Minas Gerais registra um caso de coqueluche a cada 16 horas e lidera os casos da doença no país


Minas Gerais lidera os casos de coqueluche no país em 2025. Dados do Ministério da Saúde mostram que, até 3 de dezembro, houve 528 registros, o que representa uma média de um caso da doença a cada 16 horas ou três casos a cada dois dias. São Paulo, segundo estado com mais casos confirmados, teve 427. Desde 2023, o número de diagnósticos vem apresentando crescimento em Minas. Naquele ano, foram computados 14 casos e nenhuma morte. Já em 2024, o total saltou para 872 ocorrências e três óbitos, conforme dados do Ministério da Saúde.
Em Belo Horizonte, a situação segue a mesma tendência. Em 2023, a capital não registrou casos da doença. Em 2024, no entanto, foram confirmados 377 diagnósticos e uma morte. Até a primeira quinzena de dezembro deste ano, Belo Horizonte contabilizava 153 casos de coqueluche, segundo a Secretaria Municipal de Saúde. Os dados abrangem todas as faixas etárias.
Para especialistas, a baixa na cobertura vacinal contribui para o aumento no número de casos. Já a gravidade da enfermidade tem relação com a demora no diagnóstico, uma vez que os sintomas são semelhantes aos de diversas infecções respiratórias.
“Em 2024, tivemos um aumento importante de coqueluche no Brasil, provavelmente resultado das baixas coberturas vacinais a partir de 2016, que se intensificaram durante a pandemia. Agora, em 2025, a gente vê uma melhora do quadro (com redução do número de doentes em relação ao ano passado). Mas ainda preocupa muito a cobertura das gestantes. A vacinação das mães é responsável por transferir anticorpos para o bebê”, explica o epidemiologista da rede Hermes Pardini, José Geraldo Leite Ribeiro.
Em 2023, por exemplo, a cobertura vacinal em Minas Gerais estava em 90,65%, conforme o Ministério da Saúde. Em 2024, caiu para 88,85%. Até setembro deste ano, o índice voltou a subir e alcançou 105,63%, percentual que ocorre quando o número de doses aplicadas é superior à estimativa do público-alvo. O índice preconizado pelo Ministério da Saúde é de 95% do público alvo.
Na capital, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, em 2023, a cobertura da vacina pentavalente estava em 72,1%. Nos dois anos seguintes, respectivamente, o índice subiu para 84,5% e 84,2%.
As consequências da redução dos índices de imunização, porém, podem perdurar. “A experiência que temos mostra que, após dois anos de redução na cobertura vacinal, as doenças começam a circular mais. Por isso, é fundamental manter a vacinação em níveis elevados de forma contínua. A coqueluche não é uma doença passível de erradicação, apenas de controle. Ela sempre preocupa, porque, no primeiro trimestre de vida, é uma enfermidade gravíssima, com alta taxa de letalidade”, detalhou o especialista.
O médico infectologista Leandro Curi explica que, mesmo imunizada, a pessoa pode contrair a bactéria Bordetella pertussis, causadora da coqueluche. “A vacina permite escapes imunes, ou seja, não oferece 100% de proteção. A vacinação reduz a circulação da bactéria, mas algumas pessoas ainda podem adoecer. Quando isso ocorre em indivíduos vacinados, os sintomas tendem a ser mais leves, com menor risco de letalidade. As vacinas funcionam e reduzem a transmissão”, garante.
O médico alerta ainda para a dificuldade no diagnóstico da doença, que apresenta sintomas semelhantes aos de outras infecções respiratórias. “Uma tosse persistente pode levar o médico a suspeitar de tuberculose. Na fase inicial, a doença pode se assemelhar a uma sinusite. A semelhança dos sintomas torna o exame clínico fundamental”, detalha.
Como é feita a imunização
A vacinação ocorre da seguinte forma: são aplicadas três doses da vacina pentavalente (DTP + Hib + hepatite B) aos 2, 4 e 6 meses de vida. Em seguida, são administrados reforços com a DTP aos 15 meses e aos 4 anos de idade. Na fase adulta, o imunizante dTpa (tríplice acelular do adulto) é indicado para gestantes a partir da 20ª semana de gravidez.
“Tossia até perder o fôlego”
Aos 58 anos de idade, a pensionista Andrea Martins ainda se lembra da tosse incessante que enfrentou ao contrair a doença aos 7 anos. “Tossia até perder o fôlego. Eu peguei e minha prima pegou de mim, mas ela era bebê, tadinha. Ficava tossindo muito. A gente tossia tanto que até provocava vômito”, relembra.
Extremamente contagiosa, a coqueluche é transmitida para outras pessoas geralmente por meio de gotículas respiratórias. Para bebês, a doença pode ser letal, mas, em adultos não vacinados, também oferece riscos. Por isso, segundo o médico infectologista Estevão Urbano, a melhor forma de prevenção é a vacinação.
“Ela é transmitida por tosses e espirros, mas também pode ocorrer transmissão pelas mãos, quando a pessoa entra em contato com gotículas presentes em superfícies e, sem higienizar as mãos, leva-as à boca, podendo se contaminar”, detalhou.
Saiba quais são os sintomas da coqueluche
Os sintomas clássicos da coqueluche, segundo Urbano, começam de forma semelhante a um resfriado comum, evoluindo ao longo de dias ou semanas, com tosse cada vez mais intensa, acompanhada de secreção nas vias aéreas.
“Principalmente em recém-nascidos, a tosse pode se tornar tão intensa que leva à asfixia e pode persistir por vários meses. A doença pode causar fraturas nas costelas e até hemorragias intracranianas. Além disso, pode gerar complicações secundárias causadas por outras bactérias, que levam à pneumonia ou à asma. Se houver produção de toxinas e elas atingirem a circulação sanguínea, outros órgãos podem ser afetados. São diversas as complicações, e, por isso, a prevenção por meio da vacinação é fundamental”, recomendou.
Ele destacou ainda que a vacina “perde o efeito” com o passar dos anos e que, por isso, evitar o contato com crianças recém-nascidas é essencial. Para crianças e gestantes, o imunizante é oferecido pelo SUS. Para adolescentes e adultos fora do público-alvo, a vacina pode ser encontrada na rede particular.
A reportagem demandou o governo de Minas sobre ações relacionadas à prevenção da coqueluche, mas, até a publicação desta matéria, o estado não havia se posicionado.
O que diz a PBH
A Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) informou que acompanha a situação e oferece, conforme recomendação do Ministério da Saúde, em caráter excepcional e temporário, a aplicação da vacina contra a coqueluche para grupos específicos. O imunizante dTpa, que protege contra difteria, tétano e coqueluche, está sendo aplicado em profissionais da saúde que atuam nas áreas de ginecologia, obstetrícia e pediatria, além de doulas e trabalhadores de berçários e creches com crianças de até 4 anos.
A medida ocorre em razão do aumento de casos da doença em países da Europa e da África. As doses estão disponíveis nos 153 centros de saúde e no Serviço de Atenção à Saúde do Viajante.
Situação vacinal no país
A cobertura vacinal em todo o país também esteve abaixo do preconizado pelo Ministério da Saúde, mas apresentou recuperação nos anos seguintes. Em 2023, a cobertura da dTpa, aplicada em gestantes, chegou a 80,27%, subindo para 97,86% no ano seguinte e atingindo 96,41% em 2025. A Prefeitura de Belo Horizonte informou que, no município, a cobertura vacinal em gestantes neste ano está em 107,13%.
Fonte: O Tempo


















