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Retorno ao trabalho após o câncer de mama: como cuidar da saúde física e emocional

Redação23 de outubro de 202511min0
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Médico e executivo de Pessoas e Cultura explicam os principais desafios da volta ao ambiente corporativo, o impacto na autoestima e a importância do apoio psicológico nesse processo

O câncer de mama é o mais frequente entre as mulheres em todo o mundo, respondendo por aproximadamente 2,3 milhões de novos diagnósticos em 2020, o equivalente a cerca de um quarto de todos os casos de câncer registrados no público feminino. Os dados são do Ministério da Saúde e, em recente atualização em referência ao Outubro Rosa, indicam que no Brasil a projeção para 2025 é de 73.610 novos casos da doença. Nesse contexto, a volta ao trabalho após o tratamento do câncer de mama é também um acontecimento importante na vida de muitas mulheres, pois marca a retomada das atividades cotidianas após a vitória da doença.

Para além de um sinal de superação, esse momento traz desafios físicos, emocionais e sociais que exigem atenção tanto das pacientes quanto das empresas. Segundo especialistas, o período de reinserção profissional deve ser conduzido com cuidado, empatia e suporte multidisciplinar para garantir qualidade de vida e bem-estar, e políticas públicas e iniciativas que assegurem direitos e acolhimento no ambiente de trabalho tornam-se fundamentais.

No Brasil, o tema tem ganhado atenção do poder público e um Projeto de Lei (PL 4294/24) propõe garantir estabilidade temporária no emprego para trabalhadoras diagnosticadas com câncer de mama. Segundo o texto, o vínculo empregatício seria mantido por até 12 meses após o término do auxílio-doença. A proposta, que modifica a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e a Lei de Benefícios da Previdência Social, ainda está em análise e precisa ser aprovada tanto pela Câmara quanto pelo Senado para entrar em vigor.

Quais são os cuidados físicos necessários para o retorno ao trabalho?

Após o tratamento, o corpo ainda passa por adaptações e necessita de acompanhamento contínuo. Roberto Filho (CRM/RS: 57598), médico da área de Clínica Médica do AmorSaúde, rede de clínicas parceiras do Cartão de TODOS, destaca que “a paciente deve manter consultas regulares com seu oncologista e equipe multiprofissional. É fundamental realizar fisioterapia ou exercícios leves para prevenir linfedema, manter a mobilidade do braço e melhorar a força muscular”.

O profissional acrescenta que uma alimentação equilibrada e o respeito aos limites físicos são essenciais. “A alimentação rica em frutas, vegetais e proteínas magras, junto com hidratação adequada, contribui para a recuperação. Outro ponto importante é evitar esforços excessivos e adotar pausas durante a jornada de trabalho”, afirma. Segundo Filho, entre os fatores que influenciam o retorno, pode-se citar:

1) Tipo de tratamento: cirurgias, quimioterapia e radioterapia podem exigir diferentes períodos de recuperação e adaptação.

2) Estado de saúde: cada paciente reage de forma diferente ao tratamento, com alguns podendo retornar ao trabalho mais cedo e outros necessitando de mais tempo.

3) Conceito de fragilidade: a doença pode gerar sequelas físicas ou cognitivas, exigindo que a empresa adapte a função ou realoque o colaborador.

Como evitar complicações

Durante o retorno à rotina, o médico ressalta ser importante adotar medidas que reduzam o risco de complicações. De acordo com Filho, “a prevenção envolve adesão ao tratamento hormonal (quando indicado), controle de fatores de risco como obesidade, tabagismo e sedentarismo, e acompanhamento clínico periódico”. No ambiente de trabalho, pequenas adaptações também fazem diferença:

  • Ajustes ergonômicos e redução de atividades físicas extenuantes;
  • Pausas regulares durante o expediente;
  • Rotina de sono adequada e estratégias para controle do estresse;
  • Prática de atividade física moderada, associada a menor risco de recidiva tumoral.

Adaptação aos desafios cognitivos e emocionais

De acordo com o médico, o tratamento contra o câncer de mama pode impactar energia, foco e concentração, afetando o desempenho profissional. “Quimioterapia, hormonioterapia e radioterapia podem gerar fadiga crônica, déficit de atenção e lapsos de memória. Para se adaptar, recomenda-se dividir tarefas em etapas menores, priorizar atividades mais complexas em horários de maior energia e manter pausas programadas”, orienta o médico.

Além disso, Filho reforça a importância do cuidado mental. “Estratégias como higiene do sono, exercícios físicos regulares e técnicas de relaxamento auxiliam no desempenho. Em alguns casos, o acompanhamento com neurologista ou psicólogo pode ser indicado para suporte cognitivo”, completa.

Sinais de sobrecarga física ou emocional

Segundo o médico, identificar os limites é fundamental para evitar agravamentos. “Os principais sinais incluem fadiga persistente, dor ou inchaço no braço afetado, dificuldade para realizar tarefas simples, lapsos de memória frequentes, irritabilidade, ansiedade e insônia”. Emocionalmente, sentimentos como medo da recidiva, baixa autoestima e isolamento social também merecem atenção. “A observação atenta desses sintomas permite intervenção precoce e evita agravamentos”, ressalta o médico.

Filho ressalta que, para além dos cuidados físicos, o retorno à vida profissional exige acolhimento e empatia. “O acompanhamento psicológico é essencial para lidar com medo de recorrência, alterações de imagem corporal e impacto na autoestima”, afirma.

A importância do acolhimento nas empresas

De acordo com Rennan Vilar, diretor de Pessoas e Cultura do Grupo TODOS Internacional, o papel das lideranças e do RH é determinante nesse processo. “A volta ao trabalho após o tratamento exige escuta ativa e empatia. Cabe às lideranças compreender que cada colaboradora tem um tempo diferente de readaptação e que acolher essas particularidades é um ato de humanidade, não de concessão”, diz.

Vilar reforça que políticas de flexibilização de jornada, mentorias internas e programas de saúde emocional são medidas eficazes.”Quando a empresa adota práticas que equilibram produtividade e bem-estar, ela não apenas contribui para a recuperação da colaboradora, mas fortalece toda a cultura organizacional”, complementa.

Para o diretor, o apoio dos colegas também é parte essencial da retomada. “Para ser mais leve, nenhum tratamento deve ser enfrentado sozinho, e o mesmo vale para o retorno. Quando o time demonstra empatia e acolhimento, a colaboradora sente que pode recomeçar com segurança e confiança”, conclui.

A fim de garantir um retorno tranquilo para a colaboradora, o executivo orienta três ações práticas que podem ajudar.

1) Converse com o empregador: mantenha um diálogo aberto e sincero sobre suas necessidades e o que pode ser adaptado no ambiente de trabalho.

2) Planeje o retorno: converse com colegas e gerentes antes do retorno para informar sobre suas condições e como se sente confortável para ser tratado.

3) Busque apoio: a interação social com colegas pode ajudar a reduzir o isolamento, mas se sentir ansiedade, converse com pessoas de confiança antes.

“Com informação, apoio psicológico e empatia dentro das empresas, o retorno ao trabalho pode ser não um desafio solitário, mas uma oportunidade de recomeço com mais consciência, equilíbrio e valorização da vida”, finaliza Vilar.

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