ONU alerta: mundo caminha para até 2,5°C de aquecimento até o fim do século
Mesmo com os compromissos climáticos atuais em vigor, o planeta continua no rumo de um aquecimento entre 2,3°C e 2,5°C até o fim do século, segundo alerta divulgado nesta terça-feira (4) pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). O relatório indica que, dez anos após o Acordo de Paris, o mundo segue distante da meta de conter o aumento da temperatura global em 1,5°C — limite considerado crucial para evitar impactos climáticos extremos.
De acordo com o documento, apenas 60 países, que respondem por 63% das emissões de gases de efeito estufa, atualizaram suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) até setembro de 2025. Todos os signatários do Acordo de Paris tinham a obrigação de revisar seus planos neste ciclo, mas a ONU afirma que o resultado ficou “muito aquém do necessário”.
As NDCs são o principal instrumento do Acordo de Paris e definem as metas de cada país para reduzir emissões. No caso do Brasil, por exemplo, o compromisso prevê cortar 53% das emissões até 2030 e alcançar a neutralidade de carbono até 2050. Ainda assim, mesmo com novas promessas, as projeções globais mudaram pouco: a estimativa de aquecimento caiu de 2,6–2,8°C em 2024 para 2,3–2,5°C agora — diferença de apenas alguns décimos.
Segundo o Pnuma, essa leve melhora se deve mais a ajustes metodológicos do que a ações concretas. A situação tende a piorar com a saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, prevista para janeiro de 2026, o que deve anular parte do pequeno avanço obtido.
O relatório destaca que a chamada “lacuna de emissões” — diferença entre o que os países prometem cortar e o que realmente é necessário para conter o aquecimento em 1,5°C — permanece praticamente inalterada desde 2015. “As nações tiveram três tentativas para cumprir o que prometeram e erraram o alvo”, afirmou Inger Andersen, diretora-executiva do Pnuma.

Emissões recordes e desmatamento em alta
O relatório também confirma que 2024 registrou o maior volume de emissões da história, com 57,7 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa liberadas na atmosfera — um aumento de 2,3% em relação a 2023. O avanço foi impulsionado por todos os setores, mas teve como principal causa o desmatamento e as mudanças no uso da terra, responsáveis por mais da metade do crescimento.
As emissões de CO₂ provenientes de combustíveis fósseis subiram 1,1%, reflexo da alta demanda energética e da lentidão na transição para fontes renováveis. O G20 concentrou 77% das emissões globais, com Índia e China liderando os aumentos absolutos e a Indonésia apresentando o crescimento proporcional mais acelerado. A União Europeia foi a única grande economia a registrar queda.
Segundo o Pnuma, sete países do G20 devem alcançar suas metas para 2030, enquanto nove estão fora do rumo. Poucos, porém, têm planos viáveis para atingir a neutralidade até meados do século.
A meta de 1,5°C está cada vez mais distante
Com as atuais políticas, a ONU prevê que o planeta ultrapassará o limite de 1,5°C já na próxima década, tornando o retorno a níveis mais seguros extremamente difícil. Para reduzir apenas 0,1°C de aquecimento, seria necessário remover e armazenar o equivalente a cinco anos de emissões globais atuais, algo inviável com as tecnologias disponíveis hoje.
O relatório estima que, para alinhar-se ao Acordo de Paris, o mundo precisaria cortar 25% das emissões até 2030 para limitar o aquecimento a 2°C, e 40% para 1,5°C, em relação aos níveis de 2019. No entanto, mesmo com total implementação das novas metas, a redução prevista é de apenas 15% até 2035 — três vezes menos do que o necessário.
“O problema não é técnico, é político”, adverte o texto, que aponta a falta de vontade política, limitações financeiras e desigualdade na responsabilidade climática como os principais entraves. Apesar de avanços tecnológicos, como a queda do custo da energia solar e eólica, o Pnuma ressalta que o clima político global é cada vez mais desafiador.
Um caminho estreito para reverter o aquecimento
Mesmo diante do cenário sombrio, a ONU apresenta um cenário alternativo, chamado de “ação de mitigação rápida a partir de 2025”, em que as emissões globais começariam a cair imediatamente. Essa trajetória limitaria o “excesso” de aquecimento a 0,3°C, com 66% de probabilidade de o planeta retornar a 1,5°C até 2100.
Para isso, seria necessário reduzir as emissões em 26% até 2030 e 46% até 2035, combinando esforços tecnológicos e naturais de remoção de carbono. O próprio relatório, no entanto, reconhece que essa resposta exigiria cooperação internacional sem precedentes e uma profunda reformulação do sistema financeiro global — algo que, até agora, segue fora do horizonte político mundial.
Fonte: ICL Notícias








