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Brasil tem plano para adaptar sistema de saúde às mudanças climáticas

Redação27 de outubro de 20259min0
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Reorganização da rotina das unidades de saúde e hospitais em períodos de calor extremo estão entre as medidas

O Brasil vai apresentar na COP30, a conferência de clima da ONU (Organização das Nações Unidas), em Belém, um plano inédito de adaptação do setor de saúde às mudanças climáticas. Entre as medidas previstas, está a reorganização da rotina das unidades de saúde e hospitais em períodos de calor extremo. Estão sendo estudados novos horários de atendimento, escalas de descanso e protocolos clínicos para ajustar doses de medicamentos devido ao aumento das temperaturas.

“Se as ondas de calor se tornarem mais constantes, os serviços terão de mudar. Não dá para manter o mesmo horário de atendimento se sair à rua entre meio-dia e 16h se tornar arriscado para a população”, diz a epidemiologista Ethel Maciel, de 56 anos, enviada especial do Brasil para a conferência e ex-secretária de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde.

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), a crise climática responderá por cerca de 250 mil mortes anuais de 2030 a 2050 por desnutrição, malária, diarreia e estresse térmico. Estima-se que os serviços de saúde arcarão com custos de US$ 2 bilhões a US$ 4 bilhões por ano para responder aos desafios.

O projeto, batizado de Plano de Ação para a Saúde de Belém, foi elaborado em parceria com a OMS e pretende mobilizar a comunidade global em prol da construção de sistemas de saúde resilientes ao clima e ambientalmente sustentáveis.

Ele se estrutura em três eixos centrais: fortalecimento da vigilância e monitoramento, preparação dos serviços e dos profissionais, e estímulo à inovação sustentável na cadeia produtiva da saúde.

O primeiro eixo trata da criação de uma vigilância climática e sanitária integrada, capaz de cruzar dados da saúde e do meio ambiente. A proposta é que estados e municípios possam identificar com antecedência riscos, como ondas de calor, aumento da poluição, mudanças na qualidade da água e proliferação de doenças vetoriais.

“Até o ano passado, o Brasil não tinha um painel que relacionasse poluição do ar e indicadores de saúde. Agora temos, e isso muda tudo, porque informação é o ponto de partida para criar políticas públicas eficazes”, diz Ethel, que também é professora titular da Universidade Federal do Espirito Santo.

A integração dos dados ambientais e de saúde é vista como estratégica diante de episódios recentes, como o das enchentes no Rio Grande do Sul e as queimadas no Pantanal.

A ideia é que, com base nesses alertas, sejam criados protocolos de resposta rápida, por exemplo, suspensão temporária de atividades ao ar livre quando os níveis de material particulado ultrapassarem limites seguros, como já ocorre em cidades europeias.

O segundo eixo do plano aborda a preparação dos serviços de saúde para enfrentar condições ambientais extremas, com políticas baseadas em evidência. Além de garantir estrutura física adequada, será necessário treinar equipes para lidar com emergências ligadas ao calor, às queimadas e às inundações.

Segundo Ethel, o Brasil ainda é incipiente na formação de profissionais para enfrentar esses desafios. “Nossos currículos de medicina e enfermagem quase não abordam o tema das mudanças climáticas. Só em 2024 o Ministério da Saúde publicou o primeiro protocolo sobre clima e saúde.”

Algumas doenças já apresentam mudança no perfil, como é o caso do vírus oropouche, que ficava concentrado na região amazônica e se espalhou pelo Brasil. E da dengue, que atinge hoje países que não tinham registro da doença, como Uruguai e Itália.

O Rio de Janeiro desenvolveu o primeiro protocolo municipal de resposta ao calor após a morte de uma jovem durante um show da cantora Taylor Swift em 2023, um modelo que já inspira outras cidades. “O caso serviu de alerta e acabou virando referência nacional”, afirma Ethel.

Com base nesse sistema, que integra dados climáticos e da saúde, é possível prever que temperaturas acima de 40°C aumentam os atendimentos em unidades de saúde, assim como níveis mais elevados de poluição do ar.

O terceiro eixo do plano propõe repensar a cadeia produtiva do setor, um dos três mais poluentes do mundo. “A saúde usa muito plástico, gera resíduos e consome energia intensamente. Precisamos rever processos industriais e incentivar o uso de energias renováveis”, afirma Ethel.

O Brasil, diz ela, tem condições de liderar essa transição. “Estamos fortalecendo o complexo econômico-industrial da saúde. Se as novas plantas industriais já nascerem com menor pegada de carbono, o impacto será enorme.”

Entre as medidas estudadas estão o desenvolvimento de medicamentos e imunobiológicos mais estáveis, capazes de resistir a variações de temperatura, e a revisão de embalagens plásticas e materiais descartáveis usados em larga escala.

O Adapta-SUS, versão nacional do plano, pretende incorporar as ações de adaptação ao orçamento dos estados e municípios. Hoje, essa rubrica não existe.

Setor privado

O envolvimento do setor privado da saúde também será fundamental. “Precisamos planejar o sistema como uma rede única, pública e privada, pensando rotas de evacuação, estoques de medicamentos e protocolos de crise.”

A própria COP30 em Belém está servindo de teste prático para as ações de preparação, segundo ela. O Ministério da Saúde instalou ali um centro de emergências sanitárias e está conduzindo simulações de resposta a surtos e emergências, aproveitando eventos como o Círio de Nazaré para testar protocolos.

“Um evento dessa dimensão é sempre um risco sanitário. Assim como ideias circulam, vírus e bactérias também viajam com as pessoas. Por isso estamos treinando equipes e testando fluxos desde o ano passado”, diz.

O Ministério Público Federal já acendeu o alerta para a possibilidade de um colapso na rede de saúde de Belém durante a COP30, quando é estimada chegada de cerca de 50 mil visitantes. Segundo Ethel, profissionais de diversos estados foram escalados para reforçar o atendimento durante a conferência.

Após a COP, o desafio será fazer o plano sair do papel. “Precisamos que isso chegue às cidades, às escolas de saúde, à vida real.” Para ela, o clima mudou, e a saúde precisa mudar junto. “O que está em jogo é a nossa capacidade de continuar cuidando das pessoas num planeta cada vez mais quente.”

Fonte: Itatiaia

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