Crianças não são adultos em construção: a importância de olhar para seus sentimentos desde cedo
Crianças não são apenas adultos em construção com problemas menores. Elas são seres completos, que sentem e sofrem de maneira intensa, muitas vezes sem conseguir nomear suas emoções. “As crianças sofrem de boca fechada, mas com o corpo cheio de expressões. Se não forem observadas com cuidado, essas manifestações podem ser mal interpretadas”, explica Bianca Bolonhezi.
Muitas vezes, comportamentos infantis como timidez, birra ou irritabilidade são vistos apenas como “chatices”, enquanto na verdade podem ser sinais de ansiedade, depressão ou outros transtornos. “A criança com medo de monstros no quarto, a criança retraída após o divórcio dos pais, ou aquela que demonstra hiperatividade e dificuldade de dormir devido a um TDAH — todas merecem ser enxergadas como inteiras, e não apenas rotuladas pelo comportamento”, afirma a especialista.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), metade dos transtornos mentais que se manifestam na vida adulta têm início antes dos 18 anos. Além disso, entre 8% e 15% das crianças e adolescentes sofrem de algum transtorno mental, muitas vezes recebendo punição, bronca ou até agressão, em vez de acolhimento e compreensão.
“Dizer que criança não sofre de transtorno mental beira negligência. Precisamos escutar, acolher e ensinar essas crianças a nomear seus sentimentos. Isso pode evitar situações potencialmente traumáticas e transformar vidas”, alerta Bianca.
A psiquiatra reforça a importância de atenção e cuidado: “Se você é pai, mãe, cuidador, professor ou lida com crianças diariamente, observe os sinais. Aquela irritabilidade ou birra pode não ser apenas uma manha. Cuidar cedo não é exagero, é prevenção e acolhimento”.