Dezembro Vermelho: mês de prevenção, testagem e combate ao estigma do HIV


Dezembro Vermelho é uma data definida para reforçar os compromissos da sociedade no combate ao HIV. O objetivo não é somente lembrar da importância do diagnóstico e do tratamento, mas também enfrentar o estigma e o preconceito que ainda cercam o HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs). Criada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), a campanha propõe um momento de reflexão sobre ações necessárias para reduzir o impacto da pandemia de HIV e Aids no mundo.
Atualmente, a situação do HIV no Brasil é estável. Em algumas regiões há tendência de queda, enquanto outras registram aumento. No geral, as taxas de incidência têm se mantido sem grandes oscilações nos últimos anos.
Segundo o infectologista Guenael Freire, “não há uma transmissão descontrolada, mas também ainda não observamos uma queda robusta no número de casos novos”.
Prevenção combinada e tratamento como proteção
As formas de prevenção seguem uma estratégia multimodal. O preservativo continua sendo uma excelente forma de prevenção, mas faz parte de um conjunto maior de ações de prevenção combinada.
Um ponto importante é o conceito indetectável = intransmissível. Quando a pessoa vive com HIV, está em tratamento e atinge carga viral indetectável, ela não transmite o vírus, mesmo sem preservativo. “Se diagnosticarmos e tratarmos essas pessoas, não haverá mais transmissão”, afirma o infectologista.
O desafio ainda é alcançar os 10% a 15% das pessoas que vivem com HIV e não sabem. Para isso, o especialista reforça que a testagem deve ser feita independentemente de sintomas, em laboratórios, farmácias, CTAs ou postos de saúde.
Testagem conforme o risco epidemiológico
De acordo com o infectologista, a frequência do teste varia conforme o risco epidemiológico. Para quem tem múltiplos parceiros, a recomendação é testar a cada seis meses.
Há também a PrEP, medicamento preventivo com eficácia superior a 90% quando usado diariamente. Disponível nas redes pública e privada, ela se soma ao preservativo e a outras estratégias de prevenção.
Quem tem risco muito baixo deve fazer o teste pelo menos uma vez na vida. Pessoas com risco elevado precisam manter a rotina semestral.
Sintomas pouco evidentes no início
Segundo o especialista, identificar sintomas nas fases iniciais é difícil. Nos primeiros anos, muitas pessoas não apresentam sinais claros. Podem ocorrer mal-estar e ínguas (linfonodos inchados) persistentes, mas nada que motive a realização de um teste.
Por isso, a estratégia de tratamento se baseia no risco e não nos sintomas. Com o avanço da infecção sem tratamento, a imunidade enfraquece e surgem quadros mais graves, como perda de peso, diarreias prolongadas, pneumonias, febres persistentes, tuberculose e meningite.
Mesmo nesses casos, muitos pacientes conseguem ter a imunidade recuperada após iniciar o tratamento.
Tratamento garante vida normal
Os antirretrovirais atuais oferecem qualidade de vida. O medicamento é gratuito, tem poucos efeitos colaterais e é distribuído na rede pública e privada. Em um ou dois comprimidos ao dia, é capaz de zerar a carga viral.
“Não é uma cura, mas permite uma vida totalmente normal e com expectativa igual à da população geral”, informa Guenael.
Tratar quem já foi diagnosticado também é forma de prevenção, pois impede que a pessoa adoeça e interrompe a cadeia de transmissão.
Quebra do estigma é essencial
O estigma ainda afeta profundamente quem vive com HIV e também quem precisa fazer exames de ISTs. A ideia de que testagem implica julgamento moral é um dos principais obstáculos.
“Faz parte da saúde sexual realizar testes de rastreio. Isso não é tabu nem motivo para preconceito”, reforça o infectologista.
O especialista explica que um diagnóstico precoce em uma pessoa assintomática faz com que o paciente dificilmente tenha alguma complicação advinda do HIV. Ela pode ter outras complicações decorrentes de doenças crônicas às quais todos estamos sujeitos, como pressão alta, diabetes, obesidade, mas isso é normal do processo de envelhecimento, e não em consequência da infecção pelo HIV.
Quem tem risco maior pode usar a PrEP. E quem receber diagnóstico positivo deve saber que existe tratamento eficaz, com poucos efeitos colaterais e alta qualidade de vida.
Fonte: Itatiaia


















