta que poderá orientar políticas públicas e estratégias de prevenção em nível nacional. A parceria também prevê a organização do próximo Simpósio de Alterações Climáticas e Saúde Infantil, que acontecerá no dia 31 de outubro de 2025, reunindo especialistas para discutir soluções concretas voltadas à proteção das novas gerações.

 

*Gustavo Cabral é imunologista PhD pela USP, pós-doutor pela Universidade de Oxford, Inglaterra e pós-doutor sênior pelo Hospital Universitário de Bern, Suíça.

 

Fonte: ICL Notícias

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