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Dezembro Verde acende alerta sobre abandono de animais no fim de ano

Redação4 de dezembro de 20259min0
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Campanha combate aumento de casos em período de viagens, quando tutores deixam pets em abrigos com justificativas questionáveis

Dezembro chegou. Para a maioria das famílias brasileiras, é tempo de planejar a ceia, comprar presentes e organizar as viagens de férias. Mas, nos bastidores de clínicas veterinárias e abrigos, o clima é de apreensão. É neste mês que ocorre a campanha Dezembro Verde, um movimento de conscientização criado justamente porque, estatisticamente, é também tempo de adeus forçado para milhares de cães e gatos.

história de Gwen, uma gata que viveu 18 anos com a mesma família, virou um símbolo de indignação nas redes sociais no final de novembro. A tutora, recém-mãe, decidiu se desfazer do animal sob a alegação de que a bebê havia desenvolvido alergia. Gwen foi entregue ao Abrigo MeiMei, onde sua situação — a velhice somada ao descarte — expôs a ponta de um iceberg de irresponsabilidade animal que atinge seu pico justamente agora.

Enquanto milhões de brasileiros se preparam para o Natal e as férias, a vida de incontáveis pets se torna um problema: “não tem com quem deixar”, “não tem espaço”, “não tem tempo”, “fica muito caro”. O pet, que viveu anos como membro da família, vira despesa e peso. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 30 milhões de animais estejam hoje largados nas ruas brasileiras, um número chocante para o terceiro maior mercado pet do mundo.

Conversamos com especialistas para entender as dimensões dessa problemática, desde as justificativas para o abandono até a importância da adoção responsável.

A alergia como pretexto: Gwen não é a única

No caso de Gwen, a tutora pelo menos evitou o abandono direto na rua. No entanto, a responsável pelo Abrigo MeiMei, Lorena Tuxen, revela que a “alergia em criança” é um argumento frequente e questionável. “A gente nunca viu um diagnóstico real de pessoas com alergia ao trazerem um animal para cá”, revelou Lorena. “Muita gente acha cômodo, porque sabe que o abrigo cuida e a pessoa não tem um apego emocional ao animal a ponto de se preocupar com como ele se sente abandonado. Tem uma mentalidade de pet como se fosse quase um objeto”, acrescentou.

A ciência corrobora a desmistificação. A Dra. Júlia Damásio Coutinho, pediatra, alergista e imunologista pediátrica, explicou que o diagnóstico de alergia ao animal, mesmo em crianças, raramente significa que o pet precisa ser removido de casa. “Estudos mostram que entre 30% e 50% das pessoas que acreditam ter alergia a animais não têm alergia verdadeira”, afirmou a presidente do Departamento Científico de Alergia e Imunologia pela Sociedade Mineira de Pediatria.

Mesmo em casos confirmados, a medicina moderna oferece alternativas como a imunoterapia (vacinas de alergia), medicamentos e um rigoroso controle ambiental (uso de purificadores de ar, aspiradores com filtro HEPA, banhos e escovação frequentes no pet) que permitem a convivência. “A retirada do pet é necessária apenas em uma minoria dos casos e deve ser considerada quando as opções terapêuticas se esgotarem”, reforça a médica.

A situação de Gwen, que chegou sem vacinas, sem exames básicos e com os pelos emaranhados após 18 anos de convivência, é um indicativo de que a tentativa de adaptação e cuidado pode ter sido negligenciada em prol da “solução mais fácil”.

Dezembro e o crime do abandono

O clima de festa e mala pronta se choca com a dura realidade de abrigos lotados. O Dr. Bruno Divino Rocha, médico-veterinário e diretor do Hospital Veterinário do Uniarnaldo, confirma que o número de abandonos dispara no final do ano. “O principal motivo são aquelas famílias que vão viajar e não têm onde deixar o animal”, relatou o veterinário, que também apontou problemas pelo medo dos fogos de artifício e a dificuldade em cuidar de animais idosos ou doentes como outros fatores que levam ao abandono.

Lorena, do Abrigo MeiMei, complementa que o problema é cultural: as pessoas não veem o animal como um membro da família com direitos e sentimentos. “No final do ano, isso aumenta muito, e os pedidos de adoção também diminuem, porque as pessoas que têm responsabilidade sabem que vão viajar e preferem adotar quando têm mais tempo”, pontuou a jovem, que além de ser responsável pelo abrigo para gatos trabalha como designer e social media, e é estudante de Farmácia.

Abandonar um animal, além de cruel, é crime, com as consequências previstas pela Lei Sansão, que completou 5 anos em 29 de setembro de 2025. “Maus-tratos contra cães e gatos hoje, depois da Lei Sansão, é crime”, alertou o Dr. Bruno. Ele também ressalta que veterinários não realizam eutanásia por conveniência — como em casos de viagem ou mudança —, pois isso configura infração ética e legal.

O preço da irresponsabilidade: depressão e morte

Para o animal, o abandono é um trauma profundo e muitas vezes fatal. A crença popular de que “gatos não se apegam” é desmentida pela dura realidade dos abrigos. “O gato adoecer quando chega aqui é quase rotina. A gente já teve diversos casos de gatos que faleceram de estresse, de depressão”, lamentou Lorena. Segundo ela, em um dos casos, um gato “simplesmente parou de comer” e “desistiu de viver” após ser abandonado.

O Dr. Bruno Rocha reforçou que o estresse do abandono eleva o cortisol, comprometendo a imunidade do animal e agravando sua saúde física e comportamental. “O cortisol, que vão aumentar a possibilidade de doenças, esse animal vai ter um agravamento do quadro clínico e do quadro comportamental quando ele está abandonado, então tem riscos e tem prejuízos, consequências físicas importantes e emocionais muito, muito importantes”, destacou o veterinário.

Adoção responsável e presentes de Natal: um alerta

O Dezembro Verde é um lembrete urgente sobre a importância da adoção responsável. Não basta achar um pet “lindo” no dia 25 de dezembro. Dar um pet de presente sem essa conscientização é uma das grandes portas giratórias para o abandono. É fundamental avaliar se há estrutura, tempo, rotina, condição financeira e estabilidade emocional para cuidar de um animal por 10, 15 ou 20 anos.

Lorena Tuxen resume a essência do compromisso que muitos tutores esquecem. “As pessoas precisam se lembrar que, a partir do momento que adotam, o animal é responsabilidade delas até o último dia de vida. Se eu precisar me mudar e não encontrar uma casa que aceita criança, eu vou doar o meu filho? Não, é impossível pensar nisso. Você criou um compromisso com essa vida. O animal sente a dor da separação e pode morrer por isso”, declarou.

Fonte: O Tempo

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