Setor cafeeiro do Brasil projeta melhor safra em 2026 após ano de queda no volume exportado


O setor cafeeiro do Brasil entra em 2026 com expectativa de recuperação da produção, após encerrar 2025 com queda no volume exportado, mas com receitas cambiais históricas impulsionadas pela alta dos preços internacionais. Conforme o setor, as projeções dependem, sobretudo, das condições climáticas nos primeiros meses do ano.
“Nós entramos em 2026 com esperanças de uma safra melhor, dependemos de um estado crítico, que é o enchimento de grão, que acontece agora em janeiro e fevereiro, então, torcemos para que as chuvas sejam regulares nesse período”, afirma o diretor-geral do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Marcos Matos.
De acordo com ele, mesmo com uma eventual ampliação da oferta, os preços tendem a permanecer em patamares remuneradores. Matos avalia que, apesar dos desafios enfrentados ao longo de 2025, o setor chega ao novo ciclo preparado. “Finalizamos 2025 com desafios, com senso de dever cumprido e de vitória, e estamos preparados para 2026.”
Minas também aposta em ciclo mais favorável
Em Minas Gerais, principal estado produtor de café do país, a expectativa é semelhante, embora ainda não haja estimativas oficiais de produção para 2026. A analista de agronegócio da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Ana Carolina Gomes, afirma que a tendência é de uma safra superior à deste ano. “Imaginamos que ela tende a ser melhor do que a de 2025, porque ano que vem há uma safra de ciclo alto, que a gente chama de bienalidade positiva”, evidencia.
A analista ressalta, no entanto, que o desempenho final dependerá das condições climáticas. “A gente tem percebido algumas adversidades do clima que vêm deixando incerto o aproveitamento de todo esse potencial. Então a gente precisa aguardar as etapas de crescimento do grão agora no final do ano, janeiro e fevereiro principalmente, para ter uma estimativa melhor de como será a safra.”
Sobre o mercado externo, Ana Carolina diz que “há um grande déficit nos estoques mundiais, o que pode estimular e demandar o café brasileiro e mineiro”. Segundo ela, as exportações podem ser mantidas ou ampliadas, a depender do volume colhido. “Em condições de safra maior, obviamente as exportações tendem também a crescer em volume.”
2025 fecha com menos café exportado e receita histórica
Conforme o setor, o balanço de 2025 reflete os efeitos do desempenho recorde registrado no ano anterior. Em 2024, o Brasil exportou 50,5 milhões de sacas de café, o maior volume da história, o que reduziu a disponibilidade interna no ciclo seguinte. “Entramos em 2025 com menor disponibilidade de café, com menores níveis de estoques e também tivemos uma saca 2025 colhida e beneficiada em menor volume que a saca 2024”, explica Marcos Matos, diretor-geral do Cecafé.
Entre janeiro e novembro de 2025, as exportações brasileiras somaram 36,8 milhões de sacas, uma queda de 20% em relação ao mesmo período do ano anterior. A menor oferta, porém, elevou os preços. “O preço médio ao longo desses meses de exportação foi US$ 387 por saca, que é 60% a mais do que no mesmo período de 2024”, afirma o diretor.
Com isso, as receitas cambiais atingiram níveis inéditos. No acumulado de janeiro a novembro, o Brasil arrecadou 14,3 bilhões de dólares com as exportações de café, valor 25% superior ao registrado no mesmo intervalo do ano anterior e maior do que todo o faturamento de 2024. Segundo Matos, esse montante equivale a cerca de 80 bilhões de reais. “O Brasil é o país que mais repassa o preço de exportação ao produtor, quanto maiores volumes, maior agregação de valor, maior renda no campo, maior prosperidade”, destaca.
De acordo com o Marcos, o café também figurou entre os cinco maiores produtos agropecuários em valor bruto da produção, com R$ 114 bilhões, de acordo com dados monitorados pelo Ministério da Agricultura. “Essa produção mostra a importância econômica, social e ambiental da cafeicultura, que é majoritariamente da agricultura familiar”.
Em Minas Gerais, o desempenho seguiu a tendência nacional, com queda no volume exportado, mas avanço no faturamento. “A gente teve um decréscimo no volume exportado, porém em receita, esse valor foi superior ao ano anterior”, enfatiza Ana Carolina Gomes, analista da Faemg.
Desafios marcaram o ano
Além das questões de oferta, 2025 foi marcado por desafios tributários, logísticos e comerciais. Matos citou os impactos da reforma tributária, dificuldades logísticas ao longo do ano e o chamado tarifaço dos Estados Unidos. Entre agosto e novembro, segundo ele, os prejuízos chegaram a 55% das vendas para o mercado norte-americano, o maior consumidor e importador global de café.
Apesar da retomada parcial dos embarques, o setor ainda enfrenta entraves no café solúvel, que segue com tarifa de 50% no mercado dos Estados Unidos. “Estamos trabalhando com as outras associações, com o Ministério de Relações Exteriores, com a nossa Embaixada, com o Ministério de Desenvolvimento e a nossa contraparte nos Estados Unidos, para que essa taxa também caia para o solúvel já no começo de 2026”, conclui.
Fonte: O Tempo

















